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Quando negacionistas morrem
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Quando negacionistas morrem

Até que ponto os negacionistas que têm morrido de Covid-19 são vítimas do discurso do qual foram convencidos e passaram a propagar? E até que ponto são algozes de outros tantos?
Tipo Opinião
Michelle Bolsonaro com caixas gigantes de cloroquina, ivermectina e nitazoxanida (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução Michelle Bolsonaro com caixas gigantes de cloroquina, ivermectina e nitazoxanida

De forma cada vez mais tristemente frequente, surgem notícias do agravamento do quadro por Covid-19 ou mesmo da morte de pessoas que adotavam posturas negacionistas, minimizavam a doença, rejeitavam determinadas vacinas e, sobretudo, apostavam em tratamentos heterodoxos e sem respaldo científico. Essas notícias, claro, não se resumem a quem fez pouco da gravidade da situação. Há casos graves e mortes de pessoas de todos os tipos, pensamentos e concepções numa tragédia como esta. Mas, quero falar da particularidade da doença quando acomete os negacionistas, e as reações que isso desperta.

Talvez você tenha conhecidos e familiares nessa situação: faziam um discurso, fundamentalmente político, sobre a pandemia que foi tragicamente desmentido pela doença. A Covid-19 tem muitos, incontáveis aspectos cruéis. Um deles está até nessa fissura na solidariedade quase inerente ao luto. Nesta semana foi o enfermeiro Anthony Ferrari Penza, que ganhou fama ao divulgar informações falsas sobre vacinas e defender tratamentos heterodoxos. A reação quase automática acaba por ser a percepção de que foram vítimas do próprio discurso que propagavam. É um sentimento triste, o que não significa que esteja errado. É uma reação dura, o que não significa que não seja até mesmo necessária.

Por difícil que seja, esses casos acabam, da pior maneira, tendo o papel pedagógico de contraponto ao discurso antipedagógico tantas vezes apregoado por tais pessoas. Chegou-se ao ponto de rejeitarem publicações científicas de referência, autoridades de saúde, organizações científicas. Tudo desacreditado em nome da crença fanática de um ideário propagado por alguns políticos, religiosos ou políticos-religiosos. Não adianta os pesquisadores apontarem estudos sérios e profundos a desmentir essas teses. Não adianta publicações científicas negarem. Não adiantam as entidades da área se posicionarem. Muita gente não dá ouvidos a nada disso e segue o político e o religioso que nunca estudaram 15 minutos sobre o assunto. Lamentavelmente, às vezes só quando é demonstrada com a própria vida a ineficácia de determinadas soluções mágicas é que algumas pessoas se convencem. Outras vezes, nem assim.

Infelizmente, faz parte que os negacionistas, quando vítimas da doença, sirvam de exemplo. Porque eles não são as únicas vítimas. O discurso que propagam faz com que muita gente sofra, muita gente morra.
Uma coisa sobre a qual me pergunto é até que ponto eles também não são vítimas. Quantas pessoas não foram ludibriadas e seduzidas por um discurso, que nada tem a ver com saúde. Ontem, em viagem oficial, a primeira-dama Michelle Bolsonaro tirou foto com caixas gigantes de cloroquina, ivermectina e nitazoxanida. A questão do tal tratamento precoce não é debater a melhor alternativa terapêutica para a Covid-19. O discurso subjacente é apontar que existe uma saída fácil e simples para a pandemia. E, assim sendo, ela não é assim tão grave. Portanto, medidas duras de saúde seriam perda de tempo. Esse é o coração desse discurso letal.

Até que ponto as pessoas que se tornam cadeia de transmissão dessas ideias são também algozes? E até que ponto são vítimas ao serem acometidas de uma doença que julgavam fácil debelar?

Obviamente há gradações. Tem gente sem instrução e há quem tenha diplomas até da própria área. Há os políticos, as personalidades públicas. E há os familiares, que levam essa questão à intimidade e à afetividade.

Alguns fazem disso plataforma politiqueira. Outros são sinceramente convencidos. Infelizmente, as receitas mágicas para vencer a Covid-19 são sucessivamente desmoralizadas pela dor de quem aderiu a elas. De modo de fazer o Brasil motivo de troça na Assembleia Nacional da França. Para muitas famílias, não é motivo de riso, mas de muita dor. Que ao menos a lição seja aprendida.

Do PT Ciro só quer distância e o ex-marqueteiro

Ciro Gomes (PDT) tem dito que não se alia nunca mais ao PT. Ao PT nacional, porque do PT no Ceará ele é aliado há 15 anos. Mas, bem, inimigos, inimigos, negócios à parte. O veto não se aplica ao ex-marqueteiro do PT, , nem haveria por quê. Se Duda Mendonça foi o homem da chegada do PT ao poder — após anos trabalhando com Paulo Maluf —, João Santana atuou do auge à decadência do regime lulo-dilmista. Ontem, Ciro e o PDT anunciaram a contratação de Santana. Conhece do ramo. Mais que a campanha de 2014, na qual não teve escrúpulos ou limites, fez um trabalho notável na eleição de Fernando Haddad (PT) prefeito de São Paulo, em 2012.

Santana chega ao cirismo não sem antes tem feito afago ao pedetista. Em entrevista Roda Viva, no ano passado, ele defendeu Ciro para presidente com Lula vice. Ainda antes, ele fez delação premiada apontando pagamentos fraudulentos da Odebrecht, valendo-se das campanhas de Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014), articulados por Antonio Palocci e Guido Mantega.

Santana fechou as portas com o petismo. Tendo no currículo campanha até para Nicolás Maduro, na Venezuela, não seria fácil entrar pela direita. Ciro se tornou o melhor mercado ao alcance dele.

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