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De quem é a culpa por faltar vacina?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

De quem é a culpa por faltar vacina?

Ministério da Saúde já foi e voltou nas orientações sobre a vacina
Tipo Opinião
No fim de abril, quando o Estado passou por desabastecimento da CoronaVac, multidão buscou locais de vacinação em Fortaleza para receber segunda dose. (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita No fim de abril, quando o Estado passou por desabastecimento da CoronaVac, multidão buscou locais de vacinação em Fortaleza para receber segunda dose.

Fortaleza e vários municípios do Ceará e do Brasil vivem um absurdo. Pessoas que estão na data-limite para se vacinar não estão sendo vacinadas. Falta vacina. De quem é a culpa?

Em 21 de março, o Ministério da Saúde autorizou estados e municípios a usarem imediatamente as doses armazenadas. No início, 50% das vacinas eram reservadas para a segunda dose. Se chegavam 100 doses, eram vacinadas 50 pessoas. As outras 50 doses ficavam reservadas para garantir que não faltassem no momento da segunda dosagem.

No mês passado isso mudou. Em uma pressa, que eu compreendo, de vacinar o máximo possível de pessoas, o Ministério disse que não precisava para guardar. A pasta disse na época ter recebido garantia do Butantan e da Fiocruz da previsão de entrega das novas vacinas. Àquela altura, o ministro Marcelo Queiroga já estava anunciado no comando da Saúde, mas só seria empossado dois dias depois, em 23 de março. Foi oficialmente um dos últimos atos da gestão Eduardo Pazuello, aquele que seria craque em logística. Em 6 de abril, Queiroga reforçou a orientação. Vão lá, usem todas todas as vacinas que vai dar certo. As outras chegarão em tempo hábil. Adivinha só? Não chegaram.

Quando foi segunda-feira agora, o Ministério mudou de novo a orientação. O Butantan não entregou doses nesta semana. Informou que agora a orientação é guardar parte do estoque para as segundas doses. Mas, os estoques já estavam eram acabando. Não tinha mais o que guardar.

O resultado foi o que se viu ontem: filas, aflição, dúvidas. Houve uma corrida a locais de vacinação. A Prefeitura de Fortaleza avisou já tarde na quarta-feira que apenas os agendados deveriam comparecer à vacinação. Antes, a orientação era para quem estivesse na data-limite da segunda dose comparecer. Parece que contaram as doses meio tarde e se deram conta da escassez.

Sabe o que houve quando as pessoas souberam que não deveriam ir porque estava faltando dose? Elas foram mais rápido ainda.

Conjunção de erros

Parece-me claro que houve problema com o Butantan. O valoroso Butantan, patrimônio da ciência brasileira, só por causa dele temos vacinas em quantidades minimamente razoáveis. Mas, segundo o Ministério, ele havia se comprometido a garantir uma entrega que não conseguiu. Não sei quando o Ministério ficou sabendo. Mas, a informação ao público chegou tarde.

Claro que entendo que o Ministério queira vacinar o quanto antes, nem que seja para tirar um pouquinho do atraso decorrente do que deveria ter sido feito lá atrás e não foi. E entendo que tenha orientado a aplicar as doses diante da garantia do Butantan. Também entendo que as prefeituras tenham seguido o que orientou o Ministério.

Porém, parece-me que faltou precaução. Ainda que não se estocasse 50%, mas uma margenzinha de doses para o caso de atraso se poderia ter. Vamos combinar: esse problema não é uma surpresa. Dava para esperar atraso nas entregas, falta de segunda dose.

Mas, entendo as pressões. Inclusive denúncias que muita gente vinha fazendo de que gestores estavam mandando não aplicar as vacinas. Onde estão agora esses que reclamaram, que denunciaram as vacinas em estoque?

Uma patacoada desse tamanho não se constrói sozinha. Precisa ter muita gente fazendo errado.

E está evidente: o Brasil se esmera em cometer todos os erros que há para ser cometidos nessa vacinação. Gente morre por isso.

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