400 mil mortos e o cálculo do vendedor de hambúrguer
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
400 mil mortos e o cálculo do vendedor de hambúrguer
Quando o Brasil supera tais marcas de mortes por Covid-19, lembro das palavras do dono da Madero, de que o País não poderia parar por cinco mil ou sete mil mortos. Gostaria de saber se ele tem um número, ou acha que a economia deve seguir morra quem morrer. Os que foram às ruas se manifestar neste sábado parecem entender assim
O que aconteceu conosco como civilização? Lembro de quando quatro mortes numa chacina era algo que nos assombrava. Nessa pandemia mesmo, quando chegamos a mil mortos. A marca de 400 mil soa de uma banalidade monótona. Morreu mais gente de Covid-19 que a população de qualquer município do Ceará, fora Fortaleza. Nenhuma outra cidade do Ceará chega a 400 mil habitantes. Caucaia, de áreas populosas como Jurema, Nova Metrópole, Potira, tem 365 mil pessoas. Imagine toda a população de Caucaia dizimada em um ano. O Brasil vivencia isso. E tem gente agindo como se estivesse tudo bem. Como se a anormalidade fosse decretos de prefeitos e governadores. Não fosse isso, a vida estaria normal.
Nessa escalada macabra da contagem dos mortos pela Covid-19, lembro-me sempre das palavras do empresário Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero. Em vídeo publicado em 23 de março do ano passado, ele dizia: "O país não aguenta, não pode parar dessa maneira. As pessoas têm que produzir e trabalhar. Não podemos (parar) por conta de cinco (mil) ou sete mil pessoas que vão morrer. Isso é grave, mas as consequências que vamos ter economicamente no futuro vão ser muito maiores do que as pessoas que vão morrer agora com o coronavírus."
Naquela data, o Brasil tinha 34 mortos. Todos em São Paulo ou Rio de Janeiro. Hoje, o País contabiliza cinco mil a sete mil mortos em 48 horas. O empresário disse que o Brasil não podia parar por isso. Pergunto-me qual número ele acha que justificaria a paralisação das atividades econômicas.
Para muita gente em Fortaleza e pelo Brasil que saiu ontem em protestos contra o isolamento, parece-me claro que não se justifica parar a economia nem por cinco mil, nem por sete mil, nem por 400 mil.
Desconfio que, para eles, número nenhum justifique deixar de gerar dinheiro. Morra quem morrer.
Destas pessoas eu teria pena se não tivesse medo.
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