Logo O POVO+
O Datafolha e a estratégia de Ciro
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O Datafolha e a estratégia de Ciro

Senador Eduardo Girão (Podemos-CE) (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Senador Eduardo Girão (Podemos-CE)

Afinal, discute-se muito nas últimas horas, os números colhidos pelo instituto Datafolha acerca da disputa presidencial de 2022 são assim tão ruins como alguns acreditam para os planos eleitorais de Ciro Gomes? É difícil imaginar o contrário ao vê-lo muito distante do bloco da polarização onde estão, lá em cima, Lula (41%) e Bolsonaro (23%), com o pedetista estacionado em tímidos 6% de intenções de voto e embolado até com gente que sequer como pré-candidato deve mais ser apresentados a essa altura, casos do ex-juiz Sergio Moro e do apresentador Luciano Huck. A posição de Ciro, portanto, está distante do estágio de confortável.

Pesquisa, é natural, vai sendo interpretada de acordo com o desejo de cada ator político envolvido e de seus porta-vozes. Nos relatórios de leitura dos números que circulam em mãos da cúpula pedetista, por exemplo, a ideia que se vende é de que o Datafolha aponta um caminho interessante por explorar favoravelmente, pelos números brutos e naqueles que aparecem quando há um mergulho mais profundo nos detalhes por trás dos quais escondem-se informações importantes dentro de um levantamento tão completo quanto este.

Um dado interessante que a equipe de Ciro aponta para ser percebido é que parte do apoio agora manifesto a Luiz Inácio da Lula compõe o que se chama na linguagem técnica dos analistas de "voto mole". Ou seja, daquele cansado antibolsonarista que enxerga hoje no petista a maior possibilidade de se livrar do presidente, mas, numa próxima etapa, poderia ser atraído para o bloco de Ciro. O cálculo feito no PDT é de que cerca de 20 pontos do que Lula apresenta de intenção de voto teria tal perfil e pode ser conquistado numa etapa seguinte. O diabo, olhando de novo para os detalhes, é a história de precisar antes de mostrar-se viável numa votação de primeiro turno, coisa que o pedetista não conseguiu nas experiências anteriores, muito menos aponta perspectiva de fazê-lo em 2022 na projeção que a pesquisa recém divulgada aponta.

A ordem agora, já nas redes sociais sendo executada, é de ampliar e intensificar os ataques e provocações a Lula e ao PT. Inclusive, acusando-o de pensar pouco no País e fazer corpo mole no combate a Bolsonaro por acreditar que enfrentá-lo seja o trajeto político mais curto para voltar à presidência. O problema das estratégias de Ciro das últimas eleições é que a candidatura dele sempre parece forte para o segundo turno - este Datafolha mesmo o mostra 12 pontos à frente de Bolsonaro numa simulação entre os dois -, mas não consegue juntar apoios e votos na primeira etapa, onde a caminhada eleitoral necessariamente começa. E, nesse caso, não existe atalho possível.

A CPI QUE O SENADOR ATACA E INTEGRA

O senador cearense Eduardo Girão briga desde o começo da CPI da Covid para, segundo seu cuidadoso discurso, garantir que a investigação do que aconteceu no Brasil em torno do combate à pandemia seja ampla e apartidária. Ou seja, adverte, eventuais erros ou irregularidades praticadas em gestões municipais e estaduais precisam estar no mesmo plano de preocupação das investigações dos parlamentares, evitando transformar o governo federal em alvo único. Perfeito e justo. Independente, como o tempo todo faz questão de se autodefinir, o senador do Podemos precisa apenas moldar sua ênfase. Na fase de debates tensos de ontem, nada grave ou que sequer se aproxime do "vagabundo" pra cá e pra lá do dia anterior entre Renan Calheiros e Flávio Bolsonaro, ei-lo, em dado momento, acusando a CPI de ter "caído no descrédito do povo brasileiro". Talvez esteja dando eco exagerado ao que lhe chega como reação das redes sociais por onde circula, já que, com erros e acertos, exageros e espetáculos, a CPI, ao contrário, está sendo acompanhada com grande interesse pela sociedade. Como, aliás, há tempos não acontecia no Congresso Nacional. Valeria até uma pergunta diante do que ele próprio constata e enfatiza: o que faz o senador permanecer numa CPI que, conforme denuncia, não tem mais a confiança da população?

 

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?