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Base de Bolsonaro não o abandonará, pois não tem opção
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Base de Bolsonaro não o abandonará, pois não tem opção

Aliados do presidente sentiram o baque do recuo, mas seguirão apoiando porque não têm alternativa
Tipo Opinião
Manifestação de apoio a Bolsonaro em Fortaleza, no 7 de setembro (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Manifestação de apoio a Bolsonaro em Fortaleza, no 7 de setembro

No fim da tarde de ontem, a base do presidente Jair Bolsonaro entrou num frisson diferente daquele vivido no 7 de setembro. O presidente tentou desfazer muitas das impressões criadas nas manifestações. Insuflou a multidão na terça-feira e, na quinta, jogou água gelada. Disse não ter tido intenção de fazer o que fez no 7 de setembro. Falou que agiu "no calor do momento".

Ora, os manifestantes que foram às ruas saíram de casa exatamente para aquilo. Não teve calor de momento. Foram semanas de articulação para aquilo mesmo. Aliás, muitos esperavam que Bolsonaro fosse ainda mais contundente. Os caminhoneiros claramente não queriam ficar por ali. E aparece Bolsonaro com esse recuo? Foi uma decepção para eles.

Vão abandonar Bolsonaro? Coisa nenhuma. Porque eles não têm alternativa. Essa base radicalizada não tem opção. Bolsonaro é o único a oferecer o que eles esperam. Ninguém entra nas brigas mais sem sentido, como ele, ninguém é capaz de encampar tantas teses absurdas, as teorias da conspiração mais descabidas. Ninguém, como ele, é capaz de defender qualquer coisa, por mais desprovida de fundamento que seja.

Sergio Moro, por exemplo, nunca ofereceu isso. Foi o juiz que condenou Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que fez dele o herói máximo para muitos conservadores. Porém, Moro não está dia e noite nas redes sociais municiando milícias (virtuais), agitando plateias, brigando com quem pode, fustigando instituições, arengando com a esquerda, combatendo moinhos de vento do comunismo. Moro é comportado demais, limpinho demais para essa gente. Não há nada como Bolsonaro.

Por isso ele pode fazer seus malabarismos retóricos, suas idas e vindas. Não é a primeira vez. Bolsonaro segue em seu permanente morde e assopra. Bate e depois veste o figurino mal-ajambrado de moderado. Nunca tinha feito semelhante recuo porque nunca tinha ido tão longe, ameaçando, cobrando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e dizendo não mais obedecer a ministro da Corte. Afora a gradação de intensidade, é o método de Bolsonaro.

Coitado é de quem precisa defendê-lo com a mesma ênfase quando ele vai numa direção e quando segue no caminho oposto. Fingem haver lógica nos atos antagônicos e se portam como se estivessem entendendo, como se fizesse sentido.

No Ceará, o deputado estadual André Fernandes (Republicanos) cogitou, citando A Arte da Guerra, de Sun Tzu, que Bolsonaro se finge de despreparado e incapaz. Se assim for, temos um Laurence Olivier se perdendo na política.

Quanto ao recuo? Não há de ser nada. Na próxima ida ao cercadinho ele avança de novo. Não há e não haverá paz ou estabilidade com Bolsonaro.

Bolsonaro conduz o destino do Brasil, que segue sem rumo feito ele

A última parte da nota escrita por Michel Temer e que Bolsonaro assinou traz o lema dos fascistas do integralismo: “Deus, pátria, família”. A penúltima diz: “Conduzo os destinos do nosso Brasil.” Sim, conduz, por isso o País está sem rumo.

Num dia o presidente ameaça o Supremo. “Ou o chefe desse poder enquadra o seu, ou esse poder pode sofrer aquilo que não queremos.” Tem quem diga que isso não é ameaça. No outro dia, diz: “Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.”

Diz num dia: "Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou. Ele tem tempo ainda para pedir o seu boné e cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais." No outro: “Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.”

Bolsonaro está perdido e sem GPS enquanto conduz o Brasil, nem sabe ele para onde, nem sabemos nós. Ou é melhor não saber.

Foto do Érico Firmo

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