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Esquerda e evangélicos contra jogos de azar
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Esquerda e evangélicos contra jogos de azar

A bancada cearense ficou bem dividida. Uma estreita maioria foi contra
Tipo Opinião
Texto-base foi aprovado na madrugada de ontem  (Foto: Paulo Sergio/Câmara dos Deputados)
Foto: Paulo Sergio/Câmara dos Deputados Texto-base foi aprovado na madrugada de ontem

A aprovação dos jogos de azar pela Câmara dos Deputados reuniu curiosa composição política. A bancada evangélica liderou a resistência. Com ela estavam PT e Psol. Republicanos, PSC e Patriota também orientaram voto contra. PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, assim como o Podemos, de Sergio Moro, liberaram as bases para votar como quisessem. O PDT de Ciro Gomes orientou voto a favor dos bingos, cassinos e do jogo do bicho.

A bancada cearense ficou bem dividida. A maioria foi contra: 10 votos. Houve 8 a favor. Nos que se opuseram, estavam do mesmo lado Capitão Wagner (Pros) e a bancada petista, além de dois dos seis pedetistas. Os contrários foram puxados pelos outros quatro votos do PDT.

A base do presidente

A disputa fundamental dos jogos de azar envolve duas bases do presidente Jair Bolsonaro: evangélicos e centrão. Aqueles a favor e estes contra. Se a proposta passar no Senado, Bolsonaro diz que veta. Mas, o partido dele não orientou voto contra. Se Bolsonaro vetar, o texto vota para o Congresso, que pode manter ou derrubar o veto.

Senado

O projeto ainda chegará ao Senado e já sofre oposição de um dos três senadores cearenses: Luis Eduardo Girão (Podemos). Ele disse que a Câmara aproveitou a guerra na Ucrânia para “passar a boiada dos jogos”.

Ímã para enrascada

Quando chegou ao poder, o presidente Jair Bolsonaro (PL) falava de tirar a ideologia da política externa brasileira. Dificilmente ela teve algum momento tão ideologizado quanto nos últimos três anos e dois meses. Riscou do mapa o histórico pragmatismo diplomático brasileiro. Conseguiu indispor o País com China e com Estados Unidos, maiores parceiros comerciais. Com Argentina e União Europeia. Arrumou encrenca com os países árabes. O presidente não pode notar uma enrascada internacional que corre para meter o Brasil.

Nesta dramática situação na Ucrânia, o Brasil não precisava estar enredado. Por causa de uma viagem extemporânea, o País entrou pela janela nessa crise mundial. E o presidente está decidido a não deixar sair da confusão. Na manhã de ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o Brasil respeita a soberania da Ucrânia e não concorda com a invasão. Bolsonaro disse que é uma "peruada" do vice e ainda analisará a situação. Nenhuma palavra de reprovação à agressão do País que recentemente visitou, nenhuma solidariedade aos ucranianos. Eis o lugar que a nação arrumou no mundo.

Bolsonaro não é bom em muitas coisas — quase nada, a rigor —, mas tem especial talento para enfiar o País em problemas que não lhes dizem respeito. Antes de tomar posse, criou crise diplomática ao anunciar que iria transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Despertou assim a ira dos países árabes, dos maiores parceiros do agronegócio brasileiro. Os Estados Unidos têm embaixada em Jerusalém, mas têm tamanho para essa encrenca. O objetivo de Bolsonaro era atender à base evangélica do presidente — volta-se ao mesmo ponto. O Brasil se meteu numa enrascada que não é dele e na qual não tem motivo para se envolver. Resultado: diante do barulho, o plano não foi adiante. A embaixada segue até hoje em Tel Aviv. No fim das contas, Bolsonaro desagradou árabes e israelenses.

Bolsonaro prometeu tirar a ideologia da política externa. Nos últimos dias, a Venezuela declarou apoio a Vladimir Putin e Cuba disse que a Rússia tem o direito de "se defender", conforme classificou. Curioso que sejam eles ao lado do novo amigo de Bolsonaro.

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