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A CPI entre depoimentos e provas
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A CPI entre depoimentos e provas

A CPI precisa provar o envolvimento da associação em atividades ilegais. Se isso ocorrer, complicará bastante os parlamentares citados
Tipo Opinião
Atribulada reunião de ontem da CPI do Motim (Foto: Aurélio Alves / O POVO)
Foto: Aurélio Alves / O POVO Atribulada reunião de ontem da CPI do Motim

É sem dúvidas muito importante o depoimento do cabo da Polícia Militar Elton Regis do Nascimento à CPI do Motim na Assembleia Legislativa. Ele afirma de forma contundente que as decisões da Associação dos Profissionais de Segurança (APS) eram e são tomadas pelo triunvirato formado pelo deputado federal Capitão Wagner, deputado estadual Soldado Noélio e vereador Sargento Reginauro, todos do União Brasil. O depoimento materializa aquilo que o relator da CPI, deputado Elmano de Freitas (PT), já havia falado. O testemunho é forte, mas segue sendo um testemunho. Precisa ser provado.

Além disso, a parte mais importante. A CPI precisa provar o envolvimento da associação em atividades ilegais. Se isso ocorrer, complicará bastante os parlamentares citados. Mas, ainda que seja questionável, é fato que organizações de trabalhadores têm relações políticas e com políticos. Isso vale de sindicatos até federações de indústrias, de banqueiros a união de ruralistas ou movimento de sem-tetos. Obviamente, uma organização que reúne militares tem características mais delicadas, e tem restrições para existir.

De todo modo, segue valendo para o vínculo entre políticos e associações aquilo que vale para os cheques: é grave se houver vínculo com ilegalidade, se houver vínculo sobretudo com o motim. Caso consigam provar essa relação, o todo desmorona. Os cheques nas vésperas do motim são de fato suspeitos. Mas, é preciso de prova além da estranheza.

Na movimentada reunião de ontem da CPI, o ex-tesoureiro da Associação dos Profissionais de Segurança (APS), Rêmulo Silva de Oliveira, afirmou que os cheques foram uma precaução, diante da saída de Reginauro da presidência. Como as entidades estavam proibidas de se envolver na paralisação dos policiais, o vereador deixou a presidência. E o tesoureiro temia não conseguir movimentar dinheiro. Disse que os falados R$ 89 mil foram usados ao longo de meses. Tudo bem, mas, precaução no início de um movimento como aquele pode ser para deixar dinheiro livre para usar de maneiras diversas. A fala dele deixa claro que não foi coincidência e teve relação, sim, com o motim. O que não significa, necessariamente, que o dinheiro tenha sido usado para o motim. Esse é um desafio da CPI mostrar.

Capitão Wagner na CPI?

A oposição acusa a CPI de ter fins eleitoreiros com intenção de prejudicar a candidatura de Capitão Wagner a governador. Bem, pelo rumo que os trabalhos tomam, parece factível que o deputado federal venha a ser chamado a depor. A se confirmar, será bastante quente.

Os torturadores e o escárnio

A revelação de áudios de sessões do Superior Tribunal Militar (STM) escancaram de forma inédita a tortura ocorrida na ditadura militar e, sobretudo, o reconhecimento dessa tortura por autoridades das Forças Armadas. Como têm reagido as autoridades do Estado brasileiro? Deboche. Primeiro foi o general Hamilton Mourão (Republicanos), vice-presidente da República. “Apurar o quê? Os caras já morreram tudo, pô. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”. Ontem, o presidente do STM, general Luiz Carlos Gomes Mattos, conseguiu ser muito pior: "Não estragou a Páscoa de ninguém".

As dez mil horas de gravações de sessões do STM, reveladas pelo advogado e pesquisador Fernando Fernandes e pelo historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), revelam, por exemplo, aborto sofrido por Nádia Lúcia do Nascimento, por causa de "choques elétricos em seu aparelho genital". Mas, para o general Mattos, não estragou a Páscoa de ninguém. Um escárnio.

O general disse mais: "A gente já sabe os motivos, do por que isso vem acontecendo nesses últimos dias, seguidamente, por várias direções, querendo atingir as Forças Armadas, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, nós que somos quem cuida da disciplina, da hierarquia.” A questão não é porque os áudios vêm a público agora. A pergunta a ser feita é porque, após mais de 40 anos, só agora eles são conhecidos. O STM poderia ajudar a descobrir. Se não atrapalhar o feriado de Tiradentes.

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