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Atritos entre Ciro Gomes e o PT ecoam no Ceará
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Atritos entre Ciro Gomes e o PT ecoam no Ceará

Ciro disse que Lula é mentiroso, destrói as organizações partidárias, é responsável pela recuperação de Bolsonaro e não tem condição de tratar de corrupção. Já o petista José Guimarães diz que situação de Ciro no Ceará é, segundo ele, humilhante
Tipo Opinião
CIRO GOMES gosta de separar a situação do Ceará do panorama nacional (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA CIRO GOMES gosta de separar a situação do Ceará do panorama nacional

Espinha dorsal da base governista no Ceará, a aliança entre PDT e PT tem sido posta à prova pela postura crítica de Ciro Gomes (PDT) em relação ao PT, em particular Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Muita gente do PT tem engolido as críticas. Alguns se insurgem. Chegou a haver tentativas do ex-governador Camilo Santana (PT) para conter a língua de Ciro. Tarefa complicada. À medida que a eleição se aproxima, a tensão fica mais difícil de administrar.

Nesta quarta-feira, 20, em entrevista à Folha de S.Paulo e UOL, Ciro disse que Lula é mentiroso, destrói as organizações partidárias, é responsável pela recuperação de Jair Bolsonaro nas pesquisas em função do “salto alto”, e acrescentou que o petista não tem condição de discutir corrupção com Bolsonaro.

Pode-se concordar ou discordar de muita coisa. Por exemplo, Ciro afirma que Lula atropela os partidos nas articulações que faz, e ele, Ciro, diz respeitar as legendas. Mas, bem, olha a história partidária de um e de outro. Lula fundou um partido e segue nele há mais de 40 anos. Ciro está no sétimo partido. Por outro lado, realmente corrupção é um assunto que dificilmente Lula poderá cobrar de algum outro candidato. Nem digo isso presumindo que ele seja culpado ou inocente. Não há condenação hoje válida contra ele. Porém, daí a imaginar que ele possa confrontar um concorrente sobre esse tema, a distância é longa. A resposta viria pronta. É um assunto que atingiu muito o PT.

A questão que trago não é a razão que Ciro tenha ou deixe de ter. O fato é que ele segue tendo Lula como alvo preferencial, e isso ecoa na aliança no Ceará. Em entrevista à Revista Fórum, o líder da maior parcela do PT cearense, deputado federal José Guimarães, deu a medida do incômodo. Ele apontou a dificuldade que Ciro deve ter entre os eleitores do Ceará e classificou a situação de “inusitada” e “humilhante”. “Para você representar um projeto nacional tem de ter uma base”.

Ceará como caso à parte

Ciro sempre tratou o Ceará como questão à parte de seu projeto nacional. Ultimamente, repete que é assim e sempre foi desse jeito. Era o que acontecia, por exemplo, quando Eunício Oliveira (MDB) era o aliado preferencial, enquanto o então PMDB nacional era tratado com aquela famosa carga de insultos — em 2014, Eunício rompeu, deixou de ser exceção e entrou no mesmo balaio.

Bem, a dificuldade agora é que Ciro tem subido muito o tom em relação ao PT. De 2006 a 2014, a aliança local se repetiu no plano federal. Em 2010, Ciro até tentou ser candidato a presidente, mas o então partido, PSB, preferiu apoiar Dilma Rousseff (PT). Então, não tinha conflito. Em 2018, Ciro e o PT se enfrentaram. No segundo turno, o pedetista viajou para a Europa, a história conhecida. Cid Gomes (PDT) mandou a frase: “O Lula tá preso, babaca”. Mas, era mais tranquilo que agora. Naquele tempo, Ciro dizia coisas como: “(Lula) só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder”. Antes, sugeria sequestrar o petista e levá-lo a uma embaixada para não o deixar ser preso. Hoje ele vira e mexe chama Lula de bandido. O quadro mudou muito.

Caminho da aliança

Sobre a aliança no Ceará, Guimarães disse: "O PT lá [Ceará] tem uma opinião já bem consolidada que é em primeiro lugar manter a aliança. Manter a aliança a ferro e fogo? Não. Manter a aliança dentro de alguns critérios que para nós são fundamentais. Nós temos um caminho traçado. Vai dar certo ou não? Depende muito mais do PDT (...) Se tudo isso não der certo, se essa construção não se concretizar, eu falo pra vocês aqui com toda sinceridade e transparência, nós podemos sim ter candidatura ao governo do estado. Seria o plano B".

A chance de rompimento segue, parece-me, improvável. Mas, a possibilidade começa a surgir com cada vez maior recorrência. O cenário já foi mais tranquilo.

Foto do Érico Firmo

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