Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Como tem mostrado o colega Carlos Mazza, aqui no O POVO, o recurso contra o arquivamento da representação contra Ronivaldo Maia (PT) no Conselho de Ética da Câmara Municipal caminha para o naufrágio. O prazo termina amanhã. De nove assinaturas necessárias para entrar com recurso, há até agora quatro. São 43 vereadores. Não apareceram nove que achem que o processo precisa ser aberto para avaliar se houve ou não quebra de decoro.
O que fez Ronivaldo? Segundo a Polícia, avançou com o carro sobre uma mulher. Foi enquadrado por tentativa de feminicídio, o que a defesa contesta. O inquérito está tramitando.
No Conselho de Ética, o processo foi arquivado por quatro votos a um. O um voto foi da única mulher a participar, Cláudia Gomes (PSDB). A Câmara tem atualmente oito mulheres exercendo mandato. A bancada feminina seria quase suficiente para aprovar o recurso. As quatro assinaturas até agora são de dois homens e duas mulheres. Obviamente, a maior responsabilidade por não ser instaurado processo contra parlamentar suspeito de tentar feminicídio não é da minoria de mulheres. É dos 35 homens com mandato.
A Câmara age com cautela. Não quer punir um parlamentar antes de haver conclusão de inquérito, dos trâmites na Justiça. Querem evitar que haja punição política a quem eventualmente venha a ser inocentado na Justiça. É compreensível. Mas, é por isso que se entende que quebra de decoro é um juízo político e não jurídico. Se for esperar o trânsito em julgado, nenhum parlamentar terá o caso analisado no prazo do mandato de quatro anos.
O que se decide com o arquivamento não é se ele será ou não cassado. Isso é posterior. O arquivamento decide que a representação não é aberta no Conselho de Ética. O caso não é nem investigado. Diante da gravidade dos fatos, creio que isso é inaceitável. Ronivaldo só não está no mandato porque tirou mais uma licença. Vem assim desde o fim do ano passado. Se não, estaria no exercício, porque a Câmara não tomou atitude alguma quanto a isso. A licença por interesse particular — sem salário — terminou e agora é por motivo de saúde — com salário. Irá até quando? Espero, sinceramente, que a recuperação seja breve.
A esperança da Câmara parece ser que o assunto esfrie, seja esquecido. Que a Justiça julgue lá na frente, aí eles fazem algo, se for o caso. Desde o início, a postura tem sido essa. Ronivaldo é um parlamentar querido dos colegas — e isso pesa bastante. Isso mesmo se tratando de um vereador de oposição ao prefeito José Sarto (PDT). E nem a ala bolsonarista da Câmara quer ir contra o petista. O recado que a Câmara dá, mesmo diante de uma suspeita de feminicídio, é que não tomará nenhuma atitude contra qualquer dos membros por nada que eles façam. Pode ser reconfortante para todos os vereadores — e preocupante para o povo que eles devem representar.
O Bolsonaro zoeiro
A estratégia de redes sociais do presidente Jair Bolsonaro (PL) quer dar leveza à imagem dele. Uma tarefa e tanto. Quer torná-lo engraçadinho, cheio de tiradas. Falar com jovens e aliviar a percepção de que é um troglodita. Ontem, o social media trabalhou. Começou o dia ironizando a escola de samba Rosas de Ouro, que o apresentou se transformando em jacaré. "Que apresentação ruim kkkkkkkkkkkkkkkk. Valeu", publicou ele. Mais tarde, enquanto aliados comemoravam a perspectiva de Elon Musk comprar o Twitter, ele compartilhou matéria que mostrava àqueles que estão insatisfeito como desativar a conta.
O Bolsonaro afrontoso
O problema na imagem gaiata, entre outros, é o Bolsonaro real. O presidente de carne e osso segue a afrontar o Supremo Tribunal Federal (STF) e admite desobedecer à Corte caso não decida como ele espera sobre o chamado marco temporal para demarcar terras indígenas.
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