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Paranoia bolsonarista propaga o caos
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Paranoia bolsonarista propaga o caos

O bolsonarismo tem certeza de que tudo está armado para prejudicá-lo. O Judiciário, a imprensa, as pesquisas eleitorais. Tudo é uma grande trama contra eles
Tipo Opinião
Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e muitos de seus apoiadores mais próximos são bastante desconfiados. Há suspeita que leva à dúvida, dúvida que leva à desconfiança, desconfiança que conduz à insegurança, o que os coloca naquilo que o psicanalista Valton Miranda descreveu como "motor estrutural paranoico na práxis política", ao tratar do tema no livro A paranoia do soberano (Vozes, 1999).

Isso leva a manifestações como o que se chama "mania de perseguição", e leva às teorias conspiratórias. Esse comportamento passa de forma central pela ideia de inimigo, sentir-se ameaçado. A reação se dá de forma agressiva. Escrito na virada do século, o livro de Valton faz uma descrição que se torna espantosa ao observar o bolsonarismo hoje.

O bolsonarismo tem certeza de que tudo está armado para prejudicá-lo. O Judiciário, a imprensa, as pesquisas eleitorais. Tudo é uma grande trama contra eles.

A "velha política" e o Centrão estavam nisso também, mas agora são aliados. Porém, a rigor, Bolsonaro só parece confiar mesmo nas Forças Armadas, de onde vem. Por isso quer que caiba a eles contar em paralelo os votos da eleição.

Bolsonaro não acredita no sistema político que o elegeu. Queria instituir voto impresso e afirmava que, sem ele, não haveria eleição. Hoje diz que não precisa mais de voto impresso, mas quer as Forças Armadas na apuração.

O presidente e seu entorno deixam claro uma coisa: não aceitarão resultado que não for a vitória. Ocorre que um fundamento da democracia é que os participantes de um processo de eleição reconheçam aquele mecanismo como legítimo para tomar a decisão. Não é aceitável participar com a condição de que aceita se for vencedor, mas não aceita se perder.

Desde 2018, os aliados do hoje presidente diziam que, se ele não vencesse, é porque teria havido fraude. Até outro dia ele falava que tinha sido vítima de fraude, mesmo tendo sido eleito. Disse que tinha provas e ia mostrar, nunca apresentou, depois reconheceu que não tinha. Democracia é coisa muito séria para ser aviltada dessa forma.

O prazo para aprovar mudanças legais no processo eleitoral terminou há mais de seis meses. Há ritos legislativos para promover alterações. A base governista tentou estabelecer o voto impresso, legitimamente, e não conseguiu. Sem alterações aprovadas, as eleições seguem a ocorrer como vinham sendo. O sistema que elegeu Bolsonaro, vários governadores que o apoiavam, os filhos dele.

Movido pela paranoia, Bolsonaro lança suspeitas sobre as instituições democráticas e tenta semear o caos. Desacredita o que existe sem ser capaz de construir algo para o lugar.

Terceira via sem União Brasil

A tentativa de formar um bloco unificado de terceira via com MDB, PSDB, União Brasil e Cidadania sofreu desfalque da maior dessas siglas — o União. A legenda decidiu deixar o bloco, supostamente para lançar a candidatura a presidente de Luciano Bívar. Há muitas dúvidas se o projeto vinga.

Isso é importante para o Ceará porque o União Brasil é o partido de Capitão Wagner, nome hoje mais destacado da oposição estadual. Wagner declarou apoio a Bolsonaro, mas o partido pode tomar outro rumo.

O PL, partido de Bolsonaro, no Ceará está interessado em saber se Wagner apoiará mesmo o presidente, e de que forma. Se não, cogita ter candidato próprio.

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