Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A disputa sobre a segurança e o esquecimento de que as coisas mudam
No lugar de se pensar qual o modelo necessário, qual a vocação e o papel ideal de cada ente, eles ficam disputando o poder imediato. Os mandatos terminam no ano que vem
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
MINISTRO Lewandowski e governador Cláudio Castro
Negociações ao longo da terça-feira, 11, encaminharam alguns pontos de entendimento para a mudança legislativa acerca da segurança pública. A polêmica em torno do projeto envolve muito de exploração eleitoral. Todo mundo, ou quase, espera avanços nos combates a facções criminosas. Mas, entre haver melhorias graduais que podem projetar avanços no horizonte de — sei lá — uma década e vencer a eleição do próximo ano, o que você acha que nove entre dez políticos escolheriam? Dou a um o benefício da dúvida.
A equiparação de facções a terrorismo é puro palanque e animação de plateia em rede social. O que vai além disso é confusão conceitual e grave questão de soberania.
Mas o ponto a me chamar mais atenção, politicamente, é o embate que se estabeleceu entre atribuições do Governo Federal e dos estados. Em mais um debate público, os políticos demonstram que o hoje é o horizonte deles. Constróem marcos legais pensando nas conveniências de momento. Esquecem que a realidade muda e abdicam de consolidar instituições.
Bizarro conflito entre União e estados
A queda de braço, aparentemente solucionada, envolvia as prerrogativas da Polícia Federal e o papel dos estados. Desde as primeiras medidas contra o crime propostas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, governadores reclamam que haveria tentativa de tirar poder deles.
O contexto: Lula, principal líder da esquerda, é o presidente da República, enquanto nove dos dez estados mais ricos são conservadores.
No lugar de se pensar qual o modelo necessário, qual a vocação e o papel ideal de cada ente, eles ficam disputando o poder imediato. Os mandatos terminam no ano que vem...
Não era diferente quando o presidente era Jair Bolsonaro (PL), líder maior da direita. Com os governadores do Nordeste, todos na época oposição, travaram-se algumas brigas, notadamente na pandemia de Covid-19, sobre quem podia mais.
Neste espaço, defendo que o Governo Federal precisa entrar de cabeça e de forma decidida no enfrentamento à criminalidade. A regra tem sido a omissão. Com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com Jair Bolsonaro (PL), com Michel Temer (MDB), com Dilma Rousseff (PT) e com Lula das primeiras vezes. Cobro isso com Lula como cobrei desde que o presidente era o Temer.
O poder de hoje é a oposição de amanhã, eis a graça da democracia. Vale para a Presidência, vale para os estados, por mais que pareçam feudos. Quem governa esquece que sairá cedo ou tarde.
O necessário seria construir instituições de Estado, acima dos atores de momento. Parece pedir demais.
Do problema alheio ao patrocínio
O Governo Federal evitava se envolver na segurança porque era vista como problema menor. Esse negócio de pegar bandido, na maioria dos crimes, se resolve nas esferas locais. Não é mais assim.
Os governadores querem que a União participe. Mas, pelo discurso, parecem esperar apenas que pague a conta. Como no caso da mortífera operação no Rio de Janeiro. O Estado queria os blindados das Forças Armadas emprestados.
Tenho dúvidas se o Governo Federal — de qualquer presidente — vai querer entrar apenas com suporte material, sem participar da decisão.
Nem acho que a tese seja absurda. Pode-se reforçar o Fundo de Segurança Pública. Mas me parece pouco, aquém do papel necessário que a esfera federal precisa desempenhar.
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