Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Para quem acha que a violência será resolvida com a Polícia matando mais, a boa notícia é que, no Ceará, as forças de segurança nunca mataram tanto quanto em outubro
Foto: FÁBIO LIMA
MOVIMENTAÇÃO policial em Canindé após operação com 7 mortes
Ótima notícia para quem acredita que o caminho para ter mais segurança é a Polícia matar mais. Na série histórica da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), nunca houve um mês em que as ações tenham levado a tantos óbitos. Foram 41. Desde 2013, quando os dados passaram a ser divulgados, nunca houve um mês com tantas mortes provocadas por profissionais da segurança. O recorde sinistro anterior era de abril de 2020, com 35. Este ano, o máximo havido sido 19 em um mês, número registrado em março e, novamente, em julho. Não chegava nem à metade.
Pessoas acabarem morrendo é uma consequência possível do trabalho policial. O enfrentamento contra criminosos, muitas vezes armados, pode tornar imperativo o uso da força. Se a segurança e a integridade de agentes públicos estiverem em risco, eles têm o dever de se resguardar e reagir.
O problema é quando as pessoas — inclusive com mandato — começam a desejar que os policiais matem, sem nem mesmo conhecer as circunstâncias. Aliás, querem mesmo sem haver circunstância alguma. Não defendem o caso concreto, mas o princípio, em tese. O trabalhador sério, correto, ético e cumpridor do dever, tenho certeza de que este não sai de casa com expectativa de matar alguém.
No conceito dos que defendem a mortandade para haver mais segurança, o mês de outubro no Ceará deveria ter sido mais seguro. Mas foi o mais violento do ano. É possível — seriam necessárias mais informações e análise mais aprofundada dos casos — que a Polícia tenha matado mais porque houve mais violência. É uma relação mais lógica do que supor que óbitos trarão segurança.
“Direitos Humanos não é defender bandido”, diz Socorro França
A propósito, a secretária dos Direitos Humanos no Ceará, Socorro França, comentou sobre o estigma que a área carrega. “Não é isso que o povo está dizendo aí, que é proteger bandido. Meu Deus, as pessoas não sabem nem o que representa o direito humano. É o respeito à dignidade do ser humano”, disse em entrevista ao advogado André Menescal, no podcast AM Cast.
Ela exemplificou como essa dignidade se manifesta: “É o respeito ao idoso que o filho não quer mais saber dele e o joga na porta do hospital, com demência ou o abandona na parada do ônibus. Ele não sabe o nome dele, não sabe onde mora, é jogado ao léu. É assim que tratam os idosos, algumas pessoas. É nisso que a gente trabalha. Hoje, a violência contra o idoso é maior do que a violência contra a criança e o adolescente”.
A defesa dos direitos humanos sempre sofreu ataques, mas hoje está cada vez mais difícil. Perante a sociedade, está politicamente derrotada. Os defensores que resistem precisam se explicar, quase se desculpar, por defender o mínimo.
Efeitos políticos
É precipitado tratar de causas do incêndio no hospital César Cals, mas não para dizer que as imagens dos bebês retirados às pressas são um prato cheio para a oposição. A desativação ou não da unidade, com a abertura do hospital universitário na Uece, já se tornou alvo dos adversários.
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