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Ceará derrotou as facções? Até quando?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Ceará derrotou as facções? Até quando?

Tipo Opinião
 (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES

O Ceará tem um feito a ser comemorado. Nos sete primeiros meses do ano, o número de homicídios caiu a menos da metade do que havia sido em 2018. De janeiro a julho de 2018, 2.758 pessoas foram assassinadas no Estado. Este ano, no mesmo período foram 1.302 mortes. A queda é de 52,8%. Ainda é muita morte violenta, com certeza. Mas, a redução é um alento.

Causa até certa surpresa a redução da violência, dada a forma como o ano começou. Não custa lembrar: a maior onda de violência que o Ceará já conheceu. Demonstração de força da criminalidade como jamais se viu. Atentados que foram assunto no Brasil e fora. Chama atenção que, no semestre que começa assim, comemore-se a redução dos homicídios.

E essa redução tem consistência. O Estado completa 16 meses seguidos de queda desse tipo de crime, que soma homicídio doloso/feminicídio, lesão corporal seguida de morte e roubo seguido de morte. E é observada por todo o Estado.

André Costa, secretário da Segurança,
André Costa, secretário da Segurança,

O que explica a redução dos homicídios

Há várias explicações para a redução dos homicídios. A primeira é que a redução começou ainda em 2018. Depois de um primeiro ano muito ruim, André Costa começou a colher frutos do trabalho na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Não foi nada impressionante. A redução, àquela altura, era na comparação com 2017, ano mais violento da história do Ceará. Em 2018 foi melhor e foi o segundo ano mais violento. Agora, os números são positivos mesmo comparando com 2016, quando os números estavam bem em baixa. Em julho deste ano, o Ceará teve 196 homicídios. Em 2016, foram 255.

André Costa tem aparecido bem menos que nos primeiros tempos de SSPDS. Isso é ótimo. Secretário de Segurança aparecer muito não é bom sinal. Aparece menos porque o cenário melhorou. Há trabalho dele nisso.

Porém, uma parte crucial do resultado está no trabalho do secretário Mauro Albuquerque, da Administração Penitenciária. Por mais que se discutam seus métodos, ele teve o mérito de atacar o esquema das facções criminosas estruturado dentro dos presídios. Chefes foram isolados e transferidos. Com isso, a cadeia de comando foi desfeita. A rede de arrecadação dentro dos presídios foi combalida. Isso foi crucial para enfraquecer os grupos.

Resultado é definitivo?

A situação da insegurança no Ceará chegou ao ponto no qual até redução de homicídios traz certa aflição. Nos primeiros anos do governo Camilo, em 2015 e 2016, houve redução significativa. Àquela altura, gente de dentro do aparato de segurança constatou haver trégua firmada entre facções. Não seria a única, mas foi razão determinante para a queda naquele momento. O acordo foi rompido em 2017, nacionalmente, e os números do Ceará saíram do controle. Agora, há indicativos de que a redução tenha mais consistência.

As facções não estão mortas. Isso é sempre importante ter em mente. Aliás, quando estão em silêncio devem ser monitoradas com particular atenção - sempre podem estar preparando algo. Além disso, são estruturas nacionais, com presença até internacional. Isso inclui redes de comando e poder financeiro.

Os números devem ser comemorados. Haver menos homicídios é sempre positivo, independentemente do contexto. Porém, a vigilância deve ser mantida para que o resultado não se revele apenas tendência passageira.

Respondendo, então, à pergunta que está no título da coluna: o Ceará conseguiu impor um dano considerável à estrutura das facções, mas é precipitado dizer que elas estão derrotadas. Há trabalho a fazer e a vigilância deve ser mantida para que elas não se reorganizem e voltem a mostrar força.

Até aqui, há resultados positivos e trabalho a ser reconhecido.

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