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O delicado equilíbrio de Camilo
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O delicado equilíbrio de Camilo

Tipo Opinião

O governador Camilo Santana (PT) tem relação tão boa quanto possível para um petista com o governo Jair Bolsonaro. Talvez melhor. Essa relação tem sido útil - comentei quando ele agradeceu ao presidente pelo apoio na recente onda de ataques criminosos. Já tinha agradecido antes, nos ataques de janeiro. Em março, em discurso ao lado do ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, Camilo agradeceu pelos investimentos. Muita gratidão a um governo do qual o partido do governador tanto se queixa.

Porém, em política, ficar bem com um lado é ficar mal com outro. Mais ainda em tempos de polarização radicalizada. Nesta semana, a esquerda ficou injuriadas com a adesão do Estado ao programa de escolas cívico-militares. Foi o único estado do Nordeste. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, comemorou. "Tive até uma surpresa positiva, em dois estados que imaginei que não viriam, mas vieram". Ele não informou qual o outro, mas o MEC confirmou que um deles é o Ceará. Se a outra surpresa teve motivação partidária, provavelmente foi o Amapá, governado pelo pedetista Waldez Góes.

Elogiado pelo ministro, o governador foi explicar que não é bem assim. Isso após críticas como do presidente do PT Fortaleza, Deodato Ramalho. Segundo ele, a atitude "incomoda e gera estranheza".

"Quero deixar bem claro que o Ceará não aderiu a nenhum novo modelo de educação, mas a um programa que prevê recursos federais para a construção de duas unidades de ensino", disse Camilo. Segundo ele, a "informação errada" parte de quem desconhece a educação no Ceará "ou age de má-fé".

Já o presidente, ao lançar o programa, definiu assim as escolas cívico-militares: "Tem que botar na cabeça dessa garotada a importância dos valores cívicos-militares, como tínhamos há pouco no governo militar, sobre educação moral e cívica, sobre respeito à bandeira. Botar na cabeça dele que ele tem que entender que a Amazônia é nossa e não aceitar provocações de outro líder mundial".

Sobre como será a implantação, o presidente falou: "Não tem que aceitar não, tem que impor. Se aquela garotada está na 5ª série, está na 9ª série, e na prova do Pisa não sabe, ele não sabe uma regra de três simples, interpretar um texto, não respondem uma pergunta básica de ciência, me desculpa. Não tem que perguntar para o pai e responsável nessa questão se ele quer ou não uma escola com uma certa militarização. Tem que impor, tem que mudar. Não queremos que essa garotada cresça e vai ser no futuro um dependente até morrer de programas sociais".

Para além de modelos, a fala de Camilo deixou claro algo que se tornou tônica nos governos cearenses há décadas: se tem dinheiro disponível, corre atrás. Os detalhes ficam para depois.

Todos os estados do Norte, Centro-Oeste e Sul aderiram. Ficaram fora os oito estados do Nordeste, excetuado o Ceará, e dois do Sudeste: Rio de Janeiro e Espírito Santo. São Paulo entrou por último.

A adesão exclusiva no Nordeste cria certo constrangimento para Camilo com seus pares. Mas, deve gerar dividendos com o governo Bolsonaro. O Planalto irá querer tornar o Estado um exemplo positivo para os demais da região.

O petista preferido de Bolsonaro

O gesto consolida o governo Camilo como, provavelmente, o favorito de Bolsonaro no Nordeste e no PT. Com o ônus que isso implica no campo político do governador.

O PT e as eleições 2020

Deputado federal José Guimarães
Deputado federal José Guimarães

O deputado federal José Guimarães (PT) aposta que as próximas eleições municipais em Fortaleza, e no Ceará, serão bem diferentes de 2016. Por um motivo principal: Bolsonaro. Ele vê três grandes cabos eleitorais no Estado no ano que vem: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Camilo Santana e o desgaste de Bolsonaro. Volto ao assunto na próxima coluna.

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