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O futuro da Polícia e da segurança
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O futuro da Polícia e da segurança

Tipo Opinião
Policiais escondem rostos no motim de 2020 (Foto: fco fontenele)
Foto: fco fontenele Policiais escondem rostos no motim de 2020

O motim de policiais militares terminou, mas a administração das consequências apenas começa. Houve quebra da hierarquia, a relação com o comando sofreu trauma como não havia desde 2012. Há feridas a serem cicatrizadas, insatisfações a serem administradas. A questão não se resume ao fato de muitas das reivindicações não terem sido atendidas. Há oito anos, os policiais conseguiram quase tudo que queriam. O crescimento do número de homicídios em 2012 foi de 51%, conforme números do Mapa da Violência. Naquele ano, a quantidade de assassinatos foi a maior da história até então. Em 2013, o recorde foi batido. Em 2014, a marca de maior de todos os tempos foi superada de novo. Três recordes trágicos em sequência após a paralisação.

Encerrado o motim, é imprescindível agir para que aquele descalabro não se repita. Enquanto os policiais militares se recusaram a trabalhar, a violência saiu do controle. Facções se fortaleceram e conquistaram territórios. É preciso recompor a hierarquia, mas não apenas isso. As relações precisam ser reconstruídas. O governo precisa entender o que aconteceu dentro de sua Polícia. Compreender a raiz da insatisfação. Essa é a tropa do Estado do Ceará. Não é factível substituir todos que estavam parados. Então, é necessário recuperar esses policiais. Isso passa, inclusive, pelas punições, pelo caráter pedagógico de demonstrar que o caminho não é o amotinamento. Mas, passa por entender a insatisfação e por construir o diálogo possível. O trabalho pela frente é complexo e a estrada é perigosa.

O tratamento aos
trabalhadores que protestam

Um capítulo importante em toda essa crise foi a postura do Governo Federal. Do ponto de vista das ações, ajudou no que deveria. Do ponto de vista político, dos posicionamentos, foi complicado. O ministro da Justiça e Segurança Pública, ex-juiz Sergio Moro, disse que policiais amotinados não podem ser tratados como criminosos. Ele tem razão para aqueles que não cometeram crimes. Aqueles que cometeram crimes devem ser tratados como criminosos, sejam policiais ou não. Houve um punhado de crimes no motim.

Gostaria de saber se o ministro teria com os sem-terra que ocupam fazendas postura igual à adotada com os policiais que tomaram Batalhões de Polícia Militar - alguns dos quais são os únicos quartéis existentes nos municípios. E cuja tomada impede o funcionamento da função de segurança pública, essencial à sociedade. Policiais que também tomaram uma escola, conforme denunciou a Secretaria da Educação (Seduc), impedindo as crianças de ter aula.

Porque, se policial ocupar quartel e escola não justifica ser tratado como criminoso, não me parece razoável dar tal tratamento a sem-terra que invade propriedade que às vezes nem produtiva é. O impacto das primeiras ações é incomparavelmente maior que o da última.

A base política do presidente

O presidente Jair Bolsonaro, na quinta-feira, pediu que o governador Camilo Santana (PT) negociasse com os policiais paralisados. Falou enquanto a negociação já ocorria, mas a declaração atravessou as conversas, deu força ao movimento, que recusou a proposta naquela noite. Demoraria mais três dias até haver entendimento.

Mas, o que gostaria de saber é se o presidente teria a mesma postura com professores em greve. Que, eventualmente, sejam de sindicato vinculado à CUT. Porque deixar criança sem aula não é emergência menor do que ficar sem policiamento.

O presidente claramente fala à sua base política, aos simpatizantes. Mas, a instituição Presidência da República não pode ficar sujeitada aos gostos e desgostos pessoais do ocupante de ocasião da cadeira.

Situações similares demandam tratamento semelhante, ainda que a atores diversos. No caso, greve de professores nem está sujeita aos impedimentos previstos na hierarquia militar.

 

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