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Crise na economia resulta da pandemia, não do combate a ela
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Crise na economia resulta da pandemia, não do combate a ela

Tipo Opinião

Existe uma falsa dicotomia que une empresário que vende hambúrguer, apresentador de TV e presidente da República. Ela opõe enfrentamento ao coronavírus e recuperação econômica. Não são questões separadas, ao contrário. A crise econômica já chegou. Ela é parte, importante e grave, do drama da saúde. Muita gente não consegue deixar de trabalhar, sobretudo na informalidade. Segue circulando, em contato com muita gente, submetendo-se ao risco do contágio e, portanto, ajudando na propagação da Covid-19. A necessidade econômica faz as pessoas arriscarem a saúde e isso é uma síntese de muito que tem acontecido pelo mundo e no Brasil. Inclusive nas decisões políticas.

As empresas já estão sofrendo. As pequenas mais que as grandes. Os trabalhadores sem vínculo empregatício mais que aqueles com carteira assinada. O setor privado mais que os governos. A situação existe e precisa ser enfrentada. A questão é como. Quem relaxar quanto às medidas recomendadas pelas autoridades médicas em nome de resguardar a economia irá perder duas vezes.

O drama econômico é real, é grave e precisa ser combatido. Mas, ele não ocorre por causa do combate à pandemia. Ela ocorre por causa da pandemia. O combate à crise econômica precisa ser parte do enfrentamento ao coronavírus. Não se trata de escolher qual dos dois atacar.

A crise da saúde e da economia são parte do mesmo problema. Assim como nas guerras as economias sofrem e isso não é um problema apartado. Quando há uma pandemia, a economia vai ser fortemente afetada. Não existe alternativa a isso, mas há respostas possíveis. Não há a opção de manter as relações de consumo e de trabalho inalteradas enquanto se espalha um novo vírus, de alto poder de contágio e grande letalidade para os grupos de risco, para o qual as pessoas não têm anticorpos. A retração não é por decisão de governos, é por sobrevivência.

Comércio fechou em função da pandemia
Comércio fechou em função da pandemia (Foto: Sandro Valentim)

Como enfrentar

A questão, portanto, é como fazer o enfrentamento. Nesse caso, a decisão cabe às autoridades médicas. Sou jornalista, escrevo sobre política. Você não vai me ouvir aqui dizer qual o melhor jeito de enfrentar uma pandemia. Iria achar as opiniões de um leigo. A decisão cabe aos fóruns decisórios adequados para as decisões. Não se trata de: "O médico aqui vizinho da padaria disse que o melhor é fazer assim ou assado." Temos séculos de experiência científica. Há entidades que reúnem os maiores especialistas. O consenso mínimo das autoridades no assunto deve dar a diretriz. Simples assim.

A única abordagem ética possível é colocar a saúde das pessoas em primeiro lugar. É isso que se faz na vida, o que fazemos com nossas famílias. Do contrário, faz o seguinte: se precisar pagar por um tratamento de saúde complexo, experimenta entregar as decisões ao seu contador e não ao médico. Espera para ver o que vai acontecer com você.

Vivemos período de desvalorização do conhecimento. Qualquer pessoa vê três vídeos no Youtube e se julga no direito de questionar séculos de saberes científicos acumulados. A opinião menos embasada tem o mesmo peso de alguém que estudou décadas o assunto. Estamos em uma pandemia e não dá para apostar em achismos. É preciso ouvir especialistas. Sinto-me até ridículo de ter de defender tal obviedade. Mas, há quem ache que governos devem colocar palpites amadores acima dos especialistas na matéria.

Inclusive, abandonar isolamento não preserva a economia. Ninguém imagine que o padrão de consumo se mantém numa pandemia. O impacto vem uma hora e permanece mais tempo. A Itália é exemplar. Começou isolando apenas grupos de risco. Depois, veio o colapso. Está pior que a China, onde começou o surto. Adotou as mesmas medidas duras, depois de o cenário estar agravado. O adiamento provavelmente será motivo para a recuperação demorar mais.

Política mais frouxa, pela experiência, trará maior dano à saúde e a recuperação vai demorar mais. O prejuízo virá duas vezes, inclusive econômico.

 

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