
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Os urubus podem ser considerados como um recurso natural. Essas aves fornecem à sociedade uma série de serviços ambientais, principalmente a eliminação de carcaças de animais mortos. Estes serviços têm impactos na saúde humana e na qualidade ambiental das cidades. Um aumento de carcaças não consumidas representa uma ameaça direta à saúde humana porque as carniças fornecem um terreno fértil para bactérias patogênicas, que podem causar infecções. As carcaças, são portanto, fontes de doenças. Ao remover as carcaças de forma rápida e eficiente, os urubus limpam o meio ambiente e protegem os humanos, o gado e a vida selvagem de doenças.
Ademais, a perda de urubus pode contribuir para a poluição ambiental resultando em doenças transmitidas pela água. Esses serviços ambientais fornecidos por urubus e outras aves que se alimentam de restos de animais que estão em decomposição foram avaliados em bilhões de dólares. É fácil entender essa conta: basta imaginar quanto dinheiro os municípios gastariam para detectar e enterrar carcaças e para medicar pessoas adoecidas.
Recentemente eu e os pesquisadores Enrique Richard e Denise Ilcen Contreras Zapata publicamos um artigo sobre o comportamento alimentar dos urubus, na Revista Catalana d'Ornitologia, intitulado "Intra- and interspecific kleptoparasitism in the American Black Vulture Coragyps atratus (Aves: Cathartidae) in a garbage dump in Ecuador". Estudamos urubus em um lixão em Calceta, uma cidade equatoriana.
Nós descobrimos que os urubus formam bandos que se aproveitam da habilidade olfativa de cachorros vadios. Eles observam atentamente os cães, e quando eles descobrem um saco de lixo com restos de carne, os urubus roubam as carniças. Esse comportamento, denominado cleptoparasitismo, permite aos urubus conseguir comida gastando pouca energia - afinal, os cães encontram a comida, os urubus a roubam.
Talvez não pareça muito nobre aos leitores desse periódico um pássaro que se aproveita do trabalho alheio, mas uma conclusão importante da nossa pesquisa é que urubus têm uma grande capacidade de mudar seu comportamento para se adaptarem às cidades. Seus serviços ambientais urbanos são bem-vindos, e ademais é belo observá-los em seus majestosos voos. Vida longa aos urubus nas cidades latino-americanas!
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.