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Domingo de música, teatro e palhaçaria
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Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros

Domingo de música, teatro e palhaçaria

Tipo Crônica

A primeira lembrança que passa em nossa cabeça quando pensamos no concerto de uma orquestra é a de reverência ao mundo erudito, assim como a primeira imagem que temos de um grupo de teatro e palhaçaria é a de irreverência popular. No entanto, tudo fica fora das primeiras impressões quando os dois se encontram para um espetáculo que tem em comum a música infantil, mas também o humor.

Crianças e adultos que foram ao Cineteatro São Luiz no domingo passado, 13, puderam experimentar formas vivas de diversão e de renovação na arte pela graça, pelos gestos e pela poética da infância na apresentação da Orquestra Contemporânea Brasileira, sob a regência do maestro Arley França, e do grupo Dona Zefinha, dirigido pelo dramaturgo, compositor, músico e cantor Orlângelo Leal.

Com repertório de canções infantis transgeracionais, estendido desde trilhas de desenhos animados da Disney até peças do álbum "O Circo Sem Teto da Lona Furada", dos Bufões, esse espetáculo vai ao encontro de interesses e motivações da criança em qualquer tempo. Belezas de Toquinho e Vinícius passeiam pelos corações da plateia de mãos dadas com outros clássicos, como "A História de uma Gata" (Luiz Enriquez/ Sérgio Bardotti), na linda versão de Chico Buarque: "Nós, gatos, já nascemos pobres/ Porém, já nascemos livres".

Fazendo dos sons brincadeira e do brincar jogos sonoros, o concerto em piruetas leva as crianças para casa cantando "Eu vou, eu vou", com os sete anões da Branca de Neve, da mesma maneira que promove um buzinaço para salvar o Sapo Cururu de um carro em disparada. Reelaborando o lúdico presente nessas obras, o espetáculo transcende as fronteiras dos trabalhos voltados ao público infantil, alcançando os adultos em suas meninices.

Compartilhar a comunicação com a plateia é missão bem cumprida pela trupe abrilhantada pela ação dos palhaços Panfeto (Ângelo Márcio) e Pafim (Paulo Orlando), pelo canto suave da atriz e cantora Joélia Braga e pela marcação de tuba do virtuoso Samuel Furtado. A narrativa abre-se ao público que, ao assumir seu lugar de interação, transforma palco e plateia em um grande campo de manifestações eufônicas. E Orlângelo pede "palmas para vocês!", selando a cumplicidade.

No livro "A Canção para Crianças" (Gramofone, 2011), a compositora paranaense Rosy Greca propõe quatro valores essenciais para o balizamento de obras musicais dirigidas a crianças: o encantamento, o respeito à diversidade cultural, a qualidade técnica e o valor educativo. Os quatro estavam nesse domingo de música, teatro e palhaçaria, por meio de elementos essenciais à vida "sensível e intelectual" (p.63), do reforço da "identidade cultural" (p. 75), do rompimento com a ideia de que para criança "qualquer musiquinha serve" (p.77) e dos cuidados para não confundir sentido educativo com "canções didático-pedagógicas" (idem).

A compositora, cantora e contadora de histórias infantis niteroiense Bia Bedran abraça também os cuidados com a necessidade da hospitalidade estética para meninas e meninos, em seu livro "A Arte de Cantar e Contar" (Nova Fronteira, 2012): "A arte nos dá um olhar diferenciado ao que se nos apresenta em bombardeio diário pelos meios de comunicação" (p.152). Esse é um bem muito farto nesse espetáculo que avizinha magistralmente os tempos cíclicos de crianças e adultos.

 

Foto do Flávio Paiva

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