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Mino e a arte de boas-vindas
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Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros

Mino e a arte de boas-vindas

Tipo Opinião

Quem embarca no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, pode se despedir do Ceará apreciando o grande mural Terra da Luz, pintado em 2003 pelo artista visual e fabulista Hermínio Macêdo Castelo Branco, o Mino, 75, em um vão de 35 metros de largura por 2,7 metros de altura. Agora, neste final de 2019, quem desembarca passa também a receber saudações acolhedoras em 12 painéis do artista cearense, com cerca de 2x2 metros cada, distribuídos nas áreas de circulação de chegada.

As obras do Mino compartilham motivos que dão graça e espalham conteúdo de flutuantes visualidades pelo porto aéreo de Fortaleza. Ao contemplar a multiplicação de elementos, que enaltecem a cultura e a natureza do Ceará no projeto de revitalização e de expansão do terminal de passageiros, a Fraport demonstra respeito e atenção especial pela grandiosidade memorialista, leveza e abundância de cores da cultura local.

Em um misto de desenho com pintura de beleza vitral, Mino compôs um índice simbólico dos jeitos e feitos de uma gente inspirada na luz da liberdade, enfatizando suas conotações com a natureza, num enredo aberto e deslumbrante. Os espaços de trânsito interno do aeroporto ganharam o embelezamento de aforismos gráficos que contam passagens da história, da memória e da cultura cearense para quem chega e para quem sai.

Com isso, o Fortaleza Airport, mais do que em um importante entroncamento de destinos aéreos mundiais, está em um lugar. A representação pictórica da alma cearense, manifestada na arte do Mino em galeria permanente, reforça o magnetismo cultural desse cenário de partida e de chegada. Pelas paredes, dentro das imagens, o cearense e o turista podem ver uma constelação de figuras soltas e integradas que convidam à dedução, ao deleite e à fantasia de cada um, por serem pontos de ligação entre olhares cordiais e calorosos.

Os painéis do Mino no aeroporto provocam encontros entre a memória e o cotidiano, com lirismo e alegria em textualidades de pluralizadas referências. Jangadas aladas, jangadeiros voadores, peixes e calangos de asas, brincantes de maracatu, bênçãos do Padre Cícero e até um anjo sanfoneiro a embalar Nossa Senhora da Assunção, padroeira de Fortaleza, flutuando pelo céu da Cidade, são algumas das alegorias de cearensidade, acesas como lamparina solar, de um sol mandala, da copa de uma carnaúba também mandala, em clarão de círculos pela unidade da diversidade.

O voo está presente em todos os painéis. A navegação livre da arte do Mino mistura espaço aéreo com espaço de imaginação, em elementos ornamentais de inspiração cordelística. O artista sabe que cearense gosta de olhar para o céu, por isso lançou tudo pelo ar em movimentos coloridos de balões juninos, aviões, arraias, vaqueiros de montarias voláteis, violas delirantes, casais dançando xote e caudas exuberantes, leques para o vento sedutor e penas de ocelos com olhos de amores do pavão mysteriozo.

A expressão artística e poética desse conjunto de painéis não poderia esquecer os cabelos esvoaçantes da índia Iracema, negros como as asas da graúna, cruzando o arco da lenda alencarina como uma flecha de paz. Das diferentes maneiras de mostrar o Ceará, a arte do Mino é uma das mais autênticas em sua sintaxe imagética. Tem cheiro de caju ao vento, em planos, traços, cores e emoções dos pousos e decolagens.

 

Foto do Flávio Paiva

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