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O viés ideológico das bombas de efeito moral
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O viés ideológico das bombas de efeito moral

Tipo Opinião
FORTALEZA, CE, BRASIL, 07.06.2020: Polícia cerca praça Portugal impedindo a chegada de manifestantes que foram cercados e detidos nas ruas próximas.(Foto: Fabio Lima/O POVO) (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA FORTALEZA, CE, BRASIL, 07.06.2020: Polícia cerca praça Portugal impedindo a chegada de manifestantes que foram cercados e detidos nas ruas próximas.(Foto: Fabio Lima/O POVO)

Um dia como de ontem, até pelas circunstâncias especiais de estarmos vivendo tempos de pandemia, em que a recomendação geral é para que todos fiquem em casa, exige um balanço dos resultados que, prioritariamente, não seja numérico. Há algo mais importante do que contar quem levou mais gente às ruas, dentre os que foram gritar "fora Bolsonaro" e aqueles de cujas bocas sai um entusiasmado "mito", referindo-se ao presidente da República.

Costuma-se dizer que protestos de rua representam, em si, demonstração de pujança de uma democracia. De fato, é impossível levar a insatisfação popular às ruas, ou mesmo a satisfação, quando o ambiente restringe liberdade e ficou demonstrado, por ontem, que o Brasil mantém intacto, apesar dos pesares, seu espaço de manifestações.

A partir daqui deve-se começar um outro debate, na esteira do que pode ser uma comemoração pelo saldo final até pacífico de um domingo aguardado com tensão pelos riscos de confrontos entre os dois lados do Brasil polarizado atual. A pergunta que faz abrir um novo ponto de discussão é: qual o papel das polícias no contexto político em que tentamos nos equilibrar?

A pergunta, importante, deve ser o ponto de partida para uma reflexão sobre o que cabe a cada segmento no grande esforço que o País precisa fazer para sair sem arranhões democráticos mais consequentes de uma combinação incrível de crises, onde se juntam um quadro de pandemia, uma economia fragilizada e um cenário de caos político nos rondando. O dia de ontem apresenta-se emblemático, e útil à discussão, inclusive considerando o caso de Fortaleza, porque há um decreto que proíbe aglomerações dentro de uma estratégia de evitar que o novo coronavírus se espalhe.

É fato que, de alguma forma, quem saiu nesse domingo para se manifestar afrontou uma norma legal em plena vigência. No entanto, faz muito sentido a cobrança às forças policiais pelo fato de somente agora apresentar disposição real de fazer cumprir decretos do isolamento social em várias cidades brasileiras, concentrando repressão violenta contra apenas um lado.

Isso é notório e vale ressaltar a infeliz coincidência (se coincidência for), de, em geral, ser o lado contrário de onde estão os portadores de cartazes, camisas, palavras de ordem e outros instrumentos afrontosos à democracia e ao Estado de direito que há tempos grassam livres pelas ruas sem qualquer admoestação.

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