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Antes de unir a base, Nelson Martins precisaria unir o PT
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Antes de unir a base, Nelson Martins precisaria unir o PT

Tipo Análise
Nélson Martins é assessor especial do Governo do Estado (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Nélson Martins é assessor especial do Governo do Estado

Em política há soluções inesperadas que aparecem como resultado de um mero acaso e, de fato, muitas vezes o são. Há outras, no entanto, que exigem uma engenhosa estratégia para, exatamente, chegarem às pessoas com a ideia de que houve um movimento natural em direção a uma alternativa que, de verdade, é a que estava pensada no início de todo o processo.

O que se tenta entender agora é o grau de improviso, ou de ciência política, que há na decisão de última hora de incluir o nome do ex-secretário estadual Nelson Martins como um dos pré-cotados à disputa para a sucessão do prefeito pedetista Roberto Cláudio. No caso, pelo PT, partido do governador Camilo Santana, cujas digitais estão ali assumidamente.

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Todo esse quadro de muita indefinição, quando se trata de apresentar um nome que, em tese, representaria a continuação do atual projeto administrativo de Fortaleza, decorre, como causa primeiríssima, da situação de pandemia, com seus efeitos, que ampliou o grau de incerteza para as eleições de 2020 naquele segmento. Havia uma estratégia, muito bem montada por sinal, que foi atropelada pelos fatos, ou, pela realidade.

É conhecido de todos que o projeto pessoal de Nelson, ex-vereador de Fortaleza e ex-deputado estadual, era de não mais disputar cargos eletivos. Fazer política sim, mas em outras perspectivas, por exemplo, como se dava até a semana passada, a partir de cargos públicos que ocupava no Executivo.

E não era algo que ele dizia por dizer, considerando se tratar de um interlocutor político que, na sua trajetória pública, foi sempre conhecido pela confiabilidade de suas declarações. Se afirmava que não queria mais candidatura, todos acreditamos que era porque não mais queria.

Tudo isso para dizer que o gesto do deputado estadual Acrísio Sena, um reconhecido "camilista", talvez comece a responder alguma coisa das tantas dúvidas que nos cercam. Para lembrar, ele manifestou-se publicamente, e entusiasmadamente, em defesa do nome de Nelson Martins como o melhor capacitado a "unir a base do governador Camilo em Fortaleza" e "ampliar as chances de vitória e continuar à frente da 5ª maior cidade do país".

Preste-se atenção nos dois trechos postos entre aspas da nota distribuída pelo parlamentar petista. Primeiro ele fala em unir "a base de Camilo", não o PT, e, depois, em "continuar à frente da 5ª maior etc", quando, sabe-se, a pré-candidata petista que se conhece até agora, deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins, arma-se no discurso para fazer uma campanha de oposição a Roberto Cláudio. O debate interno, portanto, teria que ser um pouco mais profundo.

Há chances de ser um gesto de voluntarismo do parlamentar, embora a prudência recomende prestar atenção nos dias seguintes e nas reações que podem vir dos dois lados para se fazer um juízo melhor.

Será necessário observar, de um lado, como a coisa será recebida dentro de um partido que não parece animado a uma campanha de continuação do modelo RC (para desgosto do governador); de outro, sentir a reação no interior do grupo do atual prefeito, que tem suas opções e preferências. Todas, até onde se sabe, fora da lista de filiados ao PT.

 

Foto do Guálter George

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