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A delicada e complexa arte da política
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A delicada e complexa arte da política

2308gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 2308gualter

Na tribuna para fazer a defesa do deputado André Fernandes, que acabaria com mandato suspenso, apesar de sua boa performance técnica, o advogado Pedro Teixeira Cavalcante Neto discorreu um pouco sobre a dificuldade de fazer política, numa linha mais filosófica do que jurídica. E, enfatizou, "ainda mais fazer política no parlamento". Naquela hora, imagino, lá com seus pensamentos, o presidente da Assembleia, José Sarto (PDT), deve ter até batido palmas imaginárias de apoio.

Afinal, na própria sessão em que se decidia o destino próximo de um parlamentar, Sarto lutava para manter as coisas sob controle em meio a uma tensão que não tinha a ver com o ambiente específico da Assembleia e que parecia estranho aos episódios normais ao cotidiano de briga entre oposição e governo etc, até por ser uma situação, aquela específica, que envolvia grupos aliados ao Abolição.

Eram as disputas eleitorais de 2020 que transferiam suas tensões para os microfones, tribunas e bancadas, indicando os desafios que o comando da Casa terá pela frente, com pandemia ou sem ela.

De fato, lembrou o presidente quando a coisa ameaçava sair de controle, já misturando-se o caso André Fernandes com a outra crise que envolvia os adversários (arqui-inimigos a essa altura) Leonardo Araújo (MDB) e Patrícia Aguiar (PSD), o Poder Legislativo não pode ser confundido com a "casa da Mãe Joana". Os mais críticos diriam que com todo respeito à Mãe Joana e à sua casa.

O comando da Assembleia precisará mesmo de pulso firme e não pode deixar que prevaleça o entendimento, que André Fernandes e parte dos seus apoiadores tentam emplacar, de que o resultado daquele julgamento disse mais respeito a interesses políticos do que, propriamente, a um esforço real de coibir excessos e punir crimes, no caso, o que teria sido cometido contra a honra de um parlamentar.

Os deputados não estão proibidos de se acusar uns aos outros, desde que o façam fundamentados em provas que depois sejam capazes de apresentar. Nenhuma disputa de poder será suficiente para justificar debates e discussões que resvalem para denúncias que enxovalhem um representante que ali está legitimado pelo voto popular. Ou, sempre que acontecer, o rigor aplicado deve ser o mesmo que acaba de mandar o representante do Republicanos para casa pelos próximos 30 dias.

Esqueceram de nós

A bancada cearense no Congresso tem sua relevância posta em xeque por levantamento do site Congresso em Foco que indicou os mais influentes do ano entre senadores e deputados e que teve os resultados anunciados na semana. Tasso Jereissati (PSDB) e Cid Gomes (PDT) até aparecem em alguns momentos, porém, nenhum dos dois como líder de qualquer dos segmentos avaliados. A melhor performance é do tucano, o quinto mais citado por jornalistas entre os influentes no Senado.

A eficiência silenciosa

Na Câmara, o que surpreende, nenhum dos 22 deputados cearenses aparece com destaque, seja na avaliação popular, seja na análise dos jornalistas. Apesar de serem da bancada os líderes da Minoria, José Guimarães (PT), e da Oposição, André Figueiredo (PDT), e o relator-geral do Orçamento de 2020, Domingos Neto (PSD). Postos estratégicos, mas, parece, insuficientes para garantir a eles serem notados com destaque em Brasília.

Oportunista, no bom sentido

Senso de oportunidade sempre foi o forte do deputado estadual Heitor Férrer (SDD) nos seus nove mandatos somados, em sequência, na Câmara de Fortaleza e na Assembleia. E ele provou, na agitada quinta-feira, que não perdeu a forma ao emplacar sua denúncia contra o conselheiro do TCE, Ernesto Saboia, em meio à confusão envolvendo André Fernandes. A longeva carreira política mostra que sua estratégia faz muito efeito.

A velocidade da conversa

A caminho do final do segundo mandato como prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT) parece que não conseguirá mesmo concluir um projeto pelo qual batalhou muito nos últimos anos: a municipalização do trecho de 12 km entre a rotatória da Aguanambi e o terminal de ônibus de Messejana. O sonho dele de criar um corredor expresso esbarrou na resistência da diretora do Dnit no Ceará, Liris Campelo, que não autoriza a obra.

As razões da diretora

A queixa dela é que a prefeitura não teria dado a atenção devida ao trecho urbano da BR-116, negligenciando na aplicação da Lei de Uso e Ocupação do Solo em suas adjacências. Sentada em cima de pareceres técnicos, Liris diz que estudos realizados sobre a viabilidade da obra, o impacto ambiental e os aspectos jurídicos levaram a um somatório de razões pelas quais foram sugeridas adequações no projeto que, garante, até hoje não foram feitas.

De quilômetro em quilômetro

A prefeitura conta outra história. Diz, por exemplo, que Liris Campelo tem ignorado pedidos para agendar reunião entre os corpos técnicos para acertar divergências eventuais. A ideia dela seria manter a velocidade de rodovia no espaço urbano, algo que o Paço rejeita porque entre os objetivos centrais das mexidas estaria, exatamente, reduzir o alto índice de acidentes e mortes no trecho. Pelo tom dos dois lados, dessa "conversa" não sai acordo tão cedo.

Sim, Não, Talvez

Na votação importante do veto pelo Congresso a qualquer reajuste de salário aos servidores públicos até dezembro de 2021, a bancada cearense na Câmara até derrotou o governo pela maioria, mas deu um número bom de votos a Bolsonaro para manter sua posição sobre a matéria. Veja como foi o comportamento voto a voto, notando que o "sim" agradou o governo, o "não" desagradou e as abstenções mostram quem ficou em cima do muro. Aliás, dá uma olhada neste último grupo porque tem surpresa:

SIM

AJ Albuquerque (PP)

Danilo Forte (PSDB)

Doutor Jaziel (PL)

Heitor Freire (PSL)

Junior Mano (PL)

Moses Rodrigues (MDB)

Ronaldo Martins (PL)

Pedro Bezerra (PTB)

NÃO

André Figueiredo (PDT)

Célio Studart (PV)

Denis Bezerra (PSB)

Doutor Agripino (Pros)

Eduardo Bismarck (PDT)

Idilvan Alencar (PDT)

José Airton Cirilo (PT)

José Guimarães (PT)

Leônidas Cristino (PDT)

Luizianne Lins (PT)

Robério Monteiro (PDT)

ABSTENÇÃO

Genecias Noronha (SDD)

Mauro Benevides Filho (PDT)

AUSENTE

Deuzinho Filho (Republicanos)

Foto do Guálter George

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