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O preocupante voto qualificado do ministro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O preocupante voto qualificado do ministro

Tipo Opinião
OITIVA do ex-governador do Rio está prevista para hoje (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil OITIVA do ex-governador do Rio está prevista para hoje

O Brasil precisa olhar com mais atenção para o que acontece no Rio de Janeiro. De um lado, porque ali tem-se a crueldade exposta de um grupo que conseguiu enxergar no desespero quase extremo das pessoas uma chance de agir no desvio, para o próprio bolso, de recursos emergenciais originalmente destinados ao setor de saúde em meio a um quadro de pandemia. De outro, pela perspectiva de abrir uma porta política que depois a democracia terá trabalho para fechar, caso o consiga na verdade.

A parte criminosa precisa ser enfrentada com rigor, identificando-se todos os responsáveis por desvios, processando-os e condenando-os. Parece simples, independente do cargo que exerçam e de vínculos ou desvínculos políticos ou partidários, considerando a gravidade do caso e a perspectiva real de que a ação concorreu para que mortes evitáveis engrossassem as estatísticas assustadoras do Rio e do Brasil ligadas, como efeito direto, ao novo coronavírus.

O lado político é tão preocupante quanto. Um governador, eleito com 4.675.355 votos, viu-se afastado do cargo por uma decisão monocrática de um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Benedito Gonçalves, no caso. Claro que isso não faz sentido, lembrando-se ainda que Wilson Witzel (a vítima da canetada que lhe custará seis meses de um mandato previsto de quatro anos) sequer tinha sido ouvido acerca das gravíssimas acusações de envolvimento pessoal com o esquema criminoso que agia dentro do seu governo e que até lideraria de acordo com parte das denúncias.

Como pano de fundo do quadro está a criminalização da política que, com o caso Witzel, avança mais algumas casas. A escolha do eleitor fluminense, certa ou errada, foi atropelada numa decisão liminar solitária de um juiz, em fase ainda preliminar de uma investigação que precisa mesmo ser feita, sem que sequer denúncia contra o governador estivesse apresentada até aquele momento, estabelecendo-se um desequilíbrio de forças que, parece claro, será fatal ao ambiente da democracia caso continue a prevalecer com tal naturalidade.

Fosse eu governador no Brasil de hoje estaria muito preocupado com a desproporção institucional oferecida por essa situação do Rio de Janeiro e esse exemplo de Wilson Witzel.

A união pode fazer a força

Parece que a coisa encaminhou-se mesmo para um entendimento entre MDB e Pros em Sobral para formar-se uma chapa forte de oposição ao prefeito Ivo Ferreira Gomes, que deve disputar reeleição pelo PDT. Pai do deputado Moses Rodrigues, Oscar Rodrigues é quase certo que terá o nome homologado na convenção emedebista do próximo dia 15 e seu companheiro de chapa será Domingues Guimarães, do Pros, com aval do Capitão Wagner.

O nome próprio e mais dois

É muito difícil que o PSDB não saia muito chamuscado dessa articulação em que está metido para as eleições de 2020 em Fortaleza. Deixou-se que correntes internas antagônicas ganhassem corpo - uma favorável à aliança com o PDT, de Roberto Cláudio, e outra radical na simpatia à opção contrária pelo Pros, do Capitão Wagner - e agora tem-se problemas reais para manter a unidade. Aliás, dá pra considerá-la hoje inviável entre os tucanos.

Os interesses em jogo

O paradoxo disso tudo é que a tese de candidatura própria pode ganhar força com a circunstância nova de agravamento das tensões internas. Dentre outras coisas, como ninguém acredita na possibilidade de Carlos Matos surpreender (talvez nem o próprio), poderia facilitar uma posição posterior de liberação no segundo turno para que cada um possa seguir sua convicção. Ou, para usar termo mais preciso, seu interesse.

Todo cuidado não é pouco

Há prefeito no Interior agindo com o máximo de cuidado - alguns preferem chamar de "medo" - para não ser acusado posteriormente de fazer propaganda eleitoral antecipada. Um deles é Jaques Albuquerque (PSD), de Massapê, que recusa pedidos de entrevista, "mesmo tendo muito a dizer e mostrar", para não enfrentar dissabores depois na justiça. Ele planeja ser candidato à reeleição, numa disputa que se anuncia animada.

Um cearense entre os 10

Dois dos três cearenses da bancada atual acompanham com atenção os passos do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que busca situação legal nova que o permita tentar um segundo mandato consecutivo. Um deles é Eduardo Girão, do Podemos, que forma no grupo de 10 parlamentares que já acionou o STF contra uma PEC que tenta viabilizar a reeleição de Alcolumbre. Seu português é claro: "Reeleição é estagnação".

De olho na cadeira

O outro cearense atento ao quadro é Tasso Jereissati, do PSDB. A caminho da última etapa do seu segundo mandato e confessando aos mais próximos intenção de se retirar da vida pública, gostaria de fazê-lo em alto nível. Ou seja, admite disputar a presidência da mesa do Senado e suas chances cresceriam muito, claro, sem Davi Alcolumbre a incomodá-lo. Portanto, é do seu interesse que o "movimento dos 10" saia vitorioso.

O discurso morre, mais uma vez

Para quem acredita (ou acreditou) naquele blá blá blá de que a Era Bolsonaro representaria um sopro de novidade na política brasileira, recomendo dar uma olhada na imagem que marcou, tarde da última quarta-feira, seu anúncio de que estava enviando uma proposta de reforma administrativa ao Congresso.

Emolduravam o presidente, na ocasião, líderes parlamentares que estão legimitados pelo eleitor para estarem ali, mas, também é verdade, praticamente nenhum deles passaria pelo crivo anterior da ideia de político que o movimento que liderou, e o levou à vitória, fez crer que existia.

Leia rápido, abaixo, a "ficha-corrida" (do aposentado linguajar dos tempos em que Centrão era um palavrão) de uma parte deles, apenas os mais vistosos:

Ricardo Barros - líder do Governo na Câmara, investigado pela suspeita de irregularidades na compra de medicamentos destinados ao tratamento de doenças raras quando era ministro da Saúde, no governo Temer. Enfrenta também uma ação no TRE do Paraná pela acusação de compra de votos em 2018. Quer mais? Está citado nas delações de executivos da Odebrecht.

Fernando Bezerra - líder do Governo no Senado, atualmente, investigado pela suspeita de ter recebido R$ 5,5 milhões de empreiteiras entre os anos de 2012 e 2014. Já teve o gabinete no Congresso visitado por agentes da Polícia Federal e procuradores da República

Eduardo Gomes - senador e líder do Governo no Congresso, investigado por corrupção pela suspeita de ter feito pagamento de despesas da Câmara Municipal de Palmas com licitações fraudulentas e produtos superfaturados. O nome dele também foi citado em delações da Lava Jato

Artur Lira - líder do PP na Câmara, acusado de corrupção passiva em denúncia encaminhada pelo Ministério Público ao STF pelo recebimento de R$ 1,6 milhão em suposta propina da empreiteira Queiroz Galvão. Já é réu em outra ação no Supremo dentro da operação Lava Jato, também por negócios mal explicados com uma empreiteira

Ciro Nogueira - senador e presidente nacional do PP, investigado em denúncia do Ministério Público por, supostamente, ter recebido repasses ilegais da construtora Odebrecht. Também andou recebendo policiais e procuradores em seus endereços para buscas durante a investigação.

Pois é...Não é?!?

 

Foto do Guálter George

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