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Duas piadas de mau gosto e um só presidente da República
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Duas piadas de mau gosto e um só presidente da República

Live da semana Presidente Jair Bolsonaro, 29/10/2020 (Foto: Jair Bolsonaro/Facebook)
Foto: Jair Bolsonaro/Facebook Live da semana Presidente Jair Bolsonaro, 29/10/2020

Foi o presidente da República, cumprindo agenda de presidente da República no Maranhão, fazer uma daquelas piadas inconvenientes, homofóbicas e, inclusive, nada engraçadas, para ser logo resgatado o velho antídoto que tem servido para justificar tudo quanto se tem feito de errado no País ultimamente.

É a história "mas, e o PT?", "mas, e o Lula?". Uma evidente falsa equivalência.

A ideia é: pega-se uma declaração do presidente Jair Bolsonaro, num espaço público, oferecida ao riso constrangido dos presentes, absolutamente agressiva, e só isso, porque, repita-se, engraçada não é, e tenta se mostrar que ela pode ser menos ofensiva do que parece resgatando que Lula também disse um dia, em tom de piada, igualmente grosseira e inadequada, que Pelotas, no Rio Grande do Sul, era "um pólo exportador de veados".

Jogo empatado, é isso? Não, os casos não se equivalem. A brincadeira de mau gosto de Lula deu-se no ano de 2000, antes de sua chegada à presidência da República, portanto, no contexto de conversa descontraída com o amigo Fernando Marroni, pouco antes da gravação de um vídeo de apoio à canditatura dele à prefeitura do município gaúcho, que acabou captada e vazou.

É daquelas coisas de mau gosto que a gente se permite nos espaços mais íntimos e, para registro histórico, o petista foi eleito pelos pelotenses.

Para dar-se peso semelhante, mesmo descontado o fato de um ter feito a piada como presidente da República e o outro não, seria necessário confrontar os históricos de ambos em relação à temática da homofobia, que está no fundamento da tentativa de fazer graça.

Bolsonaro tem uma extensa ficha -, lembra que ele um dia disse que "preferia um filho morto a vê-lo homossexual?" -, enquanto de Lula não há registro sequer parecido e, ao contrário, uma das acusações que se faz à sua época de governo, contados também os anos da sucessora petista Dilma Rosseff, é de querer normalizar o amor entre pessoas do mesmo sexo. Alguns mais exagerados até dizendo, a sério, que o plano do PT era torná-lo obrigatório.

Portanto, é pouco razoável, nesse debate, criar uma equivalência entre as situações e os personagens. São contextos totalmente diferentes, trajetórias que não permitem que sejam colocados numa mesma perspectiva e parece hora de se cobrar de Jair Bolsonaro um comportamento de presidente da República, o que lhe proíbe inconveniências que constranjam cidadãos pelos quais é responsável como Chefe da Nação, independente do partido, do estado e da orientação sexual.

Uma nota final: o guaraná Jesus, objeto da galhofa de Bolsonaro pela cor inusual, rosa, é dos refrigerantes mais deliciosos que já tive oportunidade de experimentar. Nem por esse caminho a piada parece aproveitável.

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