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O quadro pede estratégia e ela não existe
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O quadro pede estratégia e ela não existe

Tipo Opinião
CArlus campos (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos CArlus campos

A ideia de que o atual presidente da República precisa ser derrotado nas próximas eleições, marcadas para o ano de 2022, precisa de algo mais do do que apenas o desejo de quem lhe faz oposição para vir a se materializar. É fato que Jair Bolsonaro é menos forte para um projeto de permanência no Palácio do Planalto do que faz crer sua postura política e pessoal e do que imaginam seus fanáticos seguidores, que o têm como imbatível ou algo que valha. Porém, tirá-lo do cargo, numa disputa pelo voto do brasileiro, exige alguma inteligência estratégica que não se vislumbra presente à perspecticva dos que permanecem empenhados na missão, pela direita, pelo centro ou pela esquerda.

Alguma coisa do que é perceptível, inclusive, mais cria áreas de atrito do que de aproximação. Um olhar sobre a forma como se movimentam os setores ditos progressistas, por exemplo, indica uma certa dificuldade de conversa que tende a repetir os problemas de 2018 e, claro, o resultado pode ser igualmente frustrante. O PT fez, na semana, um gesto importante, ao tornar público que Fernando Haddad está autorizado, na hipótese de não vingar a recuperação dos direitos eleitorais de Lula, a se apresentar como pré-candidato à sucessão de Bolsonaro.

Demarcar posição é importante, o que significa em alguns aspectos colocar já agora nomes na mesa para uma discussão que leve, se necessário, a composições, alianças ou, até, pré-acertos quanto à eventualidade de um segundo turno. A experiência da última eleição, em que Ciro Gomes recusou-se a anunciar apoio a Haddad ajuda (ou deveria) no entendimento de que as coisas precisam estar postas desde logo para não se transferir as grandes decisões para os momentos em que a emoção prevalece e atropela a lógica, não raro. Acertar tudo desde o começo amplia as chances de os caminhos serem traçados com maior racionalidade.

Até porque a conversa para a próxima temporada eleitoral deve juntar antibolsonaristas de cabeças políticas diferentes, ou seja, a engenharia para construir uma frente de combate ao atual presidente vai requerer mais competência e paciência do que antes. A mesa deve ter lugar para, inclusive, gente que veio lá de dentro do movimento vitorioso três anos atrás e que hoje apresenta um sentimento legítimo de arrependimento diante do que assiste acontecer com o presidente que ajudou a eleger.

Tolerância será um ingrediente fundamental para as conversas evoluirem e, sabe-se bem, trata-se de um produto em falta no mercado da política brasileira contemporânea, aliás, uma das marcas principais da era Jair Bolsonaro.

Deputado Heitor Férrer
Foto: DEÍSA GARCÊZ/Especial para O POVO
Deputado Heitor Férrer

Com "P" maiúsculo

Em tempos de tanta política rebaixada como regra, vale destacar o comportamento do deputado estadual Heitor Férrer. Oposição à gestão Camilo Santana sim, firmada e reafirmada sempre que necessário. Porém, nos debates da semana sobre a adoção de medidas mais duras no combate à Covid-19 sua voz foi uma das que que mais enfaticamente defendeu as ações do governo como necessárias diante do quadro sanitário grave. Com direito a puxão de orelhas em quem ficou contra apenas para ser do contra.

A confusão continua

Aliás, lá está de novo o deputado do Solidariedade em sua briga particular que vem do início do atual mandato para se diferenciar do homônimo federal, de sobrenome Freire, do PSL, autor de uma proposta tramitando em Brasília que prevê o fim da obrigariedade para o uso de máscaras pelos brasileiros. Muito cobrado por eleitores, especialmente nas redes sociais, Heitor, o Férrer, tenta se desvincular da iniciativa, que, diz, nunca teria seu voto. Muito menos sua assinatura como autor.

Luiz Pontes, presidente estadual do PSDB
Foto: ALEX GOMES
Luiz Pontes, presidente estadual do PSDB

De volta pra casa

Ex-senador, ex-deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa, atualmente no comando estadual do PSDB, Luiz Pontes deixou o hospital na semana após dramáticos 56 dias numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI). É mais uma figura da política que teve de enfrentar uma autêntica guerra contra o novo coronavírus, mas, para alegrias de amigos, familiares e correligionários, a história dele teve um final feliz.

Dois presidentes, 2 estilos

Quem quis, notou: é abissal a diferença de linha entre o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP/AL), e seu colega de comando do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM/MG). Enquanto o primeiro marcou sua chegada com uma festa de arromba na noite de segunda-feira, com direito a muita gente sem máscara, bebida cara à vontade, confraternização com figuras do governo etc, o segundo permaneceu na mais absoluta discrição. Comemorou sem barulho, como pedem os tempos.

Rodrigo Pacheco, novo presidente do Senado
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Rodrigo Pacheco, novo presidente do Senado

Um aliado sob análise

Aliás, há quem nas bancadas de partidos progressistas de oposição no Senado garanta que Rodrigo Pacheco vai surpreender àqueles que o identificam como aliado incondicional do presidente Bolsonaro. O que justicaria (a expectativa) o apoio que recebeu do PT e o fato de o cearense pedetista Cid Gomes, agora líder do seu partido na Casa, ter sido um dos fiadores da candidatura em conversa com vários senadores que tinham dúvida sobre o voto.

As forças da oposição

A primeira semana de trabalhos mostrou que o prefeito José Sarto não terá vida fácil com a Câmara que se instalou junto com ele na política de Fortaleza para a dinâmica dos próximos quatro anos. A atenção no Paço é especial com o vereador Inspetor Alberto, espécie de "André Fernandes mais velho" e aparententemente até mais agressivo. Há quem diga que, na frente dele, o deputado é uma pessoa equilibrada. 

Capitão Wagner
Foto: FCO FONTENELE
Capitão Wagner

O papel do Capitão

O Capitão Wagner, apesar da derrota objetiva na tentativa de se eleger prefeito de Fortaleza, saiu das urnas em 2020 mais fortalecido em sua projeção política. Por isso, inclusive, é que já não demonstra a mesma resistência de antes à ideia que se tenta alimentar no seu entorno de buscar na próxima eleição, ano que vem, uma nova disputa majoritária para ele. Sem ainda uma posição definida sobre qual das três vagas que estarão disponíveis numa chapa conviria mais: a de governador, a de vice ou a do Senado.

A questão é que isso exigirá uma certa reengenharia política, já que a vaga quase certa que ele teria numa busca de reeleição precisaria ser mantida com alguém da confiança do hoje deputado federal, que, inclusive, acaba de assumir a liderança da bancada do seu partido, Pros, na Câmara. É tudo muito prematuro ainda, a fase é de pura especulação, mas uma simulação que já gera uma certa simpatia é a que aponta a mulher dele, Dayany, como a pessoa indicada para ocupar o espaço que se abriria. Claro que a depender, fundamentalmente, de um OK da própria, que nunca sinalizou qualquer intenção de ir pelo caminho da vida pública. Agora, não seria uma solução inédita, há exemplos semelhantes aos montes na literatura política, local e nacional.

Há quem considere ser ainda muito cedo para se começar a falar em articulação para a próxima eleição ainda sem que as feridas da anterior estejam, de todo, saradas. Acontece que o tempo da política quem faz é a política, havendo um entendimento de que à oposição, em especial, cabe precipitar os passos e antecipar movimentos como forma de reduzir a desvantagem natural em relação àqueles sentados sobre o poder e uma máquina que potencializam uma candidatura, independente do nome. Como fala-se de encarar uma estrutura que tem sob controle o governo estadual e a prefeitura de Fortaleza, de fato, a pressa é quase uma consequência.

 

Foto do Guálter George

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