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Como balançam as democracias
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Como balançam as democracias

Tipo Opinião
 (Foto: 1402gualter)
Foto: 1402gualter

Foi uma semana pesada, a que passou, para a democracia do Brasil contemporâneo. O que veio ao debate público sobre os bastidores da operação Lava Jato, em novos trechos dos diálogos captados por hackers entre procuradores responsáveis por uma acusação e o juiz a quem competiria julgá-la, é suficiente para fazer balançar muito a ideia de que ali tivemos o conceito de justiça efetivamente aplicado. Detalharemos melhor mais adiante, porque antes preciso citar o outro episódio, em escala e perspectiva diferentes, que tirou o sono de quem teima em aceitar como normais os dias vivenciados na política nacional dos últimos anos: a confissão do general Villas Boas de que, de fato, era uma ameaça real sua postagem no Twitter em 2018 no momento em que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se reuniram para analisar um pedido de habeas corpus em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, concedido, poderia ter-lhe permitido disputar as eleições daquele ano contra Jair Bolsonaro.

General do Exército, Eduardo Dias da Costa Villas Bôas
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
General do Exército, Eduardo Dias da Costa Villas Bôas

A questão, sobre esse caso do então comandante do Exército, hoje na reserva, é que ainda havia quem interpretasse a tal mensagem como um recado mais geral, para mostrar que as Forças Armadas estariam prontas diante de qualquer conturbação à ordem. Qualquer conturbação, de qualquer viés ideológico, ou seja, em tese os militares anunciavam-se prontos para cumprir o papel de fiadores da democracia que realmente lhes cabia diante da situação. Pois o general dá agora uma entrevista para esclarecer que, ao contrário desse entendimento ingênuo de alguns, era um recado direto aos ministros do STF e o objetivo era mesmo exercer pressão para que eles não soltassem o Lula. Com o agravante, agora informado, de que era um acerto com o Alto Comando. Estivemos às portas de um golpe, simplesmente isso.

Um cenário diretamente relacionável, pelo personagem Lula, à maneira como se portavam os envolvidos com a barulhenta Lava Jato pelos lados do Ministério Público e da Justiça, já tratando do outro caso que justifica este texto. O episódio do general Villas Boas e do STF ficou pra trás, não há mais o que se fazer senão colocar nos registros para que a história cuide dele, ao contrário da operação da turma de Curitiba ainda pulsando, que na semana teve sua 80ª fase deflagrada, em plena confusão de um julgamento na semana que expôs as vísceras de uma forma malandra de se agir em nome do Estado. Não há outra forma de definir o conteúdo do que tem sido vazado, agravado pelo aspecto em que os envolvidos nunca se dispuseram a ser enfáticos na negativa. Arriscam-se, no máximo, a sugerir edição de trechos.

Algumas das perdas pessoais registradas são irreparáveis, casos de que quem morreu ou de quem tenha sido eventualmente levado à prisão de maneira injusta por um tempo, mas, em nome da saúde futura da nossa combalida democracia e do Estado de Direito, a coisa precisa ser esclarecida na sua profundidade. Se há injustiça, inclusive agora com procuradores, magistrados, policiais e outros agentes públicos citados nas várias conversas vergonhosas que aconteciam via Telegram e terminaram vazadas, ela precisa ser identificada para que os responsáveis sejam punidos de maneira exemplar.

Uma democracia que valha pelo nome que carrega nunca reagirá com o silêncio e a omissão diante de episódios com a gravidade do que tem sido revelado nos últimos meses, dias e horas.

Eduardo Bismark, deputado federal
Foto: Tatiana Fortes
Eduardo Bismark, deputado federal

Proveitoso primeiro mandato

A bancada cearense deve confirmar na quarta-feira o deputado Eduardo Bismarck (PDT) como seu coordenador. Aliás, é notório o crescimento político do parlamentar de Aracati, que foi eleito para nova mesa diretora da Câmara, como 1º suplente. Para se ter uma ideia, os 358 votos que recebeu representam 56 a mais do que os recebidos pelo novo presidente Arthur Lira (PP-AL), que teve 302. Tudo isso, no primeiro mandato na Câmara.

Desastre, na Saúde e no Senado

A articulação do Palácio do Planalto terá imaginado que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, teria talento político para neutralizar a CPI da Covid-19 indo para um debate no plenário com o senadores? Ou não o conhece, o que é pouco provável - já que o homem que toca a articulação hoje é outro oficial do Exército - ou, mais provável, não sabe o que é política. Depois de Pazuello, a Comissão, que já tem as assinaturas necessárias, é quase inevitável.

Fato, versão e política

A demissão da secretária de Saúde, Janini Filgueiras Rosas, um mês e pouco depois da posse e em meio ao agravamento do quadro de pandemia, gerou burburinho político em Barbalha. Os adversários já tocavam fogo na história, apimentando-a politicamente, quando o prefeito Guilherme Saraiva (PDT) correu a esclarecer que ela fora aprovada em concurso do Estado e precisava se apresentar em Juazeiro do Norte, o que exigiu o afastamento. Tão logo possa, informa que vai requisitá-la de volta.

Enquanto isso...

A pauta da reforma da previdência tem potencial para tocar fogo na Câmara de Fortaleza na agenda de 2021. Ainda não se conhece movimento objetivo na organização das forças para as batalhas que se espera em plenário, mas o Paço Municipal não está parado e se prepara bem para o que está por vir. Houve prefeito que correu e fez as adequações à nova realidade nacional logo, mas, aqui, Roberto Cláudio preferiu deixar para o sucessor. Será que Sarto agradece?

"Renovação", de novo

Lá vem ele de novo: aquele movimento RenovaBR, que tem entre seus patrocinadores Luciano Huck, o apresentador de TV que vive sonhando em disputar a presidência da República, abriu inscrições para mais um curso de formação de lideranças. Para lembrar, fruto de seu curso anterior o RenovaBR lançou, em 2018, 120 candidaturas e conseguiu eleger 17, sendo mais notório o caso da deputada federal (hoje) Tábata Amaral.

Tábata e Mayra

Um detalhe, há gente espalhada por vários partidos e como ponto comum, que talvez o currículo precise adequar melhor, são, em geral, parlamentares indisciplinados em relação às orientações partidárias. A própria Tábata tem uma trajetória conflituosa com a cúpula pedetista. No Ceará, onde o movimento não elegeu ninguém, a "estrela" foi a doutora Mayra Pinheiro, derrotada como candidata ao Senado pelo PSDB, e que hoje integra a controversa equipe do Ministério da Saúde de Jair Bolsonaro.

A autonomia em votos

A matéria mais importante votada na semana, na Câmara dos Deputados, foi a que prevê autonomia do Banco Central. Um projeto tramitando há 30 anos com perspectiva de sérios desdobramentos sobre a economia, bons ou ruins conforme o interlocutor político, que os parlamentares atuais entenderam não precisar mais de discussão e que, numa hora de atenção máxima à pandemia e ao avanço da Covid-19 sobre os brasileiros, colocaram pressa na votação e decidiram encerrá-la. Aprovando. É bom ver, para cobrar depois se for o caso, como votaram os 22 deputados da bancada cearense na Casa. Confira:

SIM

Aníbal Gomes (MDB)

Célio Studart (PV)

Gorete Pereira

Heitor Freire (PSL)

Júnior Mano (PL)

Pedro Bezerra (PTB)

AJ Albuquerque (PP)

Capitão Wagner (Pros)

Danilo Forte (PSDB)

Domingos Neto (PSD)

Genecias Noronha (SDD)

Moses Rodrigues (MDB)

NÃO

André Figueiredo (PDT)

Idilvan Alencar (PDT)

José Guimarães (PT)

Leonidas Cristino (PDT)

Denis Bezerra (PSB)

Eduardo Bismarck (PDT)

José Airton (PT)

Robério Monteiro (PDT)

AUSENTES

Doutor Jaziel (PL)

Vaidon Oliveira (Pros)

 

Foto do Guálter George

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