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O exemplo de 2019 ficou em 2019
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O exemplo de 2019 ficou em 2019

Tipo Opinião

Sou daqueles que coloca a oposição no mesmo plano do governo quando se trata de uma ideia correta do que seja democracia em seu estado pleno. Aliás, quanto mais fortes e legitimadas forem as vozes do contra mais forte e legítimo será o exercício de poder por aquele que esteja ocupando-o, desde que, claro, o faça respeitando o direito dos contrários. No campo teórico é isso.

No mundo real, olhando para o cenário político do Ceará, até vislumbro alguns momentos de compreensão dessa realidade da parte dos atores que hoje preenchem os espaços da disputa. Por exemplo, foi muito bacana a forma como, no começo de 2019, oposição e governo articularam-se juntos para estabelecer uma política de Estado no enfrentamento de facções criminosas que decidiram estabelecer uma guerra contra o governo do reeleito Camilo Santana, utilizando-se para isso do medo da sociedade.

À época, o senador recém-empossado Eduardo Girão (Podemos) e o deputado federal Capitão Wagner (Pros), talvez os grandes expoentes oposicionistas a Camilo, naquele momento e agora, colocaram-se à disposição do governador. E, valendo-se de uma proximidade com o novo governo de Jair Bolsonaro, ajudaram a abrir portas importantes para uma reação necessária à ousadia do crime organizado. Foi bonito de ver e com resultados concretos ao final.

Uma coisa diferente, e pior, registra-se agora no caso da pandemia e das ações de combate ao novo coronavírus. Infelizmente, aquela disposição de armistício em função de algo maior, de se tentar estabelecer um limite até onde fosse possível unir forças em defesa de quem não tem a ver com as diferenças que movem a política, com este "p" minúsculo mesmo, ficou lá atrás e a população se vê no meio de uma troca de acusações sem fim e sem sentido, muitas vezes, praticamente desde quando a crise começou. Além do peso diferenciado que apresenta atualmente o fator Bolsonaro, simbolizado por um presidente da República que só aparece na história para tocar fogo e criar mais desentendimento, prato cheio para quem prefere a briga ao diálogo.

Como entre um momento e outro houve um motim de setores da Polícia Militar e aconteceu uma disputa tensa e apertada pelo poder em Fortaleza, a verdade é que chega-se aos dias de hoje sem que o exemplo lá do começo de 2019 sirva mais de parâmetro. É possível que o cheiro de eleição, a próxima, já esteja começando a contaminar as partes, influenciando suas decisões e comportamentos. Uma pena.

Arte de Carlus Campos
Foto: Carlus Campos
Arte de Carlus Campos

Da aglomeração ao lockdown

Os prefeitos dos sete municípios da Ibiapaba decretaram conjuntamente, a partir de hoje, início do estado de lockdown devido ao forte avanço do novo coronavírus na região. Dentre eles, Tianguá, vamos lembrar, onde Bolsonaro esteve pouco mais de uma semana atrás, causou aglomeração, mandou desfazer as barreiras que impediam o povo presente de se juntar etc. O prefeito Luiz Menezes (PSD) esteve presente e foi muito vaiado na ocasião pelos bolsonaristas, o que talvez queira dizer alguma coisa.

Pode explicar, mas justifica?

O nome do senador Cid Gomes, líder do PDT no Senado, anda sendo bastante mal falado nas redes sociais nos últimos dias por estratégia dos seus adversários, especialmente a turma ligada ao bolsonarismo no Ceará. É que ele votou contra o auxilio emergencial por discordar do que considera "chantagem" do governo ao vinculá-lo à admissão de novas regras de ajuste fiscal. Sua briga em plenário foi por desvincular os temas, não conseguiu e, por isso, foi contra o texto apresentado.

Senador Cid Gomes (PDT)
Foto: DIVULGAÇÃO
Senador Cid Gomes (PDT)

Para a história, vale o placar

É uma posição política, porque os acordos garantiam aprovação da matéria com folga - como comprovam os 62 votos favoráveis contra apenas 16 "não". Na prática, porém, o senador cearense deixou seu nome registrado entre os que oficialmente se posicionaram contrários a uma iniciativa que está pensada para amenizar o sofrimento das camadas mais pobres da população. Vai dar trabalho desfazer a impressão ruim que deixou, para ele, a fotografia daquele momento.

Glêdson Bezerra é prefeito de Juazeiro do Norte
Foto: Reprodução/Facebook
Glêdson Bezerra é prefeito de Juazeiro do Norte

Um por todos, todos por um

Os prefeitos de Barbalha, Guilherme Saraiva (PDT), do Crato, Zé Ailton Brasil (PT), e de Juazeiro do Norte, Gledson Bezerra (Podemos - foto), decidiram acertar entre si uma política unificada de combate ao novo coronavírus. Atitude acertadíssima, porque facilita muito a vida dos moradores das três cidades, coladas uma à outra, evitando diferenças de política local que poderiam colocar um êxito em risco pela simples falta de diálogo. E perceba-se que são três partidos diferentes.

As ameaças ao deputado

O deputado André Fernandes (Republicanos) diz estar sendo ameaçado e, durante a semana, apresentou a reprodução de posts em suas redes sociais com mensagens agressivas que recebeu e que atribui a alguém "conhecido, frequentador da Assembleia e que claramente tem problemas mentais". Ele reclama haver solicitado proteção ao governo do Estado, que até hoje não lhe teria apresentado qualquer resposta às demandas. A coluna procurou o Governo, mas ninguém sabia de nada sobre o assunto.

Evandro Leitão (PDT), presidente da Assembleia Legislativa do Ceará
Foto: Deisa Garcez/Especial para O Povo
Evandro Leitão (PDT), presidente da Assembleia Legislativa do Ceará

O apoio do presidente

A questão é que caberia à própria mesa da Assembleia tomar as providências para proteger um integrante seu que esteja sob ameaça. Isso não tem a ver com postura política, vínculo partidário, amizades ou inimizades. Acontece que é preciso estar ciente da situação, coisa que teria acontecido apenas depois de André Fernandes ir às redes sociais, seu habitat natural, denunciá-la. Sabe-se que depois disso, informado, o presidente Evandro Leitão (PDT) procurou o colega e se colocou à disposição.


Foto do Guálter George

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