Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Lula reapresentou-se no cenário da política oferecendo todas as indicações possíveis de que, sim, está pronto para o jogo eleitoral de 2022.
No longo pronunciamento de abertura e nas respostas aos jornalistas na fase seguinte de entrevista, durante o evento de hoje no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, era perceptível seu esforço de respeitar um limite imaginário que parecia traçado a fim de mantê-lo numa linha de racionalidade, evitando-se que algum acidente de percurso eventual acabasse servindo à ideia, que segmentos políticos tentam emplacar, de que o PT representaria, na verdade, apenas o outro lado do bolsonarismo. A tal simetria dos extremos.
O momento em que a estratégia parece ter balançado foi diante de uma pergunta envolvendo o ex-aliado pedetista Ciro Gomes, para quem a decisão do ministro do STF, Edson Fachin, de anular as condenações do juiz Sergio Moro contra Lula não lhe dá ainda certeza quanto à honestidade do petista.
Com aquele jeito de quem precisa contar até 10, ou 100, para evitar uma explosão, Lula, inicialmente, questionou, consigo próprio e em voz alta, se tal situação "merecia resposta". Concluiu que sim, possivelmente, já que imediatamente depois foi à jugular de Ciro, que chegou a definir como alguém que se acha "professor de Deus".
Reclamando a ele que se reeduque, lembrando que tem 64 anos e já dá para adotar posturas mais maduras no debate político, mas, em especial, Lula queixou-se da forma desrespeitosa como o pedetista cearense, que quer ser candidato à presidência da República de novo em 2022, dirigiu-se outro dia à ex-presidente Dilma Rousseff, ao considerar a eleição dela um "aborto político".
O momento Ciro, porém, acabou sendo o único em que Lula saiu do script. De resto, mirou no presidente Bolsonaro e sua gestão, estabeleceu uma polarização clara no sentido de apontar um jeito diferente de lidar com os problemas de hoje no Brasil e no mundo, passeou por todos os temas que permitiam estabelecer um contraponto entre suas prioridades e visões políticas e as do atual governante.
O principal aspecto do evento é que ele pode representar, para Lula e o PT, um passo inicial necessário no caminho de preencher de maneira mais clara um vazio ainda inexistente no campo das oposições a Bolsonaro. Lula, que depois de tanto tempo de estrada não precisa mais demonstrar sua capacidade de oratória pessoal ou talento político para o diálogo, precisará apenas manter o sangue frio demonstrado na reaparição pública acompanhada com atenção rara pelo ambiente do poder nacional.
O resultado do movimento de hoje parece ter sido bom, sem haver certeza de que o de amanhã também o será.
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