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O dia mais triste do tempo mais triste
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O dia mais triste do tempo mais triste

Tipo Opinião
O pesquisador Gilmar de Carvalho também era jornalista e escritor (Foto: Lia de Paula, em 15/09/2005)
Foto: Lia de Paula, em 15/09/2005 O pesquisador Gilmar de Carvalho também era jornalista e escritor

Foi o meu pior domingo nesse um ano e tanto de pandemia. E olhe que eles não têm sido ensolarados diante de um quatro de perdas recorrentes, algumas tão próximas que se assemelham àquelas que nos tocam quando é alguém da família que se vai.

Agora, no campo pessoal, nada pareceu comparável ao que representou acordar neste dia 18 e ser informado de que morrera Gilmar de Carvalho. Por mais que já se esperasse como desfecho quase inevitável de sua batalha heróica contra o vírus, foi um choque.

O Ceará ainda não se deu conta do tamanho da perda, para além dos protocolares registros de sua morte por autoridades, a começar pelo governador Camilo Santana.

Um tempo ainda será necessário, inclusive porque, infelizmente, nada indica que a covid-19 já tenha chegado à fase de controle, ou seja, mais mortes acontecerão ainda, para que se perceba, de verdade, o vácuo aberto pelo desaparecimento de alguém com o talento, a dedicação, a sensibilidade e a inteligência de Gilmar de Carvalho. E, buscando resgatar o sentido mais puro de um termo inventado que o mau uso desgastou, a cearensidade.

Os privilegiados que tivemos o prazer de conhecê-lo sabemos o tamanho do prejuízo e não temos dúvida de que é irreparável. Não haverá outro Gilmar de Carvalho, é, simplesmente, impossível.

Não há como existir outra pessoa com o mesmo humor cortante, não necessariamente feito para rir, a mesma capacidade crítica de abordar a política, muito embora não servindo ao que entendemos como notícia, compromisso igual de pesquisar e descobrir o que é rico nas manifestações culturais populares, sem que isso lhe trouxesse ganho material nenhum e, ao contrário, impondo-lhe sacrifícios pessoais.

O professor Gilmar de Carvalho foi orientador do meu trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social, um tempo bom atrás.

Não sei se chegaria ao fim daquela jornada fosse outro a acompanhar-me, porque a palavra que precisava para tocar adiante estava sempre com ele, a disposição para ajudar no limite do que cabia ao professor como sua missão nunca faltava, e, mais importante, sempre havia verdade nas suas intervenções.

Fosse para elogiar ou para criticar, o tom era exatamente o mesmo, sem alteração ou euforia, percebia-se gestos que, quase neutros, fluíam como se estivessem querendo conjugar o verbo ajudar.

Certamente, com seus métodos e prevenções, Gilmar de Carvalho deveria estar preparado para nos deixar. A dúvida, muito minha, é quanto à nossa capacidade de seguir viagem num mundo onde não haverá mais Gilmar de Carvalho.

Foto do Guálter George

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