Logo O POVO+
Ser presidente é mais do que discursar
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Ser presidente é mais do que discursar

1605gualter (Foto: 1605gualter)
Foto: 1605gualter 1605gualter

Vou dizer o que é que, de verdade, me incomoda em Jair Bolsonaro: o seu descompromisso quase absoluto, e até irresponsável, com a parte litúrgica do cargo que ocupa. Um presidente da República, por exemplo, não pode ter aquele comportamento que tem apresentado nas últimas oportunidades em que tá discursado, participando de eventos de governo, referindo-se às pessoas da maneira que o faz, valendo-se de termos ofensivos e depreciativos contra adversários que se colocam na condição legítima de lhe fazer oposição. Ou não há espaço para isso na sua compreensão de política? Na prática, ele atua para que o cenário de perturbação política se agrave, na contramão do que seria seu insubstituível papel diante do momento crítico.

Não importa que a militância apaixonada de Bolsonaro queira ouvir o que ele diz, ao vivo ou em suas agitadas redes sociais. Então, que cuide ele de organizar eventos para uma programação paralela à que cumpre como Chefe da Nação, sem caráter governamental e voltada apenas para o grupo seleto que o adora e que precisa se alimentar de sua oratória (cá entre nós, bem ruim), para se manter mobilizado e ativo. Este não é um tema de interesse do Estado, portanto, mantê-lo no embrulho da agenda oficial apenas reforça as razões para que identifiquemos na falta de zelo com seu papel institucional o mais grave defeito do comandante que a urna nos deu em 2018.

Parece inaceitável que a pretexto de atacar adversários, equivocadamente tratando-os como inimigos o tempo todo, o presidente, aqui dispensando-se qualquer identificação que lhe dê pessoalidade, faça uso de argumentos que ressaltam defeitos físicos dos outros, pouco interessando no caso que sejam aliados ou opositores. São pessoas. Também aqui vou evitar nomes para evidenciar que não se trata de uma questão da briga específica de "a" contra "b", de fulanizar, mas, reforçando, de dizer que chegou a hora de pararmos de naturalizar um comportamento que é exemplar no sentido bastante negativo do termo.

É esperado de quem senta na cadeira onde está a figura pública mais importante e visada do País uma conduta na qual a sociedade se espelhe para busca de convivência de todos dentro de um ambiente civilizado e democrático. Ou se deve desprezar que mesmo em meio à onda espetacular que fez Bolsonaro avançar ao Planalto, em 2018, mais de 47 milhões de eleitores foram às urnas para dizer que preferiam outro nome?

O fato é que Bolsonaro ganhou de maneira legítima e se há alguém que coloca isso em xeque é o próprio, dentro do mesmo contexto de imprudência, apontando dúvidas no sistema brasileiro de votação que o levou à posição em que está. Já passou da hora dele se mostrar digno, como referência boa, do voto de confiança recebido de outros 57 milhões de brasileiros, olhando-se para além dos que estão ao seu lado apenas por fanatismo.

Perdas e brigas no DEM

Alguém tem notícia do DEM no Ceará? Por aí o partido está sofrendo baques importantes, como a perda de espaço em dois estados influentes com os anúncios de saída do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que vai para o PSDB, e do deputado federal Rodrigo Maia, do Rio de Janeiro, que se filia nos próximos dias ao PSD. Aliás, caminho que também deve seguir o prefeito carioca Eduardo Paes e que levará a uma batalha judicial com o anúncio de que a executiva quer a expulsão de Maia e brigará para tomar o seu mandato na Câmara.

No Ceará, tudo como dantes

Chiquinho Feitosa, o presidente da executiva estadual, tem sua estratégia traçada para o próximo ano e ela tem a ver apenas com a realidade local. Ou seja, movimentos que acontecem além Ceará devem ter influência reduzida por aqui, lembrando-se do grande esforço que fez ano passado para reforçar a aliança em torno da candidatura do pedetista José Sarto à prefeitura de Fortaleza. Chiquinho, hoje 1º suplente de Tasso Jereissati, quer voltar à Câmara Federal, onde já esteve pelo PSDB.

O sertão, no caso, virou mar

Com presença anunciada na CPI da Covid para a próxima quinta-feira, dia 20, a médica cearense Mayra Pinheiro, secretária de Gestão de Trabalho do Ministério da Saúde, alimenta alguma expectativa quanto à sua participação postando nas redes sociais a letra da música Disparada: "prepare o seu coração, pras coisas que eu vou contar..." Para agregar mais mistério, porque pode ser uma atitude desafiadora tanto aos senadores oposicionistas como mesmo em relação ao Planalto, destaca como texto seu outro trecho marcante da obra, em tom exclamativo: "eu venho lá do sertão!" Detalhe: Mayra nasceu em Fortaleza.

Senador Tasso Jereissati (PSDB_CE)
Senador Tasso Jereissati (PSDB_CE) (Foto: DIVULGAÇÃO)

Bom de caciques, por enquanto

Internamente, pelo menos, o senador cearense Tasso Jereissati avança mais uma casa na pré-disputa pela indicação como candidato à presidência da República pelo PSDB ao receber o apoio público e aberto de Fernando Henrique Cardoso. O problema para ele continua sendo se mostrar viável para fora dos muros tucanos, algo que ainda não aconteceu, embora, de verdade, ninguém ainda tenha demonstrado força real para furar a polarização Lula contra Bolsonaro. Sua aposta é de que a terceira via será viabilizada mais adiante e, nesse caso, o nome dele aparece mesmo embolado com os outros.


Enquanto isso, no MDB

Os movimentos partidários que olham para 2022 se intensificam no Ceará e mais adiante veremos como se adequarão à arrumação das alianças. O MDB é um dos mais ativos no mercado político e, na semana, deu uma arrumada na expressiva bancada que tem na Assembleia, com oito deputados, definindo Davi de Raimundão como novo líder e o novato Rafael Branco, que assumiu a vaga aberta com a licença de Leonardo Araújo, no posto de vice. Ambos, talvez uma coincidência, originários do Cariri.

Dinheiro extra à vista

Prefeitos esfregam as mãos no aguardo de 1º de julho, quando deve pingar na conta dos municípios o adicional de FPM determinado pela Constituição em dois repasses anuais. O total previsto para ser distribuído, segundo cálculos da Confederação Nacional dos Municípios, passaria de R$ 4,7 bilhões, estimando-se que a parte líquida cearense chegue a R$ 238,9 milhões. Dinheiro bom, mas os gestores de primeira viagem, em especial, vêm sendo orientados a fazer uso racional dele porque os tempos seguem bicudos.

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?