Logo O POVO+
A CPI, os senadores e as eleições
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A CPI, os senadores e as eleições

Fechando sua terceira semana de trabalhos, a CPI da Covid vem apresentando balanço expressivo e conta com dois representantes cearenses com duas visões que se chocam sobre o que tem acontecido
Tipo Análise
2305gualter (Foto: 2305gualter)
Foto: 2305gualter 2305gualter

A CPI da Covid fechou sua terceira semana de trabalhos apresentando, até agora, um balanço bastante expressivo. Tem avançado bem, suas sessões mobilizam audiências a cada dia maiores, especialmente no ambiente das redes sociais com transmissões ao vivo que se multiplicam, e o incômodo dentro do governo com o que acontece no Senado aparece de maneira cristalina nas reações do clã Bolsonaro e de figuras que participam de uma disputa simbólica pela condição de aliado mais fiel.

Há, no grupo que compõe a CPI, dois representantes cearenses e, neles, duas visões que se chocam sobre o que tem acontecido e os primeiros resultados obtidos. Tasso Jereissati, do PSDB, forma no pelotão dos que têm feito perguntas incômodas e considera que já existem registros graves de comportamentos de dentro do governo que podem ter concorrido para os números trágicos de vítimas da pandemia, entre contaminados e mortos. Portanto, o tucano está na turma que considera que a investigação parlamentar a cada dia se mostra mais correta e necessária.

Por outro lado, Eduardo Girão, do Podemos, diz ter chegado à conclusão de que a CPI perdeu todo o seu crédito junto à população. "Tenho ouvido isso das pessoas nas ruas", informou à coluna, relatando uma visita recente ao mercado São Sebastião onde várias pessoas o teriam abordado para reclamar da situação e do comportamento, em especial, do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), devido à sua parcialidade. "Gente inclusive que se dizia de esquerda veio conversar comigo e se queixar da postura do Renan", aponta o senador, que desde o começo reclama da indicação do alagoano pelo fato, em especial, dele ser pai do atual governador, Renan Filho, potencial alvo da comissão que em algum momento também deverá analisar posturas e atitudes de gestores estaduais e municipais. Aliás, sua crítica é de que está demorando para chegar a tal estágio.

Girão se anuncia integrante de um bloco independente na CPI, ou seja, alguém distante da briga radicalizada e polarizada entre bolsonaristas e antibolsonaristas. Até considera, numa avaliação muito própria, vir fazendo perguntas incisivas a integrantes e ex-integrantes do governo que passaram pelo Senado, ponto no qual precisamos divergir. Suas participações, excetuando-se o caso do ex-ministro Henrique Mandetta, hoje um notório opositor e crítico do presidente e seus aliados, costumam deixar os inquiridos confortáveis exatamente pela reduzida capacidade de gerar incômodo.

O fato é que a CPI, como já era esperado por um lado, está pautando a política nacional desde quando foi instalada, o que parece muito ruim para o governo. Por um outro aspecto, está servindo menos do que o esperado àquela perspectiva de possibilitar um palco imaginário para catapultar projetos eleitorais de 2022, mesmo considerado que há ainda uma longa caminhada pela frente. Tasso, buscando ganhar maior visibilidade nacional e virar opção à disputa presidencial na procura por um nome de terceira via, que não seja Lula e nem Bolsonaro; Girão, visto como potencial candidato ao governo do Ceará ano que vem, à frente da oposição. Planos diferentes que ainda não encontraram na Comissão um espaço ideal de conciliação com o objetivo principal de buscar entender o que aconteceu e acontece no combate à pandemia no Brasil que nos faz produir números tão crueis de vítimas. De fato, é um problema que pede respostas mais urgentes.

 

No papel, números gigantes

Há algo de ousado no planejamento do PSD para 2022 no Ceará, segundo números que apresenta o seu presidente, Domingos Filho, que, já se disse aqui, é um dos mais ativos articuladores políticos do momento. Sua ideia é que a legenda chegue ao processo eleitoral com representações na totalidade dos municípios cearenses, com a perspectiva de se organizar nos 12 que ainda faltam até julho próximo, e, fortalecido, sair das urnas com oito deputados estaduais eleitos e cinco federais.

De olho numa cadeira nova

Domingos Filho, mesmo que exista gente garantindo o contrário, assegura que não disputa cargo proporcional na próxima eleição. O nome dele está posto para uma disputa majoritária e o que tem dito a interlocutores é que voltar à cadeira de vice-governador não lhe atrai, sobrando para as conversas as vagas para governador e senador. A preço de hoje, e imaginando o PSD seguindo na aliança que governa o Ceará hoje, precisaria atropelar os planos do PDT, com Roberto Cláudio, e do PT, com Camilo Santana, respectivamente. Convenhamos, é muita coisa.

Da suplência à liderança

Quem anda com muita moral com os colegas da Câmara, pelo que andou demonstrando nos últimos dias, é o deputado federal Odorico Monteiro. Apesar de estar de volta a Brasília apenas para uma temporada, na condição de suplente que assumiu até agosto o mandato do licenciado Denis Bezerra, o parlamentar cearense orientou a bancada em praticamente todas as votações importantes da semana, especialmente na polêmica MP que escancara a Eletrobras à privatização. Delegado pelo líder, o pernambucano Danilo Cabral.

Adeus à Câmara após 5 mandatos

Guilherme Sampaio já decidiu e tem comunicado isso a várias pessoas próximas: está no seu último mandato como vereador em Fortaleza. Considera que chegou ao limite do que é possível fazer na função e pretende abrir espaço para novas lideranças que, garante, existem dentro do PT. Na sua própria corrente, Resistência Socialista, afirma estar percebendo a chegada de gente disposta a ocupar espaços e imagina que com disposição pessoal maior para a luta que envolve um mandato parlamentar.

Planos futuros, mandato à parte

Não é uma aposentadoria política, até pelo fato de ser ainda jovem, com 50 anos recém completados. Em, 2022, por exemplo, Guilherme Sampaio faz planos de disputar uma vaga à Assembleia Legislativa, o que representaria um desafio novo e que, certamente, lhe traria uma motivação pessoal diferente. Em qualquer circunstância, o que tem dito é que vai continuar fazendo política e vivendo. Na verdade, ele afirma que sua ideia inicial, da qual seria demovido pelo partido já era de não ter sido candidato no ano passado.

O bicho pega e o bicho come

O vereador Inspetor Alberto, com discursos como o que apresenta na frase abaixo, em destaque, mostra um absoluto despreparo para o exercício da política parlamentar, mesmo que esteja legitimado pelos votos de 7 mil e 301 fortalezenses no mandato que exerce no legislativo da Cidade. O problema do conteúdo da fala é que ela também expõe sua incapacidade para atuar como representante do Estado no aparelho de segurança, de onde vem. Portanto, sua volta à origem preocupa tanto quanto a permanência onde está.

 

"Para o pessoal do MST só tem dois remédios: bala, bala muita, ou mandar esses terroristas para fora do País"

Inspetor Alberto (Pros), vereador, em pronunciamento no plenário virtual durante votação na Câmara de Fortaleza, quinta-feira, de requerimento propondo homenagem ao Movimento dos Sem Terra apresentado pela vereadora Larissa Gaspar, do PT. O texto foi derrotado, com 19 votos contrários e 14 favoráveis

 

ESCUTE O PODCAST JOGO POLÍTICO

 

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?