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Voto a voto, um governo fraco
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Voto a voto, um governo fraco

Vislumbrado pelo caminho da institucionalidade o futuro de Bolsonaro não parece muito animador
Tipo Análise
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É compreensível que as circunstâncias atuais da política no Brasil criem uma certa concentração de atenção com o que acontece na CPI da Covid, do Senado, acompanhada de uma forma rara pela sociedade. Por mais que alguns digam que ela caiu no descrédito popular, tese que somente tem prosperado entre aqueles que se sentem desconfortáveis com o que há sido revelado ali em termos de omissões e erros do governo no combate à pandemia, a verdade é que cada sessão que acontece representa um passo a mais que se dá na direção de apontar grandes responsabilidades diretas do presidente Jair Bolsonaro pelos números trágicos que continuamos apresentando nas estatísticas da Covid-19.

Bom, mas a semana teve um pouco mais do que isso para calibrarmos a temperatura do País a partir do termômetro da política. Prestou-se pouca atenção, por exemplo, na sessão do Congresso Nacional que analisou um conjunto de vetos de Bolsonaro, parte deles à nova lei das licitações. Nenhum deles ficou de pé, uma parte devido à negociação dos líderes governistas com a oposição, é verdade, mas uma outra como resultado direto de uma medição de forças da qual o Palácio do Planalto saiu amplamente derrotado. Está demonstrado que a tal base consistente criada a partir de um acordo com o Centrão, de fato, inexiste.

O ponto que o governo bateu pé envolve um pacote no qual se destacavam dois vetos que miravam os jornais, focos de atenção negativa permanente do presidente, tirando uma obrigação legal de se publicar em veículos noticiosos todo edital destinado à abertura de licitação pública. Para Bolsonaro, o uso das plataformas digitais seria suficiente, tornando desnecessário um instrumento que tem servido à transparência durante longo tempo e que, detalhe, até caminha mesmo para ser substituído dentro de uma fase de transição acertada e já em vigência. Pois bem, após tensas e demoradas reuniões entre os líderes, decidiu-se que esses pontos iriam a voto porque ao Palácio do Planalto interessava que os vetos fossem mantidos.

Quer saber o resultado? No Senado, acachapantes 69 votos pela derrubada dos vetos e nenhum (0, em numeral) para que fossem mantidos; na Câmara, 420 se manifestaram contra a vontade expressa do presidente, na sua briga pequena com os veículos impressos, enquanto apenas 12 ficaram com a tese do governo. Parte deles, 7 dos parlamentares, por convicções ideológicas, nada a ver com qualquer simpatia ao presidente, integrantes que são da bancada liberal do partido Novo. Isso quer dizer que, no frigir dos ovos, Bolsonaro, com tratoraço e tudo, na verdade não tem uma base para chamar de sua no Congresso.

É um fato importante, mas que terminou meio encoberto por mais uma semana de CPI intensa, com os depoimentos das médicas Nise Yamaguchi e Luana Araújo, e pelo vergonhoso, para as Forças Armadas, desfecho do caso de indisciplina do general Eduardo Pazuello, ao participar de um ato político pró-Bolsonaro, com a decisão do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, de arquivá-lo por pressão explícita do Planalto. À medida em que o cenário assenta com maior clareza percebe-se um governo muito frágil, liderado por um presidente com apoio político e popular que a cada dia fica menor e, por isso mesmo, perigoso em relação à maneira como será capaz de reagir a uma derrocada final. Certo apenas é que vislumbrado pelo caminho da institucionalidade seu futuro não parece muito animador.

A doutora bombou nas redes

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Quando deu "bom dia" aos senadores para iniciar seu depoimento na CPI da Covid, na última quarta-feira, a médica Luana Araújo tinha pouco mais de 12 mil seguidores no Instagram. Quando deu "boa tarde" algumas horas depois, encerrando-o, o número pulara para quase 40 mil, numa mostra real de que sua performance fora aprovada. Além de ser outra demonstração de que os trabalhos da Comissão continuam gerando grande expectativa da sociedade, má notícia para o governo e os governistas. Para atualização: os seguidores da infectologista mineira somavam, ontem, 244 mil pessoas.

Um governador, enfim, na CPI

De qualquer maneira, a semana não foi de todo perdida pelo senador Eduardo Girão (Podemos), um dos que propala uma perda de confiança da população na CPI, que ele próprio integra. A operação da Polícia Federal no Amazonas semana passada finalmente levará um governador a ser ouvido pelos parlamentares, já na quinta-feira, com o depoimento de Wilson Lima (PSC), que teve a própria casa alvo de busca por agentes. Feliz mesmo Girão ficará, porém, quando tiver os governadores do Nordeste falando ao senadores, especialmente, se conseguir levar, o cearense Camilo Santana.

Sem tempo para os holofotes

Falando de CPI da Covid, ainda, chama atenção o absoluto distanciamento que mantém dela o senador cearense Cid Gomes (PDT), contrastando com os dois colegas de bancada - Eduardo Girão (Podemos) e Tasso Jereissti (PSDB) - sempre presentes e que até membros titulares são. Mesmo extraído o tempo de afastamento por ter sido infectado pelo vírus, Cid não deu as caras em nenhum momento nas sessões, um dos poucos de toda a Casa.

O deputado lembra que avisou

O cerco se fecha contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, e o deputado cearense do PV, Célio Studart, aparece para dizer: "eu avisei". De fato, há cerca de dois anos que o parlamentar protocolou pedido de afastamento dele do cargo, considerando lhe faltar "condição moral" para exercê-lo, ideia que, confirmado o que está hoje sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, parece ser a mais pura verdade. "A PGR optou por passar o pano enquanto pode", lamenta o parlamentar o tempo que se deve ter perdido numa área tão fundamental.

Um bolsonarista acode o outro

Até demorou um pouco, mas o deputado estadual André Fernandes (Republicanos) foi ao Iguatu para prestar solidariedade ao vereador e correligionário Rubenildo Cadeira, aquele que tentou homenagear o presidente Jair Bolsonaro com o título de Cidadão Honorário e terminou largado sozinho na estrada pelos colegas de Câmara. Lembrando que a homenagem passou numa primeira votação, veio uma forte reação popular e a apresentação de um outro projeto, anulando-a, que terminou aprovado tendo apenas um voto contrário: o do próprio Rubenildo.

A independência que incomoda

O Ferreiragomismo olha atravessado para os movimentos mais recentes do governador Camilo Santana (PT), por mais que ele seja cuidadoso em manter os porta-vozes do grupo informados sobre casa passo. Não há surpresas, portanto. No entanto, a conversa virtual de Camilo com Lula e o encontro com Eunício Oliveira, tudo numa mesma semana, geraram um mal-estar controlado. Passa, mas sempre deixa um gostinho ruim.

Bate-Pronto com José Airton Cirilo

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O deputado federal José Airton , que disputou o governo do Ceará pelo PT nas eleições de 1998 e 2002, está com o nome à disposição do partido para uma nova aventura do tipo em 2022. O que diz é que sente um ambiente muito parecido com aquele que levou à primeira vitória de Lula na disputa presidencial e que lhe deixou a apenas 3 mil e 047 votos do vitorioso Lúcio Alcântara na briga pelo Palácio da Abolição. Veja uma conversa rápida dele com a coluna:

O POVO - O senhor é pré-candidato ao governo do Ceará em 2022?

José Airton - Considerando a entrada em cena no jogo da disputa política do ex-presidente Lula e tendo a necessidade de construirmos um palanque leal e forte no Ceará, pela terceira vez colocamos nosso nome à disposição. Conversei com a presidenta nacional, Gleisi Hoffmann, com o líder na Câmara, deputado Bohn Gass, com Luizianne Lins e lideranças de outros partidos, como Eunício Oliveira (do MDB).

O POVO - Com o governador Camilo Santana, já conversou sobre o assunto?

José Airton - Ainda não, neste momento ele está focado no combate à pandemia e certamente só tratará de sua sucessão no próximo ano.

O POVO - Acredita em nova onda Lula, semelhante àquela de 2002?

José Airton - Acredito que há um sentimento de esperança com a volta do Lula e um grito na garganta da nossa militância, abafada pela fraude eleitoral que nos tirou a vitória em 2002, do Lula Lá e José Airton Cá. Poderemos reeditar a campanha mais memorável da história do Ceará

 

Foto do Guálter George

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