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A acadêmica aparência de uma universidade em paz
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A acadêmica aparência de uma universidade em paz

Tipo Opinião
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O clima de aparente tranqulidade na Universidade Federal do Ceará (UFC), depois do confuso processo sucessório que levou à escolha da terceira opção de uma lista com três nomes resultantes de consulta à comunidade universitária, é, reforçando o adjetivo, apenas aparente. Enquanto o novo reitor Cândido Albuquerque despacha no gabinete instalado no bucólico bairro do Benfica, parecendo finalmente acomodado no cargo e livre da forte resistência inicial, os corredores das várias unidades que espalham-se pelos campi da instituição fervilham. O clima ainda é de irresignação entre muitos.

Reitor Cândido Albuquerque, ao chegar à UFC
Reitor Cândido Albuquerque, ao chegar à UFC

Há um bastidor não contado da disputa, ali entre a decisão do Consuni e a oficializaçao de Cândido por Brasília, que um dia precisará vir a público com maior nível de detalhes para entendermos como o processo se desenrolou e o que de fato acabou sendo determinante para o desfecho que apresentou. É quando se entenderá melhor o papel que tiveram, entre perdedores e ganhadores, figuras políticas como o vice-prefeito Moroni Torgan (DEM), os senadores Tasso Jereissati (PSDB) e Cid Gomes (PDT), os deputados federais Heitor Freite (PSL) e Moses Rodrigues (MDB). Sem se falar no casal Doutor Jasiel e Doutora Silvana, do PR, parlamentares que aparecem no roteiro que se conhece como os principais e únicos (quase) responsáveis pela nomeação do novo reitor, embora se deva dizer que inclui-los na lista de protagonistas faz muito sentido.

De volta ao cenário de hoje, na formação da equipe de assessores diretos com os quais pretende trabalhar nos seus quatro anos de mandato, o novo reitor estaria recebendo alguns "nãos" esperados, a partir de convites quase protocolares, mas, por outro lado, há "sins" que causaram surpresas. É o caso de Mazzé Costa, que aceitou assumir a coordenadoria de Inovação e Desenvolvimento Econômico da Escola Integrada de Desenvolvimento. Uma decisão que chocou, porque nos primeiros 15 dias que se seguiram à nomeação de Cândido Albuquerque, a professora, candidata derrotada na disputa pela influente Faculdade de Educação, teve a voz identificada entre as que mais fortemente gritavam "fora interventor" pelos corredores da UFC. O clima começou a mudar quando ele enfim conseguiu passar a despachar na Reitoria, após longo tempo trabalhando na Casa de José de Alencar, distante dali 14 quilômetros, e o primeiro nome de sua agenda de audiências após se instalar de maneira definitiva no Benfica era, exatamente, o dela.

O ambiente permanece agitado em função de gestos, mas os "não gestos" também concorrem de maneira muito forte para a temperatura permanecer alta mesmo depois da parte formal do processo ser dada por concluída. É o que envolve, de maneira exemplar, o preenchimento das sete vagas de pró-reitores, considerando que em pelo menos cinco delas os convidados, que aceitaram, são identificados com o antecessor de Cândido, professor Henry Campos, um antibolsonarista convicto que, no tempo final de seu mandato deu muito trabalho a Brasília diante de sua capacidade de criticamente resistir e reagir a uma nova política educacional que, de maneira muito aberta, coloca a universidade pública na mira de um programa de desmonte. O silêncio de Henry diante da presença de aliados na nova gestão da UFC tem rendido debates e especulações.

Da mesma forma que anima as discussões por lá o distanciamento que Antonio Gomes tem adotado diante de toda a situação. Neste caso, menos pelo passado e mais diante do que pode dizer de futuro, considerando-se que o nome dele já estaria posto como potencial candidato à sucessão de Cândido Albuquerque, em 2023. Lembre-se que Gomes foi o segundo mais votado na consulta à comunidade universitária e tinha chances efetivas de vir a ser o escolhido de Bolsonaro, mas optou por retirar-se da lista quando de sua análise pelo Conselho Universitário. Agora, sabe-se pouco do que pensa sobre os primeiros passos do novo reitor, em outra atitude de silêncio que se tenta interpretar para entender.

É assim, entre silêncios e barulhos, que a UFC tenta se organizar melhor internamente para encarar os enormes desafios que a esperam pelos próximos anos. Uma parte deles, certamente, alinhada com o que pensa o novo reitor, crítico histórico do que considera vícios do ambiente acadêmico e disposto a enfrentá-los, mas, também, precisando ter disposição para se contrapor a ações governamentais contrárias a uma vocação institucional. É impossível pensar numa união absoluta de forças internas, mas não parece muito pedir que parte da energia seja preservada para uma luta comum em defesa da universidade e do seu futuro.

Em nome de São Francisco

Devoto de São Francisco das Chagas, o senador Tasso Jereissati está na lista dos homenageados de 2019 no novenário de Canindé com o troféu Artesão da Paz, entregue nesse sábado. Também uma forma de lembrar, como agradecimento, o fato de ter sido responsável pela construção há 30 anos, em sua primeira gestão como governador do Ceará, da Praça dos Romeiros, que tornou mais fácil à cidade receber milhares de fiéis todos os anos.

Dose dupla de pedetistas

Na agenda política, que nem sempre cruza com a pauta religiosa, Tasso teve uma sexta-feira de encontros com pedetistas em Fortaleza. Primeiro esteve com o presidente da Assembleia, José Sarto; depois, com o também deputado Salmito Filho. Coincidência ou não, dois nomes presentes à longa lista de prováveis candidatos à prefeitura de Fortaleza, sucedendo ao correligionário de ambos, Roberto Cláudio.

Dois encontros, dois assuntos

Coincidências à parte, o debate sucessório de Fortaleza teria estado distante da conversas. Com Sarto, esteve em pauta evento que a Assembleia realizará em 7 de outubro para lembrar os 30 anos da Constituinte Estadual, para o qual Tasso foi convidado. Salmito, por seu lado, foi colher assinatura de apoio do senador para proposta que sugere a meritocracia como critério de repasse dos royalties do pré-sal para estados e municípios

Toda honra à meritocracia

Salmito Filho, aliás, embarca amanhã para Brasília com a intenção de bater nos gabinetes de todos os parlamentares cearenses atrás de apoio. Por enquanto, além de Tasso, ele tem a assinatura do também senador Cid Gomes (PDT). Um debate está previsto para outubro na Assembleia Legislativa e o pedetista ressalta o aspecto de ineditismo na ideia de incluir o mérito entre os pontos definidores de quanto será destinado a cada município ou Estado como royalties.

Bate pronto

Francini Guedes define-se hoje como ex-político e garante ser uma posição definitiva. Ex-prefeito de Jaguaribara e ex-deputado estadual, muito ligado ao senador Tasso Jereissati, recentemente comandou a executiva do PSDB no Ceará. O anúncio de "aposentadoria" tem entre os motivos uma promessa à mãe, feita durante as comemorações pelos 95 anos dela, já em 2019. A coluna teve uma conversa rápida com ele na semana, confira:

O POVO - O senhor deixou a política?

Francini Guedes - Deixei. Sinceramente, não dá mais.

O POVO - Na família, pelo menos, haverá sucessores?

Francini Guedes - Ninguém nunca quis, sabia? Meus irmãos, minhas irmãs, sou o mais velho de todos, meus filhos... Tenho três filhos e nenhum demonstrou interesse.

O POVO - Nem mesmo em Jaguaribara (onde foi prefeito) quer mais influir, independente de candidatura?

Francini Guedes - Faço política agora da melhor forma. Vou a um comício para aplaudir o candidato, caso ele diga algo interessante, ou para vaiar, caso fale besteira (risos).

Foto do Guálter George

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