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A exemplar tragédia e o exemplo da política
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

A exemplar tragédia e o exemplo da política

Tipo Opinião
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Dá para afirmar que a política agiu no limite sensível do que dela se poderia esperar na repercussão de toda a tragédia que envolveu o edifício Andréa, em Fortaleza. As tentações de tirar proveito de uma situação com tamanha dimensão social parecem ter sido contidas e tudo que se viu relacionado à ação dos homens públicos, especialmente os detentores de mandatos eletivos, pode-se dizer que ficaram dentro do que caberia à sociedade esperar deles. O que não quer dizer, por outro lado, que não exista um efeito político, em aspectos até eleitorais, a serem contabilizados agora que a poeira está baixando, simbólica e literalmente. Claro que deixando atrás de si um rastro de destruição, perdas e mortes que levará ainda muito tempo até ser absorvido e superado, em especial, por aqueles que foram vítimas diretas do que aconteceu.

Seria injusto com o prefeito Roberto Cláudio (PDT) apontar omissão da parte dele, considerada sua reação desde o primeiro momento e de como se manteve até o final da fase mais delicada na assistência imediata às vítimas e na busca por sobreviventes ou pelo resgate dos corpos que permaneciam sob os escombros. A questão, para ele, é que não há como um gestor municipal sair completamente ileso de um acidente do tipo, do ponto de vista de sua imagem, cabendo-lhe apenas agir para reduzir os danos, políticos ou administrativos, que podem causar uma situação assim, que nasce, necessariamente, do funcionamento ineficiente de uma estrutura pública que existe para garantir segurança mínima à cidade e aos seus moradores. No caso, mais ainda, diante das evidências de que a fiscalização, que seria municipal, falhou na sua ação de caráter preventivo.

Esse é um debate que ainda será feito com maior profundidade e que, com certeza, vai estar presente à campanha. RC, que não poderá disputar mais um mandato, porque cumpre a reta final do seu segundo período consecutivo à frente da Prefeitura, certamente terá um nome de sua preferência na disputa com o discurso da continuidade aos oito anos de sua gestão. Nesse sentido, sem dúvida, e a despeito dos erros iniciais cometidos, a maneira como se portou, não se escondendo, assumindo um protagonismo não exibicionista nas ações de assistência às vítimas, mostrando um nível mínimo de organização em meio ao caos, ajudará mais adiante o seu candidato quando a fatura político-eleitoral do episódio começar a ser cobrada de maneira mais ostensiva. É o que acontecerá, inevitavelmente.

Outro ponto com força para amenizar os efeitos sobre o oficialismo municipal foi a reação igualmente ativa do governador Camilo Santana (PT), um aliado de Roberto Cláudio que tenderá a estar ao seu lado na campanha, pelo menos imaginando-se um segundo turno de apoio de ambos a um nome comum. Camilo cancelou agenda fora do Ceará, esteve no local algumas vezes, envolveu-se com o problema e as soluções com intensidade tal que gerou alguns incômodos (tímidos e logo superados) pelo fato de ofuscar o prefeito em momentos determinados. É um componente que também será considerado no momento devido.

Tão presente (ou mais) ao local quanto as autoridades citadas, o deputado federal Capitão Wagner também cumpriu um papel interessante e que vale registro. Pré-candidato assumido à Prefeitura de Fortaleza, talvez o político hoje com projeto de disputa em 2020 mais abertamente conhecido, o parlamentar do Pros, um militar de formação, instalou-se no local, deu força aos colegas, às pessoas, era visto o tempo todo por ali, mas, reconheça-se, não fez proselitismo ou política com "p" minúsculo. O que fez é do jogo e, certamente, valerá reconhecimento pelo voto de alguns mais adiante, o que no íntimo certamente busca em cada atitude que adota. No caso, porém, fê-lo dentro das condições que uma tragédia daquela dimensão permitia. Dá pra dizer que os políticos, no seu conjunto absoluto, até agora reagiu ao acontecimento à altura do que representou em termo de tragédias humanas.

REI POSTO, REI LIVRE

Sob desconfiança de alguns (muitos), o empresário Beto Studart passou o comando da Federação das Indústrias (Fiec) para o sucessor Ricardo Cavalcante, no dia 19 de setembro, dizendo que não exerceria qualquer influência sobre a gestão dele, apesar de ser o responsável direto por sua eleição, costurando um acordo que levou a um consenso que antes pareceria difícil. A promessa está se cumprindo e o novo presidente age com total liberdade, começando por formar uma equipe que, em alguns setores, rifou gente ligada ao antecessor.

A ESTREIA DO PRESIDENTE

Para fora das paredes do vistoso prédio da Barão de Studart, Ricardo Cavalcante estreou bem ao participar de audiência pública na Assembleia Legislativa, sexta-feira, na qual se discutiu reforma tributária com participação do deputado maranhense Hildo Rocha (MDB), presidente da Comissão Especial da Câmara Federal que trata do tema. O novo comandante da Fiec puxou firme as orelhas dos políticos, lamentando que apenas ele tenha sido chamado à mesa dentre os representantes da classe produtora presentes à discussão.

A PRIMEIRA REUNIÃO

O ambiente na UFC, que ainda não está pacificado (longe disso), tende a nova agitação no próximo dia 1º de novembro, sexta-feira, com a primeira reunião do Conselho Universitário (Consuni) desde a posse do novo reitor Cândido Albuquerque. Será momento importante para sentir a quantas anda a temperatura, diante de movimentos internos que andam desagradando, especialmente no aspecto em que motivos político-ideológicos podem estar valendo como critério para cessão de espaços da instituição para eventos.

O EXERCÍCIO DO VOTO

O cansado eleitor de Tianguá, a 340 km de Fortaleza, vai hoje às urnas pela quarta vez em três anos. Duas pelo calendário normal, quando pensou estar escolhendo o novo prefeito em 2016 e ano passado para eleger deputados, senadores, governador e presidente. O problema é que houve duas cassações de prefeito no período e, por decisão da justiça eleitoral, neste domingo se fará nova tentativa de definir quem administrará o município até, pelo menos, o final de 2020, para quando o eleitor já tem novo encontro marcado com as urnas.

PODE, NÃO PODE, PODE...

Quer mais uma contradição que dificulta ao pobre tianguaense entender o que se passa? Um dos candidatos que estarão com suas fotos nas urnas hoje é o mesmo que, em 2016, obteve ampla maioria dos votos e, na época, decidiu-se que era inelegível, embora tenha feito toda a campanha e sido apresentado como alternativa ao eleitor no dia da decisão. Sem resolver esse problema dos prazos, às vezes observados ao sabor das circunstâncias, será impossível à justiça dizer que cumpre sua parte no processo eleitoral.

BOLIVARIANA DÚVIDA

Para refletirmos juntos sobre o momento geopolítico regional: em que situação estaria o polêmico Nicolás Maduro se fosse na Venezuela que a dura repressão a manifestações de ruas levaria a 18 mortes (dentre as quais a de uma criança de 4 anos), a pelo menos 1.500 prisões e a um conjunto impressionante de denúncias de violações praticadas por forças de segurança, em meio a medidas de exceção. Pois é, do ponto de vista da comunidade internacional Sebastian Piñera, o presidente que toca tudo isso, permanece intocável, quase anônimo.

Frase

Eduardo Gibson, juiz colocado em disponibilidade por baixa produtividade e frequência, em decisão do pleno do Tribunal de Justiça. Em conversa com a coluna, ele reclamou da decisão, anunciou que vai recorrer e encaminhou uma série de vídeos, matérias e documentos sobre suas ações, inclusive com depoimentos de deputados elogiosos ao Centro de Justiça Restaurativa, projeto que comanda

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