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Pelo direito de ser incoerente sozinho
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Pelo direito de ser incoerente sozinho

Tipo Opinião

Ciro Gomes, um talentoso político cearense que sonha, com todo o direito, em subir um dia a rampa do Palácio do Planalto eleito presidente da República, dá todos os sinais de que, aos 62 anos, ainda está à procura de uma linha ideológica para chamar de sua. A rica trajetória de troca de partidos desde quando começou a vida pública até nem é o maior problema, considerados os flexíveis padrões brasileiros, mas, convenhamos, ser hoje liberal, amanhã social-democrata, depois socialista, ir e voltar politicamente o tempo todo, confunde demais a cabeça de quem quer manter o apoio ao seu nome. E não é pouca gente, tomando-se como base os mais de 13 milhões e 344 mil votos que teve ano passado como candidato à presidência da República.

A questão, para o momento, é que Ciro exercita quase na linha extrema algo que tem sido sua marca na política: a incoerência. Um atributo que a atividade pública muitas vezes absorve, dentro de um contexto específico, com justificativas que para este ou aquele caso até valem, desde que não confundam a cabeça do pobre cidadão tão carente de lideranças nas quais consiga confiar de fato. Pegue-se o exemplo do que diz agora o ex-governador cearense, ex-prefeito de Fortaleza, ex-deputado, ex-ministro, sobre a reforma da previdência social recém-aprovada pelo Congresso e, inclusive, já promulgada e em vigência.

Ciro é duro contra aqueles que na esquerda, onde se encontra ideologicamente hoje, fizeram qualquer gesto de apoio à proposta que tramitava no Congresso. Por exemplo, os governadores do PT que, diz, cabalaram votos na escuridão política em favor da matéria, enquanto a bancada do partido lutava no mundo visível contra sua aprovação em plenário. Já sem mais preocupação ou pudor de poupar o aliado local Camilo Santana. Outro aspecto é que o pedetista fala com orgulho do esforço do seu partido de punir os oito deputados que contrariaram orientação oficial de votar "não" ao texto apresentado. Tudo dentro de um discurso que trata a reforma como uma "covardia contra o trabalhador mais pobre" ou "uma perversidade".

Apesar de achar tudo isso e de apoiar com entusiasmo a punição no PDT de quem votou pela matéria, a partir dos vários qualificativos negativos com os quais a trata, Ciro Gomes abre-se em sorrisos para conversas, inclusive de perspectivas eleitorais futuras, com lideranças do DEM e, especialmente, com o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara Federal. Exatamente quem mais se empenhou pela reforma cruel, covarde e perversa, nas palavras dele próprio. Eis sua declaração mais recente sobre o diálogo com a cúpula demista, ao site do El País: "Com Rodrigo Maia só tenho tido alegrias, ele está fazendo história. A gente não precisa ter afinidade, precisamos ter confiança".

Tá, não precisa de afinidade, apenas de confiança. É uma regra para ele, apenas? Os correligionários que se sentiram confiantes na condução de Rodrigo Maia como articulador real da reforma, que enxergaram nele para o debate sobre o tema as mesmas qualidades que Ciro agora expressa para acertos eleitorais em perspectiva, não deveriam ser ouvidos acerca de suas opções, evitando-se um rito quase sumário de expulsão como agora se encaminha, com seu apoio expresso e orgulhoso? O que ele quer, parece, é o monopólio, no partido, do direito de ser incoerente, de ser doutrinariamente infiel e de adotar os caminhos que seus interesses determinarem. A menos, como já especulam alguns, que esteja, na verdade, em procedimento de pouso para mais uma legenda partidária. Sem surpresas, caso aconteça.

SOBRE O ÓLEO DERRAMADO

Completam-se, neste domingo, dois meses e 15 dias do aparecimento dos primeiros sinais de óleo nas praias nordestinas, o que desencadeou mobilização rara e desespero idem. Aos olhos de um governo federal que o tempo todo transitou entre a omissão e a trapalhada, além do esforço de (mais uma vez) ideologizar a crise.

MANTENHA DISTÂNCIA (DA CRISE)

Pois bem, o presidente da República ainda não se dispôs a ver o estrago com os próprios olhos. Até veio ao Nordeste, na segunda-feira passada, dia 11, mas para comandar solenidade de entrega de casas na aprazível, e fria, Campina Grande. Bela cidade serrana do interior da Paraíba, distante muitos quilômetros da primeira praia à vista.

EX-MINISTRO, AVANÇOS E AMEAÇAS

Esperado para amanhã, em Fortaleza, o ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Na sua agenda, palestra a partir de 15 horas no auditório do Centro de Ciências do Campus do Pici sobre o tema, atualíssimo, "Ciência e Tecnologia no Brasil: avanços históricos e ameaças atuais".

DINHEIRO PARA ATRAIR DINHEIRO

Avançou na Assembleia Legislativa aquele projeto do governo do Ceará, em parceria com órgãos como Aprece e TCE, de criar uma espécie de premiação para os municípios que apresentarem bom desempenho fiscal. Alguma coisa nos moldes do que já acontece hoje na educação, através do Paic.

DO EXEMPLO À PRÁTICA

Os deputados aprovaram, na semana, a regulamentação de programa que terá o nome de "Ceará é um só". A ideia é, em processo conduzido pela secretaria da Fazenda, levar ao âmbito dos municípios, premiando-os por isso, o que se considera sucesso estadual no quesito da educação fiscal.

DIA DE CPI E DE AGITAÇÃO

Caucaia promete uma segunda-feira movimentada na política. É que a partir de 9 horas tem reunião da CPI instalada na Câmara de Vereadores para apurar suspeitas de irregularidades contra o prefeito Naomi Amorim (PSD), na qual será executada ordem do Tribunal de Justiça, da semana passada, que mexe na sua composição.

MAIS VOZ À OPOSIÇÃO

Uma decisão liminar do desembargador Fernando Ximenes determina a saída da CPI dos vereadores Fábio Herlândio (SDD) e Priscila Menezes (Patriota), da base do prefeito, permitindo o retorno ao núcleo parlamentar investigativo de Mickauê Franklin (PL), que vem a ser o líder da oposição. O desequilíbrio muda de lado, portanto.

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