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Padrão novo, antidemocrático e que precisa ser contido
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Padrão novo, antidemocrático e que precisa ser contido

Tipo Análise
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Foto: Carlus Campos 0812gualter

A eleição de 2018 trouxe com seus resultados um sopro de renovação que a política brasileira, e a cearense de resto, há muito tempo pedia que acontecesse. Tínhamos um cenário de atores envelhecidos na ideia, à direita, à esquerda e ao centro, o que ajudava muito ao entendimento geral da sociedade de que o processo democrático no País chegara a um estágio de desgaste perigoso e quase terminal. Porém, pouco menos de um ano depois de chegada a turma que parecia vir para garantir um cheiro de novidade, o sentimento é de muita frustração. Por culpa, fundamentalmente, deles próprios, os que traziam consigo a ideia de modernidade na forma de representar a população nas instâncias públicas, especialmente as legislativas.

Até dá para dizer que há algo de realmente novo na maior parte daqueles que chegaram pelo voto aos parlamentos, ancorados, especialmente, em legendas como PSL e Novo (o partido). Porém, isso não tem significado melhoria de qualidade no debate e, ao contrário, houve uma piora acentuada no funcionamento dos espaços legislativos, especialmente no quesito "práticas democráticas". Poucas vezes antes se assistiu tanta atitude de intolerância com quem pensa o contrário e dificuldade de convivência entre diferentes, o que contraria o conceito básico que dá sustentação a ambientes como o do Congresso Nacional ou de uma Assembleia Legislativa. Dialógicos por excelência.

Peguemos o caso próximos de nós, que diz respeito ao comportamento do representante mais destacado dessa "nova política". André Fernandes, o mais votado entre todos os candidatos à Assembleia, amparado por um apoio popular sem precedentes na história da Casa, acumula, desde o primeiro dia de mandato, uma sequência de atitudes e ações que alimentam, de maneira decisiva, um quadro de tensão e intransigência justificada apenas pela ideologia de cada um e o direito que tem o deputado de defendê-la dentro de um ambiente forte, exatamente, quando permite a convivência civilizada entre os dissemelhantes.

Infelizmente, a opção equivocada da maioria dos ditos renovadores tem sido por chegar à política para criminalizá-la e não para ajudar na mudança necessária para que ela se realinhe com o interesse das pessoas que votam e escolhem aqueles que vão representá-las, no que seriam bem-vindos. É fato que o debate ideológico no Brasil nos últimos tempos pareceu incompleto, pela timidez de uma defesa mais clara do pensamento conservador ou de direita, carência que a qualidade bastante discutível dos que agora tentam supri-la não tem como reparar. É uma gente que tem se mostrado boa de briga, embora se apresente muito ruim de política.

Há mecanismos regimentais internos para enfrentar esse tipo de situação e o quadro exige que eles sejam aplicados com rigor e no seu limite. Não é uma questão ideológica, mas a necessidade de proteger uma democracia que não funcionará a pleno tendo um dos seus poderes vitais, o Legislativo, fragilizado pela ação de seus próprios integrantes no aspecto da harmonia que precisa existir entre os pares, irradiando-se na força do exemplo para um País que anda precisando se reagrupar como sociedade.

A Comissão foi proposta pela Mesa da Câmara

Presidente da Câmara, Antonio Henrique (PDT) evita passar recibo público porque assim é na política, mas queixou-se muito da atitude do colega Sargento Reginauro (sem partido) de tentar assumir paternidade pela boa ideia de criar uma Comissão de Vereadores para Acompanhamento da Inspeção Predial, a partir da tragédia no edifício Andréa, que deixou trágico saldo de mortes, destruição e dúvidas.

O vereador quer ser o pai da ideia

O problema: Antonio Henrique alega que a sugestão partiu da mesa que preside e, inclusive, destaca que isso foi amplamente noticiado à época. Situação ignorada pelo vereador oposicionista que, onde pode, se vende como o autor da proposta e demonstrou desenvoltura de "pai da ideia" nos eventos da comissão na semana passada, em Brasília, buscando tirar dela todos os frutos eleitorais possíveis.

O encontro que a deputada esperava

O fato de o governador Camilo Santana, seu correligionário, não ter recebido no Palácio da Abolição os deputados da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, ela inclusive, frustrou um pouco os planos da petista Luizianne Lins. Acabou sendo politicamente ruim para ela a demonstração, involuntária que tenha sido, de pouca proximidade entre os dois.

A agenda que a realidade permitiu

Camilo alegou problemas de agenda e escalou para conversar com os deputados, que colheram muitas queixas da forma como funciona o sistema prisional cearense, o supersecretário Élcio Batista. Gesto insuficiente para satisfazer por completo a parlamentar, que esperava demonstrar um pouco mais de prestígio aos colegas que a acompanhavam: Hélder Salomão (PT) e Talíria Petroni (Psol).

Uma mostra do que vem por aí

A semana deixou uma marca importante quanto ao tipo de campanha que o Capitão Wagner, do Pros, pretende levar adiante em 2020 no seu objetivo de chegar à prefeitura de Fortaleza. A mobilização das forças de segurança, criando instabilidade dentro dela, parece que voltará a ter papel central na estratégia. É o que se desenha.

Um teste para a força dos secretários

A tensa quinta-feira na Assembleia Legislativa, tomada por representantes da área de segurança pública, com palavras de ordem e o termo "greve" circulando com grande desenvoltura, indica que, mais do que o prefeito Roberto Cláudio e seu candidato, é o governador Camilo Santana que precisará estar atento com Wagner. Também será um teste para o modelo que parece ter pacificado o ambiente interno, com os secretários André Costa e Mauro Albuquerque à frente.

A visita que quase ninguém viu

Bem esquisito o mistério que cercou a passagem do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, por Fortaleza. A agenda dele, de cerca de oito horas de permanência na cidade, foi mantida à distância dos jornalistas, que também não tiveram qualquer possibilidade de acesso para perguntas, cômodas e incômodas.

Para se ter uma ideia, O POVO contatou a vice-presidência da República querendo saber sobre credenciamento e outros aspectos da viagem e, na aparência, chegou a surpreender a profissional do setor que atendeu a ligação em Brasília, a poucas horas do desembarque da comitiva de Mourão na capital cearense. Ao ponto dela sustentar por um tempo que Fortaleza não constava na agenda dele para a data.

E o general que é vice-presidente, àquela altura, já a caminho de provar da nossa hospitalidade.

Foto do Guálter George

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