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Crise também gera protagonismo. Ou, poderia
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Crise também gera protagonismo. Ou, poderia

Tipo Opinião
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Um olhar sobre o cenário político, pela maneira como há se portado os que detêm mandatos populares, especialmente no âmbito dos parlamentos, aponta um vazio imenso de lideranças nos quais a sociedade poderá se inspirar para a travessia do quadro dramático gerado pela crise da pandemia com o novo coronavírus. Algo que pudesse fazer contraponto com mais eficiência, em termos de Ceará que seja, ao estrago que tem sido causado pela má influência sobre parcela da população o comportamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, um negacionista irresponsável que fala e age, quase o tempo todo, no sentido de minimizar um quadro que é assustador.

Claro que se precisa reconhecer o comportamento no sentido contrário e positivo da maioria dos governadores, o cearense Camilo Santana incluso, e prefeitos, lista da qual também faz parte o fortalezense Roberto Cláudio. Mas, em geral, diga-se, numa situação de normalidade somente atendendo aquilo que seria a expectativa natural diante do momento histórico que os encontrou nos cargos. Mesmo que seja forçoso reconhecer que, cumprindo ou não a tarefa que lhes cabia diante da situação desafiadora, Camilo e RC têm sido necessários à sociedade diante de um poder federal que chega a ser constrangedor.

É saindo desse campo onde está a turma da linha de frente institucional, do qual ainda fazem parte os presidentes da Assembleia, José Sarto, e da Câmara de Fortaleza, Antonio Henrique, ambos do PDT, que se abre um vácuo político importante. Uma crise desse tamanho costuma gerar o aparecimento de líderes espontâneos, aquelas figuras que encontram formas de atuar e influir, superando o fato de não estarem em cargos de decisão.

No horizonte do Ceará, quem talvez fure um pouco essa bolha de passividade e de omissão na política seja o tucano Tasso Jereissati. Um parlamentar como qualquer outro, embora tenha sido três vezes governador e esteja no segundo mandato como senador, que tem sido uma voz importante inclusive à luta de Camilo Santana, em alguns momentos politicamente quase solitária, para suportar a pressão de setores empresariais que, insensíveis ao avanço da Covid-19 no Ceará, cobram uma volta rápida das atividades econômicas à normalidade sem que o problema sequer tenha alcançado seu pico.

Tasso Jereissati (PSDB), senador
Tasso Jereissati (PSDB), senador (Foto: REPRODUÇÃO)

Tasso, que tem o chamado "lugar de fala" no debate sobre flexibilização do isolamento, empresário que é num dos setores que mais faz pressão sobre os governos - do shopping center -, chegou a se posicionar duramente contra sinais de capitulação do governador Camilo Santana, através de um decreto de cerca de 15 dias atrás que previa um afrouxamento nas regras da quarentena, que depois seria anulado e refeito. Um gesto importante, em momento fundamental, de alguém com peso referencial e que fica como exemplo de que há papéis a serem cumpridos pelos atores políticos que não têm necessariamente a ver com os cargos que ocupam.

Demissões pelo voto

O prefeito de Tauá, Fred Rego, deu o voto de minerva, na reunião feita na semana passada, por meios virtuais, em apertada vitória por maioria de medida que prevê um conjunto de demissões em cargos de confiança no Consórcio de Saúde dos Inhamuns, do qual é o atual presidente. Claro que foi um encontro marcado por muita tensão, bate-boca e, infelizmente, um forte cheiro de política.

Política de saúde

O quadro político no município anda instável desde quando o então vice, hoje prefeito, articulou de maneira aberta a queda de Carlos Windson para ocupar o seu lugar, o que fez. Porém, já se desmontou o concerto que se fizera ali entre forças políticas contrárias para lhe dar sustentação. Triste é ver tudo isso afetar uma área que deveria estar 100 por centro concentrada no combate à pandemia.

O ônus das provas

No cerco que se fecha sobre o presidente Bolsonaro, acossado por ações e questionamentos em várias frentes, o deputado federal cearense Célio Studart (PV) encontrou um caminho próprio. Está exigindo que apresente as provas que disse ter de que a eleição de 2018, que ele venceu, apresentou fraude. Parece um tema meio fora de contexto, diante de tudo que se tem, mas ajuda na confusão.

Relativizar a verdade

O deputado estadual André Fernandes se esforça para ser identificado como maior dos bolsonaristas no Ceará. Para isso, envolve-se até em lutas inglórias, como a posição pública que manteve na Assembleia, durante a semana, contrária a projeto que punirá, com multa, fake news que envolvam o combate ao novo coronavírus no Ceará, prejudicando-o. Medida que justificaria aprovação unânime dos deputados.

É valorizar a mentira

O discurso do deputado, sem partido desde que deixou o PSL a mando de Bolsonaro, convence, se o faz, apenas os seus seguidores fiéis. É a mesma história de sempre, de ditadura, de censura blá blá blá, quando o debate pediu do parlamentar - e quem mais votou contra, embora com menos barulho - posição clara de repúdio à mentira, em especial aquela que pode levar à morte. Não era muito.

Os argumento técnicos

Têm sido tensas as reuniões da comissão instituída para planejar a retomada das atividades econômicas no Ceará. Há áreas que defendem para já a reabertura dos seus negócios e que garantem dispor de uma programação elaborada para fazê-lo com o menos risco possível. A postura técnica do secretário de Saúde, Carlos Roberto Cabeto, até agora tem feito prevalecer o caminho da cautela. Até agora.

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