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O sentido natural dos gestos de apoio a Teich
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O sentido natural dos gestos de apoio a Teich

NELSON Teich, apenas 
28 dias no cargo (Foto: REPRODUÇÃO)
Foto: REPRODUÇÃO NELSON Teich, apenas 28 dias no cargo

De verdade, Nelson Teich sequer teve tempo de deixar uma marca pessoal mais forte no ministério da Saúde, ao contrário do antecessor, Luiz Henrique Mandetta, que no momento em que saiu do cargo, pouco menos de um mês atrás, chegava a ostentar índices de popularidade superiores aos do chefe e presidente da República, Jair Bolsonaro. Aliás, há quem atribua sua queda, exatamente, ao sucesso que vinha fazendo como o "rosto", àquela altura sadio, do governo federal na luta contra a pandemia e a Covid-19.

Pois chama atenção, mais ainda, que alguém com tão pouca empatia, que sequer dispôs de tempo para formar uma equipe em Brasília, tenha gerado a reação coletiva de apoio que se percebeu ontem, nas redes sociais e em notas públicas, a partir de quando foi divulgada a decisão de Teich de deixar o ministério. Bolsonaro não liga muito para o que diz ou pensa quem não está alinhado com suas ideias, portanto, o efeito de tudo isso sobre ele será nenhum, muito provavelmente. Embora ele devesse prestar atenção, porque há um sentido natural na forma como as reações aconteceram para o qual deveria estar mais atento.

O que a situação mostra é que a paciência geral com os erros e o quase nenhum esforço do presidente de trabalhar por alguma pacificação do País, mesmo momentânea, está se esgotando. Todos sabemos que o novo coronavírus é o inimigo real a ser combatido, mas, alheio a isso, Bolsonaro inventa crises novas o tempo inteiro, sem praticamente dar folga à aflita população de um País que vê uma doença avançar sobre ela de maneira avassaladora.

Por exemplo, o caso de ontem faz com que cheguemos ao terceiro ministro de área importante demitido em menos de um mês, com os seus efeitos desestabilizadores inevitáveis, sem que o governo consiga apontar um rumo quanto à séria crise na saúde que é, de fato, quem desafia a sociedade no momento. Em nenhum destes casos registrados no curto espaço de tempo, e em meio à pandemia, apresentou-se uma razão justificadora plausível para as mudanças acontecerem. Foram situações, todas, que nasceram do nada.

Alguém do entorno do chefe do Governo precisa levá-lo a entender que a sociedade, inclusive a parcela que o apoia e gostaria de permanecer ao seu lado, espera também um pouco de soluções para os problemas que surgem, porque é para apresentá-las e executá-las que ele foi eleito e subiu a rampa do Planalto. O sofrimento é generalizado, o drama vai espalhando-se cada vez por mais pessoas e famílias, num quadro em que os sinais de confusão e caos que partem de um governante, referindo-me à postura de Bolsonaro, podem se voltar contra ele. É natural que assim seja. 

De governadores e prefeitos, em geral, pode-se dizer que com erros e acertos, até excedendo-se em alguns casos, pelo menos dá para perceber uma postura de seriedade diante da situação. Como contraponto, tem-se um presidente da República que desdenha das mortes, dificulta a adoção de medidas que buscam minimizar os efeitos do problema e, agora, decidiu que precisa para a sensivel área da Saúde de um ministro que siga suas orientações de leigo, que atenda passivamente o que indicar seu feeling político, mesmo que para isso tenha que confrontar a ciência e esquecer compromissos éticos com a medicina.

É como reação a tudo isso que o insípido Nelson Teich recebeu tanto apoio, ontem, ao anunciar que estava saindo.

 

Foto do Guálter George

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