Logo O POVO+
Bolsonaro está cansando o PIB cearense
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Bolsonaro está cansando o PIB cearense

Tipo Análise
1705gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1705gualter

O nome de Jair Bolsonaro já circulou com mais simpatia nas rodas de conversas entre as vozes de maior força do setor produtivo cearense, considerado o topo da pirâmide. Nas vídeoconferências que têm acontecido em ritmo quase diário, durante a quarentena, entre representantes de várias áreas organizadas por sindicatos e entidades patronais classistas, é crescente o clima de desânimo e de críticas em relação à forma como o presidente da República está lidando com a crise do avanço do novo coronavírus, especialmente diante dos seus efeitos econômicos. Os já contabilizados e aqueles que ainda precisam ser considerados para o futuro incerto.

O centro das conversas é a constatação, quase unânime a essa altura, de que o quadro brasileiro de crise está seriamente agravado por demonstrações de que falta uma liderança apta a conduzir o País à superação dos problemas na saúde no mais curto espaço de tempo, mitigando suas consequências econômicas, atuais e posteriores. Com o agravante de Bolsonaro ser um caso praticamente único no mundo de governante que atua para somar ao quadro de dificuldades inevitáveis ao momento de pandemia, uma outra, de natureza política. Em boa parte dos casos, situações geradas por atitudes, comportamentos e palavras do próprio presidente.

Bolsonaro tem exposto, na avaliação feita a cada encontro virtual de que participam os empresários que respondem por grande parte do PIB cearense, uma preocupante incapacidade de, como gestor, lidar com os desafios e as dificuldades que surgem diante dele.

Nota-se o tom de arrependimento, em algumas vozes, embora o espírito continue sendo de apoio ao governo, em especial às ações de Paulo Guedes e sua equipe. Aliás, sob o questionável argumento de que a crise de saúde interrompeu o ritmo de recuperação na qual entrara a economia nacional, quadro que os tímidos índices de crescimento que se registravam não pareciam confirmar. A economia patinava até ali, o final de fevereiro, quase que sem sair do lugar.

É pouco provável que de tudo isso resulte uma mudança radical de lado político do empresariado, especialmente enquanto o cenário permanecer polarizado. No entanto, diminui a cada dia o entusiasmo dos endinheirados cearenses em permanecer na trincheira de defesa incondicional do presidente Bolsonaro, diante da sequência de erros que protagoniza e, pior, da inaptidão que há demonstrado para conduzir o País num dos momentos mais dramáticos de sua história.

A ação do presidente

A área de onde parte a maior pressão para retomada já das atividades no Ceará é a construção civil. O entorno do governador Camilo Santana reconhece, porém, que o problema poderia ser ainda maior, não fosse a postura do presidente do Sinduscon, Patriolino Dias, a quem se atribui uma condução muito serena do debate pela parte dos empresários, mesmo que firme nos momentos mais tensos.

Os exemplos petistas

A questão é que o Ceará é um dos dois únicos estados nordestinos onde a construção civil não foi incluída entre as atividades essenciais, ao lado de Pernambuco, diferente do que decidiram outras gestões petistas, casos da Bahia e Piauí. Argumento ignorado pelo Abolição, tanto quanto a garantia de que os protocolos das empresas para a volta são rigorosos. Há quem diga, até, que os operários estarão mais protegidos nas obras do que em casa.

O direito do Direito

Por falar em atividades essenciais, o presidente da OAB cearense, Erinaldo Dantas, parece otimista com as chances da advocacia ser inserida na lista no Ceará e, com isso, os escritórios serem autorizados a funcionar na quarentena. Ele tratou do tema em vídeoconferência com o governador Camilo Santana, na sexta-feira, e o que se diz é que falta apenas um parecer da Procuradoria Geral do Estado (PGE) para tudo se resolver.

Enquanto isso, na oposição

Nem só de tretas com a marca do Planalto vive a política nacional. Ontem à tarde, o deputado federal Paulo Pimenta ironizou ato que o pedetista Ciro Gomes organiza para terça-feira contra Bolsonaro, sem o PT, dizendo que apenas "limpinhos e cheirosos" estavam convidados. A resposta, ao estilo Ciro, lembrou ação que Pimenta responde no Rio Grande do Sul com base no artigo 171. A novela trará novos capítulos, é só esperar.

A militância do militante

Desde sexta-feira que circula denso material acerca do presidente do Sindicato dos Médicos, Edmar Fernandes, no qual há registros de sua intensa militância bolsonarista, com fotos e vídeos da presença dele em eventos do movimento Endireita Fortaleza, ao qual é ligado. Um detalhe: no debate sobre isolamento social ele tem lado e fica contra o que a ciência recomenda, não poupando críticas à medida adotada no Ceará pelo governo.

Mudança de planos

Presidente estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo reconhece que a estratégia pensada para a campanha eleitoral em Fortaleza terá que ser refeita em função da realidade que impõe ao prefeito Roberto Cláudio, agora, que dê 100 por cento de atenção ao combate ao novo coronavírus. Não mudou, segundo ele, a decisão de priorizar a disputa na capital cearense, maior cidade que o partido administra em todo o País.

 

BATE-PRONTO
O deputado cearense Queiroz Filho (PDT), presidente da Comissão de Educação da Assembleia, faz pressão sobre o Ministério da Educação (MEC) para que sejam mudadas as datas do Enem, cujas provas estão inicialmente programadas para os dias 1º e 8 de novembro, em função da pandemia. Por enquanto o governo resiste e a ideia é mobilizar os legislativos de todos os estados. O parlamentar respondeu a três perguntas da coluna:

O POVO - O senhor ainda acredita que a data do Enem será alterada, apesar da resistência do governo?
Queiroz Filho - Sim, ainda que seja na justiça. O Governo Federal não pode impor uma decisão autoritária, quando outros poderes e executivos estaduais estão lutando por uma mudança. Me deixa esperançoso ver que servidores do próprio Inep se manifestaram a favor do adiamento.

O POVO - Por que a mudança dos dias das provas é importante e a quem isso pode beneficiar?
Queiroz Filho - Os estudantes não estão conseguindo se preparar da maneira adequada em tempos de pandemia. Um terço da população brasileira não tem acesso à internet, sem condições de ter aulas a distância e sem materiais em casa. Muitos alunos ainda fazem a inscrição na própria escola. A educação não é um direito apenas dos mais privilegiados.

O POVO - A Comissão de Educação pensa em judicializar a questão ou entende que a pressão política será suficiente para sensibilizar o MEC?
Queiroz Filho - Faremos o possível e o impossível, inclusive acionar o Poder Judiciário, se necessário. Muitas Comissões de Educação do País, incluindo a do Ceará, formalizaram um documento com o intuito de pressionar o MEC.

 

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?