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Apenas uma parte da esquerda coube nas janelas pela democracia
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Apenas uma parte da esquerda coube nas janelas pela democracia

CIRO Gomes
 (Foto: Reproducao)
Foto: Reproducao CIRO Gomes

Uma parte da oposição foi às janelas na noite dessa quarta-feira para gritar "fora Bolsonaro!". Gesto complementado por uma intensa mobilização nas redes sociais, mas que, sob o ponto de vista político, parece incompleto. E, mais do que isso, revelador de um fundamento bastante eleitoral nos movimentos do principal organizador do ato, Ciro Gomes, líder do PDT e que se esforça pouco para esconder seu foco quase obsessivo na próxima disputa presidencial.

Ao liderar um movimento de cunho oposicionista a Bolsonaro que, deliberadamente, esquece o PT, Ciro demonstra que já briga pela ocupação do espaço onde deverá estar, em 2022, o nome que melhor simbolize uma ideia de contraponto ao que está ai como forma de governar, imaginando-se que o calendário eleitoral seja mantido e que o forte barulho de agora não resulte naquilo que é seu objetivo principal.

Cria-se até um paradoxo com a parte dos discursos de dirigentes e militantes de PDT, PSB, PV, Rede e Cidadania, além de ativistas em geral simplesmente simpáticos à ideia e sem vínculo legal direito a qualquer destas legendas, na qual se deu destaque à necessidade da formação de uma aliança a mais ampla possível para fazer frente às ameaças de Bolsonaro à democracia e ao próprio País. Sem se falar, ainda, na falta de vozes do Psol, PCdoB e outras estruturas partidárias e políticas ignoradas num esforço de demonstração de unidade que, no frigir das coisas, com esse sentido fracassou.

O que se vislumbrou no âmbito das oposições foi uma divisão forte, nesse momento impeditiva de colocar todas as correntes disponíveis dentro de um mesmo protesto. Isso, apesar do entendimento comum de que um presidente que dá motivos quase diários para que isso aconteça precisa ser submetido a um processo legal e político que o faça pagar por seus erros graves com a pena máxima de perda do cargo.

O PT incomoda o bloco de oposição porque, é verdade, assume uma postura hegemônica que em alguns aspectos engessa as possibilidades de construção de uma alternativa eleitoral que esteja localizada fora dos seus quadros. O tema há de ser discutido, por sua importância real, mas o momento oportuno para que isso aconteça, imagino, não é agora, embora seja a razão oculta da ausência do partido, com seus líderes e sua militância, nas janelas ocupadas pela indignação organizada.


 

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