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Com trocadilho, uma esquerda presa a erros
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Com trocadilho, uma esquerda presa a erros

Tipo Opinião
2405gualter (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 2405gualter

Há um aforismo que tem resistido aos tempos no Brasil, segundo o qual o único lugar capaz de unir a esquerda é a cadeia. Ei-lo, agora, mais vivo do que nunca com pedaços do pensamento político demonstrando que sequer o objetivo comum de fazer oposição ao governo ultraconservador de Jair Bolsonaro está sendo capaz de colocar todas as correntes no mesmo plano de luta.

Terminou ontem uma semana na qual os dois blocos principais que parecem dividir a esquerda no Brasil, atualmente, expuseram as fortes divergências entre si, em atos isolados e distantes de protesto contra Bolsonaro. Uma ala liderada pelo hegemônico PT, a partir da força política e eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; a outra tendo à frente o ex-governador cearense, ex-prefeito, ex-ministro e ex-parlamentar Ciro Ferreira Gomes, hoje no PDT. Aliás, mais do que fazerem movimentos distantes um do outro, Ciro e Lula até andaram trocando sopapos verbais diretos.

Ciro, na sequência do que tem feito, reafirmou todas as suas críticas ao petismo, que define como a outra face do bolsonarismo. Ao ponto de na sua peculiar análise o gabinete do ódio que turbina o atual governo, na base de muita mentira, baixaria e irresponsabilidade, representar, na verdade, uma herança do PT para Bolsonaro e o pessoal a ele ligado que administra uma máquina de moer reputação. Em geral, alimentada por muita fake news e de nenhum pudor. Não é preciso muito rigor jornalístico para perceber que esta parte do ataque do pedetista é meio desprovida de lógica.

O PDT uniu-se a um grupo de quatro partidos (PSB, PV, Rede e Cidadania) para, na noite de quarta-feira, promover um grande evento de mobilização contra Bolsonaro, que chamou de "Janelas pela democracia". Cá entre nós, "grande" apenas na expectativa dos organizadores, porque, de verdade, não ganhou a visibilidade que parecia ser esperada. Foi um barulho concentrado, pontual e que no dia seguinte já estava esquecido.

De outra parte, o PT uniu-se a Psol, PCdoB, PSTU, PCB, PCO e UP, além de um conjunto anunciado de 400 entidades da sociedade, para, na quinta, ou seja, um dia depois de se fazer ausente das janelas abertas por Ciro e aliados para um ato anti-Bolsonaro, entregar na Câmara um pedido de impeachment contra o presidente, numa fila que já tem outras 38 petições semelhantes. Ou seja, barulho político, reforço da ideia de que a denominada esquerda está desunida e mais nada.

É nesse ambiente que o presidente Bolsonaro tem no próprio presidente Bolsonaro o perigo mais real de ser afastado do cargo pelas vias institucionais, a partir dos erros que acumula todos os dias, agindo ou se omitindo. Porque, tratando-se de oposição, vislumbra-se, pela direita, uma atitude de ressentimento muito claro de quem considera não estar sendo chamado à participação na festa como gostaria ou entende que faz por merecer; quanto à esquerda, é isso, cada um cuidando de sua vida, fazendo seus cálculos políticos e eleitorais, com dificuldade de entender, parece, que para chegar a 2022 precisaremos superar os difíceis anos de 2020, no que resta ainda de luta e batalha contra o novo coronavírus e o desgoverno, e 2021, com suas incertezas ainda maiores.

A luta de Idilvan

A briga do Congresso pelo adiamento da data de realização das provas do Enem, vitoriosa afinal, teve o deputado federal cearense Idilvan Alencar, do PDT, como um dos mais ativos articuladores. Aliás, ex-secretário estadual de Educação, ele tem conquistado bastante respeito dos colegas parlamentares, primeiro mandato à parte, pelo domínio que há demonstrado quando a temática entra em discussão, nas comissões ou em plenário.

Vitória, em termos

Outro que somou pontos na questão foi o deputado estadual Queiroz Filho (PDT), que preside a Comissão de Educação na Assembleia. Agindo em dobradinha com Idilvan em muitos momentos, animou vitoriosa mobilização dos parlamentos estaduais na pressão sobre o MEC para mudar as datas das provas. Só que ele comemorou de forma contida a conquista, porque queria uma boa extensão também no prazo das inscrições. Três dias a mais, apenas, pareceu pouco.

Riu de quê, jornalista?

Prestou-se pouca atenção, mas não foi apenas Bolsonaro que riu da própria piada inconveniente, aquela da "a direita bebe cloroquina, a esquerda, tubaína". O jornalista que o entrevistava, Magno Martins, de Pernambuco, reagiu à história com tonitroante gargalhada, o que nos recomenda uma (auto)crítica mais larga diante do que aconteceu naquela triste quarta-feira em que o País colhia mais um recorde de mortes pela Covid-19.

Hora de mostrar saúde

Heitor Férrer, deputado estadual do Solidariedade que há tempos se notabiliza na Assembleia por uma postura de oposição, onde permanece firme governo após governo nos quatro mandatos que acumula, fez um cálculo que tem muito sentido, ao questionar os efeitos alegados sobre as contas públicas do Ceará do que se gastou, até agora, com as ações de combate ao novo coronavírus. Segundo levantou, algo próximo a R$ 311 milhões.

O discurso, na prática

Primeiro, avalia, porque o governo do Ceará vende sempre a ideia de termos um Estado saudável financeiramente, o que deveria lhe dar fôlego para superar momentos de crise, como o atual. Depois, segundo Heitor Férrer, porque o somatório de gastos nos últimos anos com coisas menos importantes do que salvar vidas, citando Castelão, Centro de Eventos, CFO, Aquário, aquisição do tatuzão e da usina de Barbalha, chega a R$ 2 bilhões e 185 milhões. Como disse, faz sentido.

A boa política dos políticos

A gente que gosta tanto de falar mal de políticos, como sociedade, precisa saber também fazer os elogios quando há merecimento. Os vereadores de Fortaleza mostram compreensão do momento ao abrirem mão do recesso de meio do ano para continuarem atentos à pandemia, seguindo o que já havia decidido Câmara Federal e Senado. A Assembleia Legislativa é que ainda não oficializou nada nesse sentido. Ainda tem tempo.

 

Foto do Guálter George

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