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Não há mais ingênuo entre os que apoiam Bolsonaro
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Não há mais ingênuo entre os que apoiam Bolsonaro

Tipo Opinião
A pesquisa considerou a frase: "Eu quero todo mundo armado. Que povo armado jamais será escravizado", dita por Jair Bolsonaro (Sem Partido), no vídeo da reunião ministerial  (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Foto: Marcos Corrêa/PR A pesquisa considerou a frase: "Eu quero todo mundo armado. Que povo armado jamais será escravizado", dita por Jair Bolsonaro (Sem Partido), no vídeo da reunião ministerial

Ultrapassado o tempo de 72 horas desde quando os brasileiros começaram a ter contato com o conteúdo, em vídeo e áudio, da reunião ministerial histórica (captem a ironia, por favor) de 22 de abril, dá para considerar que não há ingênuos mais integrando o governo de Jair Bolsonaro ou apoiando-o. Acabou aquela fase de entender a situação de quem, por exemplo, votou acreditando que ele seria capaz de adequar-se ao que se exige de um presidente da República, que a força das instituições conseguiria contê-lo, que os generais do seu entorno o enquadrariam quando necessário etc.

Fica claro que quem está no barco, a partir de agora, é por entender como correta a direção para onde se quer levar o País, numa linha geral muito bem sintetizada pelo contexto daquele encontro entre presidente e ministros, nas palavras e nos silêncios. Quem está com Bolsonaro, e seu governo, valida a ideia de que a presidência da República não impõe liturgia e nem compromisso com a democracia para quem ocupá-la.

Dá como normal o que é anormal, no caso daquele linguajar de quinta categoria de uma reunião oficial de trabalho da alta cúpula, permeada por palavrões, ataques a autoridades e a outros poderes, pelo incentivo ao desrespeito de leis locais vigentes, apenas porque originárias de governantes dos quais não se gosta, enfim, há ali um conjunto de irregularidades, e até alguns potenciais crimes, tratados de uma maneira tão natural que assusta. De verdade.

Três dias depois de exposto o material na sua crueza, o que se tem como reação a ele demonstra que há um problema gigantesco e desafiador para quem mantém a fé na via democrática como o melhor caminho. O discurso da formalidade de conveniência diria que as horas seguintes mostraram as instituições funcionando, que nada mudou, e, na verdade, é este o maior problema que deve nos afligir.

Algo precisaria ter acontecido a partir dali, como repercussão útil, que não fosse a nota de cerca de 90 militares de pijama fechando com o general da reserva Augusto Heleno na sua manifestação antidemocrática da sexta, com ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ou, ainda, que não fosse a nova demostração explícita de Bolsonaro de que não pretende mesmo "perder tempo" chorando as mortes de brasileiros pela Covid-19, mais de 23 mil quando este texto tomava forma, trocando um recomendável e obsequioso recolhimento à residência oficial no domingo pelo apoio a mais um ato político diante do Palácio do Planalto, ilegal porque o governo do Distrito Federal proíbe aglomerações, e, pior, sem que o presidente usasse máscara, também uma obrigação prevista em decreto para quem for à ruas em Brasília.

As instituições não estão funcionando, infelizmente, para além das aparências. Caso contrário, quem quisesse manifestar algum gesto público de apoio se sentiria com algum constrangimento de fazê-lo diante do teor de denúncia tão vergonhosamente claro que há naquele material. Vê-se ali o presidente da República pressionando abertamente, sem subterfúgio ou linguagem cifrada, pelo aparelhamento da estrutura de inteligência do Estado para proteger sua família e seus amigos.

Assistimos nos últimos dias e horas, em verdade, quase que uma comemoração dentro do governo e entre parte expressiva do grupo que demonstrou que está com ele e não abre. Até o fim, aparentemente. 

O que está naquele vídeo é um circo de horrores que deveria chocar o cidadão de bem, seja ele de direita, de esquerda, de centro ou mesmo àquele que não tem posição ideológica. Menos, talvez, quem, acima de tudo e de todos, é apenas bolsonarista.

 

 

 

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