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A arte de se relacionar
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Psicoterapeuta sistêmico com especialização em Psicologia Transpessoal e Psicoterapia Somática Integrada. Viveu na Índia onde se aprofundou em diversas abordagens terapêuticas e de meditação. Fez cursos e supervisão em Constelação Familiar com Bert e Sophie Hellinger e foi o introdutor da Constelação no Ceará; Ashara atende individualmente e ministra cursos de formação em Constelação em diversas cidades do Brasil. Veja mais: www.ashara.com.br

Guilherme Ashara comportamento

A arte de se relacionar

As incertezas e buscas na construção de um relacionamento
Tipo Análise
Capa (Foto: Maria Fernandes )
Foto: Maria Fernandes Capa

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O amor é um grande mistério. Muitos acham que compreendem o amor, mas muito poucos dominam a arte de amar. Na minha experiência pessoal, noto que aprendo a amar a cada dia e vejo que ainda tenho muito o que aprender.

Quando comecei a me relacionar não sabia o que era amor, nem sexo, nem mesmo qual era o significado de um relacionamento. Eu havia aprendido que relação era ter uma parceira para transar, se divertir e futuramente criar uma família.

Porém quando eu conheci a liberdade financeira nos meus vinte e poucos anos, percebi que não queria assumir um compromisso sério. Ter uma relação duradoura me afastava da minha sensação de ser livre.

Ai nascia o primeiro problema: como vou ter alguém que me ame, que queira ficar comigo se não quero perder a minha liberdade? Amor e liberdade são antagônicos? Por que uma relação amorosa gera tantos problemas? Não será melhor ficar sozinho e curtir a vida?

Essas eram minhas dúvidas quando comecei minha ‘carreira’ de relacionamentos. A primeira compreensão que me veio já depois dos meus 30 anos foi que minha liberdade era falsa.

Entendi que no jogo da codependência emocional existem dois polos: o dependente que normalmente é a mulher; e o antidependente que normalmente é o homem. Eu fazia o papel de antidependente, isto é, quele que se dizia livre. E a dependente é aquela que quer se ‘grudar’.

 

"A experiência de amar e ser amado é tão avassaladora, tão cheia de vida e tão vibrante que nos perdemos nela. Sentimos que estamos vivendo no que há de melhor em nós. Nos sentimos no céu, no paraíso"

 

Porém, depois compreendi que essa ‘liberdade’ simplesmente escondia um tremendo medo meu de me relacionar. Quando fiz essa descoberta, aos poucos fui me permitindo me abrir para relações mais profundas e duradouras.

Nesse processo passei por várias etapas. A primeira foi a famosa lua-de-mel. Esse é o momento da paixão, do prazer, das ‘loucuras de amor’. Entendi depois que isso tudo acontece porque numa relação amorosa nosso coração se abre de forma espontânea e rápida. Somos invadidos pelo amor.

Dizemos inclusive que ficamos cegos de paixão. Nessa fase idealizamos o outro como o maior, a mais bonita, a mulher ou o homem dos meus sonhos. Projetamos todas as nossas esperanças e nossos sonhos no outro.

No livro ‘Learning Love’ (Aprendendo a amar) de Krishnananda e Amana eles comentam: “Não vemos ou não queremos ver que estamos idealizando a pessoa ideal; não compreendemos que estamos projetando nossos próprios desejos frustrados de infância sobre a outra pessoa, na esperança de que obteremos o que não recebemos quando crianças.”

A experiência de amar e ser amado é tão avassaladora, tão cheia de vida e tão vibrante que nos perdemos nela. Sentimos que estamos vivendo no que há de melhor em nós. Nos sentimos no céu, no paraíso.

Na música ‘Ouvi dizer’ da banda Melim eles cantam: “Ouvi dizer que existe paraíso na terra; e coisas que eu nunca entendi, … Só ouvi dizer que quando arrepia já era; coisas que só entendi quando te conheci.”

Mas acho essencial entendermos por que perdemos esse paraíso. Porque saímos do ‘Jardim do Éden’. Se não entendemos isso, nossa vida se tornará uma grande fixação. Uma tentativa frustrada de voltarmos para o ‘paraíso perdido’. Porém, não podemos voltar ao paraíso como crianças imaturas.

Saímos do Jardim do Éden porque precisamos aprender o caminho de volta pra casa por nós mesmos. Isso é o que chamamos de aprender, crescer e amadurecer.

A palavra inglesa para paixão ‘fall in love’ define bem essa ‘queda’. Na lua-de-mel, no amor romântico e inconsciente nós ‘caímos no amor’ (fall in love).

 

"No amor falso continuamos repetindo o padrão repetitivo de nos apaixonar, nos frustar, nos desapaixonar, nos separar e correr atrás de um novo amor"

 

Precisamos entender e largar todos os sonhos, desejos, expectativas dessa busca frustrada por alguém que nos salve; e precisamos, por outro lado, dar passos para encontrar o amor consciente. A busca do amor consciente é um processo que se inicia com a autoaceitação e o autoamor.

No amor falso continuamos repetindo o padrão repetitivo de nos apaixonar, nos frustar, nos desapaixonar, nos separar e correr atrás de um novo amor.

No amor consciente percebemos e aceitamos essa frustração. Nos permitimos viver também os momentos de insegurança, raiva e medo. Compreendemos que o amor vem com o pacote completo. Ele traz uma tremenda abertura do coração, muita felicidade, energia e vitalidade.

Mas, por outro lado, o amor também destrói todas as ilusões, traz as dores da criança ferida à tona, com toda a sua tristeza, vulnerabilidade e inseguranças.

E se no final você aceitar e se permitir viver tudo isso conscientemente, um presente é certo: você viverá dentro do amor ou melhor dizendo, o amor verdadeiro surgirá e habitará reluzente dentro de você.

Namastê!

Foto do Guilherme Ashara

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