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Desistência de Geraldo Luciano deixa vácuo no campo conservador em Fortaleza
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Desistência de Geraldo Luciano deixa vácuo no campo conservador em Fortaleza

Tipo Análise
Empresário Geraldo Luciano (Fotos: Fabio Lima/O POVO) (Foto: FÁBIO LIMA/O POVO)
Foto: FÁBIO LIMA/O POVO Empresário Geraldo Luciano (Fotos: Fabio Lima/O POVO)

A saída de cena de Geraldo Luciano (Novo) na disputa pela Prefeitura de Fortaleza abre um vácuo de representação entre os eleitores mais alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Empresário e novato na política, GL era afinado com as pautas do bolsonarismo, sobretudo as econômicas.

Além disso, tirava proveito de uma situação curiosa na capital cearense, onde não há um herdeiro legítimo do espólio político e eleitoral do presidente.

À frente do PSL e eleito na mesma onda que levou Bolsonaro ao Planalto, o deputado federal Heitor Freire tinha tudo para ser esse nome do campo conservador em 2020. Mas não é.

Na verdade, Freire é malquisto entre apoiadores do ex-capitão, por divisões internas e também por causa do episódio do grampo de um telefonema entre o parlamentar e Bolsonaro, depois vazado (o deputado nega que tenha sido ele).

Não bastasse, como testemunha no inquérito das fake news que corre no Supremo, Freire denunciou o que chama de “gabinete do ódio”, apontando cearenses na linha de frente e sugerindo que o braço bolsonarista no Estado tem ampla participação nesse esquema.

Mesmo que entre na corrida ao Paço, o dirigente do PSL dificilmente vai lograr êxito na tentativa de carrear votos desse grupo.

E o também deputado federal Capitão Wagner (Pros), principal trunfo da oposição e forte candidato a chegar ao segundo turno das eleições?

As dificuldades de Wagner para conquistar a simpatia desse segmento são de outra ordem. Dizem respeito ao grau de fidelidade do parlamentar à agenda bolsonarista durante sua atuação na Câmara.

A pergunta que direitistas frequentemente se fazem em Fortaleza é: afinal, Wagner é suficientemente bolsonarista? A resposta que tenho ouvido é não, não é. Como exemplo, esse eleitorado costuma citar a votação da reforma da Previdência, que não contou com o aval de deputado do Pros.

Mas é possível que, numa eventual disputa polarizada e num quadro de acirramento, Wagner consiga trazer para perto de si esse público, apresentando-se como o postulante mais próximo de Bolsonaro que eles poderiam ter à disposição para derrotar as forças do governismo (Ciro, Cid, Roberto Cláudio e Camilo Santana)? Sim, é.

O candidato fará esse movimento? Eis a dúvida.

A preço de hoje, é incerto afirmar isso, porque Wagner tem muito a perder associando-se integralmente ao presidente numa cidade cujo eleitorado votou majoritariamente contra ele.

Por outro lado, o deputado sabe que não pode se dissociar totalmente do bolsonarismo, de maneira que ou o abraça de vez e tenta representar essa faixa do espectro político no pleito, assumindo o rótulo de força de direita ou de centro-direita, mas modulando o discurso autoritário do presidente.

Ou aposta num meio-termo arriscado porque o coloca numa posição que desagradará a todos os campos.

Certo é que os adversários de Wagner já começaram a apresentar suas armas: fazer colar no deputado a figura de Bolsonaro – ou, como disse Cid Gomes, “projetinho de Bolsonaro”.

Mais que ironia, a frase antecipa o tom que o governismo levará para a queda de braço contra o militar na sucessão em Fortaleza.

Foto do Henrique Araújo

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