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Jair Bolsonaro e o crime continuado
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Jair Bolsonaro e o crime continuado

Tipo Opinião
BOLSONARO voltou a propagar informações falsas sobre a vacina (Foto: Marcos Correa)
Foto: Marcos Correa BOLSONARO voltou a propagar informações falsas sobre a vacina

Desde que o relatório da CPI da Covid foi anunciado e lido no Senado na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem dando mostras reiteradas do tipo de conduta que ensejou seu enquadramento em nove crimes.

É como se o presidente desejasse relembrar aos desmemoriados por que uma CPI foi criada quase seis meses atrás para investigar as ações do chefe do Executivo, àquela altura já fora dos padrões e vistas como uma das razões pelas quais o número de mortos no Brasil era tão alto e continuaria a crescer.

Das duas, uma. Ou Bolsonaro é um criminoso contumaz cujos atos não se detêm nem mesmo diante de perspectiva de processo e eventual afastamento; ou confia sobremaneira em que as denúncias e pedidos de indiciamentos contidos no relatório não irão prosperar na PGR ou na Câmara.

Entre quarta-feira (20), quando criticou as vacinas, defendeu o kit Covid e culpou o isolamento social pela crise econômica durante visita ao Ceará, e ontem, data em que o Youtube derrubou sua live que associava imunizantes à aids, Bolsonaro replicou todas as irregularidades que marcaram sua atuação durante a pandemia do coronavírus.

Estão lá o negacionismo, a desinformação, o desrespeito a medidas sanitárias, a terceirização de culpa, a sabotagem de ações de governos e prefeituras, o estímulo de medicação sem eficácia contra a Covid, a mentira deliberada contra a vacinação etc.

Hoje, quando os senadores votarem e aprovarem o relatório que recomenda o indiciamento do presidente e de outras 70 pessoas, não estarão se referindo a um comportamento que se restringiu a certo período mais agudo da pandemia e depois cessou, mas a um crime continuado, que segue agora, a despeito de 600 mil mortos e de tudo que a comissão expôs no curso de seu funcionamento, do atraso na compra de vacinas ao balcão de negócios montado por agentes do governo no Ministério da Saúde.

Luizianne Lins(Foto: divulgação)
Foto: divulgação Luizianne Lins

Luizianne e o palanque de Lula

Um dia depois da agenda do PDT no interior cearense na qual o senador Cid Gomes fez apelo à manutenção da aliança entre o partido e o PT para a disputa do ano que vem, a deputada federal petista Luizianne Lins se reuniu com o ex-presidente Lula e a dirigente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann. Pauta: candidatura da legenda ao Governo do Ceará em 2022.

Segundo material divulgado pela assessoria da deputada após o encontro, Lula teria incentivado Luizianne a abrir discussão sobre a tese, defendida também por José Airton Cirilo, mas rejeitada por José Guimarães e o próprio governador Camilo Santana.

"Não tem sentido palanque duplo, nossa prioridade é garantir a unidade para a eleição de Lula. A partir de agora, vamos iniciar as conversas dentro do partido e, posteriormente, com lideranças do Ceará", afirmou Luizianne na nota encaminhada.

Esse é o primeiro gesto mais enfático de Luizianne a favor da candidatura própria, uma ideia que, até então, vinha sendo encampada quase que solitariamente por Cirilo. É também um exemplo de como Lula vem observando o cenário cearense: assegurando apoio a Camilo, principal fiador da aliança PDT/PT, mas encorajando outros atores políticos (Luizianne e Eunício Oliveira) a tocarem projetos de olho na briga pelo Abolição.

Pode parecer contraditório, mas apenas como a política funciona, sobretudo quando há muitos interesses cruzados numa mesma corrida eleitoral, como é o caso do Ceará, em que fatores locais e nacionais são indissociáveis.

 

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