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Bolsonaro mente, ataca governadores e critica passaporte vacinal
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Bolsonaro mente, ataca governadores e critica passaporte vacinal

O presidente distorceu informações sobre medidas adotadas por governadores e prefeitos durante a pandemia, atribuindo aos gestores responsabilidade por dificuldades econômicas
Tipo Análise
A prorrogação do benefício foi aprovada pelo Congresso, mas ainda não foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos/Presidência da República)
Foto: Alan Santos/Presidência da República A prorrogação do benefício foi aprovada pelo Congresso, mas ainda não foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro

Em seu pronunciamento de fim ano, neste 31 de dezembro de 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez o que se imaginava que faria: distorceu, mentiu, atacou.

Mentiu sobre dados de compra de vacinas, afirmando que não havia imunizante disponível no mercado em 2020. Não somente havia, como foi oferecido ao governo, que o recusou, priorizando negociações escusas com empresas ainda mais suspeitas para obter vacinas a um preço maior, favorecendo grupos de interesse dentro e fora do governo, numa escaramuça exaustivamente demonstrada pela CPI da Covid em seis meses de investigação – ao fim da qual o chefe do Executivo foi indiciado por nove tipos penais.

O presidente distorceu informações sobre medidas adotadas por governadores e prefeitos durante a pandemia, atribuindo aos gestores responsabilidade por dificuldades econômicas que foram resultado, na verdade, da inação da gestão Bolsonaro, e não dos protocolos colocados em prática em estados e municípios, que precisaram recorrer ao STF para fazer valer o preceito constitucional de zelo pela vida.

Bolsonaro atacou ainda o passaporte vacinal, cuja desobrigação se tornou o novo elemento de mobilização da sua base de apoiadores, substituindo a função que já foi da cloroquina e de outras bandeiras no discurso negacionista, como a recusa ao isolamento social.

Em seis minutos de fala lida e mal pronunciada, com seus típicos atropelos de dicção, gravada antes de viagem para o litoral onde passa férias, em Santa Catarina, o presidente não proferiu qualquer sentença que não se possa colocar sob suspeição, como, por exemplo, a de que teria apoiado um auxílio emergencial robusto e com isso impedido quebradeira e crise financeira maior ainda.

Também isso é irreal. Bolsonaro e Paulo Guedes (Economia) queriam uma ajuda de R$ 200, e não de R$ 600, como o Congresso acabaria aprovando.

Enfim, o presidente aproveitou o holofote para se defender do que é indefensável. A esta altura, à exceção dos menos de 20% que ainda lhe devotam fé cega, ninguém crê totalmente no que o chefe do Executivo diz a respeito do que fez ou deixou de fazer antes, durante ou depois da pandemia.

Mesmo a declaração segundo a qual o governo está há três anos sem corrupção é facilmente desmontável, bastando-se, para isso, consultar rapidamente qualquer site noticioso para constatar que o presidente não apenas é pessoalmente investigado em quatro inquéritos no STF e no TSE, como também transigiu com figuras como o ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), indiciado pela PF por suspeita de se beneficiar de candidaturas de laranjas, mas só demitido do governo em dezembro de 2020.

Outra que não resiste a um teste de realidade é a de que o presidente trouxe água para o Nordeste por meio da Transposição. Ora, a obra hídrica de integração das bacias do São Francisco é engenharia que atravessou governos, cada um contribuindo para que a transposição avançasse. Bolsonaro, sozinho, não fez muita coisa.

Coube ao presidente inaugurar um ou outro trecho, assim como, antes dele, já haviam feito Dilma Rousseff e Michel Temer. Mas essa história não coube nos seis minutos de discurso.

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