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Michel Temer: "Novo presidente deve pacificar o país e zerar o passado"
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Michel Temer: "Novo presidente deve pacificar o país e zerar o passado"

"O presidente deve pacificar o país, chamar todos os brasileiros e fazer um grande pacto. Vamos zerar o passado e vamos reconstruir o Brasil", argumentou, em entrevista exclusiva ao O POVO por telefone
Tipo Notícia
Capa Temer (Foto: .)
Foto: . Capa Temer

Há quase uma semana de férias em Aquiraz, na região metropolitana de Fortaleza, o ex-presidente Michel Temer (MDB) defendeu o que, para ele, é tarefa prioritária de quem quer que vença as eleições presidenciais de 2022: pacificar o país.

“O presidente deve pacificar o país, chamar todos os brasileiros e fazer um grande pacto. Vamos zerar o passado e vamos reconstruir o Brasil”, argumentou, em entrevista exclusiva ao O POVO por telefone.

Temer analisou ainda o cenário político deste ano e admitiu que as chances de que um nome da terceira via se sobressaia num quadro pulverizado são mínimas.

Ex-vice-presidente alçado à condição de titular depois do impeachment de Dilma Rousseff (PT), o emedebista também comentou possível chapa Lula/Alckmin, que, caso se confirme, traria muitos benefícios para os planos do petista, apontou.

A respeito das críticas que Jair Bolsonaro (PL) vem sofrendo por não ter interrompido as férias de fim de ano para coordenar trabalhos e vistoriar ações contra enchentes na Bahia, que deixaram mais de 20 mortos e quase meio milhão de atingidos, Temer foi enfático: “Presidente não tem férias”.

“Esteja onde ele estiver”, continuou, “tem que estar trabalhando. Espero que esteja de férias, mas em permanente comunicação”.

Confira a seguir a íntegra da entrevista.

O POVO – Como o senhor avalia o cenário político para 2022?

Michel Temer – Eu acho o seguinte. Nós já chegamos em 2022 e vamos ter eleições. Isso é um primeiro ponto, porque você se lembra de que, em tempos recentes, falava-se que talvez nem houvesse eleições. Veja que as instituições estão tão solidificadas no Brasil que nós vamos ter eleições regulares. O segundo ponto é que realmente, há cinco meses, mais ou menos, teve início uma certa polarização entre duas candidaturas. Falou-se muito na chamada terceira via, que, a meu modo de ver, sempre foi mais do que uma homenagem a um candidato, mas uma homenagem ao eleitorado, que tem que ter várias opções. Pode optar por um polo ou por outro polo ou mesmo por um terceiro polo. Mas, com toda franqueza, há algum tempo, eu verifico que aquela hipótese de que os partidos lançariam pré-candidatos, e depois se reuniriam todos em torno de um único nome, está me parecendo muito difícil. Porque eu vejo que os partidos que lançam pré-candidatos vão se transformando em candidatos, ou seja, vai pulverizar muitos votos na chamada terceira via. Essa é a primeira realidade que vejo para este ano. O que vejo também como necessidade indispensável, ainda ontem falei com um jornalista sobre isso, é que é preciso harmonizar um pouco as coisas no país. O país não pode ficar nessa divisão permanente entre instituições e até entre brasileiros, até porque em primeiro lugar viola a própria Constituição. A Constituição determina a harmonia entre os poderes, entre as instituições, determina a paz entre os brasileiros, o que não significa que não pode ter divergências de ideias, de programas, de projetos e discutir. Mas nós chegamos a um ponto em que as agressões passaram a ser verbais, passaram a ser até físicas às vezes. Isso não é útil para o país. Ainda ontem recebi uma pergunta: o que o senhor acha que o novo presidente deve fazer depois da posse? Deve pacificar o país, chamar todos os brasileiros e fazer um grande pacto. Vamos zerar o passado e vamos reconstruir o Brasil.

O POVO – É uma tarefa prioritária?

Michel Temer – É a primeira das primeiríssimas necessidades do Brasil. Gostaria que todo e qualquer gesto conduza a uma relativa harmonia, por exemplo, entre os poderes. Isso é determinação da Constituição, mas causa um efeito extraordinário. Por quê? Porque o povo está cansado dessas litigâncias permanentes, desses mal-estares de natureza política. Que o mal-estar seja em torno das ideias, da disputa das ideias, mas não esse clima que se criou no país, que não é de agora, mas de muito tempo atrás.

O POVO – Esses nomes postos têm condições políticas de pacificar e promover esse pacto?

Michel Temer – Confesso que não sei dizer, são muitos candidatos. Espero que todos tenham isso na cabeça. Em primeiro lugar, apresentar um programa para o país, porque você não pode votar em candidaturas. Isso é uma coisa pouco civilizada. Tem que votar em candidaturas ancoradas em programas do que se vai fazer no país. E não são aqueles programas quilométricos, de 500 páginas, são programas de 20 ou 30 páginas. Em educação vou fazer isso, em saúde vou fazer aquilo. Então eu acho que estão faltando um pouco programas das candidaturas que façam o eleitor dizer que vai votar no candidato x porque ele pensa assim ou assado. E a segunda coisa: que eles todos pensem num pacto nacional depois da eleição. Primeiro, a disputa eleitoral, mas, terminou a eleição, um grande pacto. Você viu o que aconteceu com o presidente Biden nos Estados Unidos. Logo no dia em que venceu, pregou a pacificação no país e teve uma repercussão estupenda. Acho que nós precisamos fazer isso.

O POVO – O senhor falou de algumas dificuldades que a terceira via tem de se aglutinar em torno de um nome. Acha que essas dificuldades são sanáveis ou vão permanecer ao longo do ano?

Michel Temer – Pelo menos na avaliação que faço agora, eu acho um pouco difícil. Agora, você sabe também que essas coisas se modificam ao longo do tempo. E digo mais: há uma certa precipitação nas campanhas eleitorais. Não na formulação de nomes para candidaturas, aí é natural. Mas veja: eleição presidencial tem 45 dias, o candidato será lançado no final de agosto do ano que vem (deste ano). Esse é o primeiro ponto. O segundo ponto: as migrações partidárias podem dar-se até o final do mês de abril, portanto só depois de abril ou maio é que as coisas se tornarão um pouco mais definitivas. Não sei o que pode acontecer até lá. Espero que aconteça. Seria útil para o eleitorado, mas agora é difícil dizer.

O POVO – O senhor foi chamado a convite por Jair Bolsonaro num momento de dificuldade do presidente, que atravessa agora, no caso das enchentes na Bahia, um período sob críticas. Acha que o presidente teria de ter agido de uma maneira diferente em relação a isso?

Michel Temer – Naquele momento, como você disse, eu fui chamado pelo presidente, que solicitou um auxílio e eu prestei. Foi uma coisa muito rápida. Começou às 20 horas de um dia e terminou às 15 horas do dia seguinte. Foi uma pacificação entre os poderes. Agora, neste momento, o que tenho observado é o seguinte: ele tem dito que está mandando recursos para lá, o que é fundamental. Acho que, mais do que nunca, em face daquela calamidade que lá ocorre, é preciso destinar o maior potencial de recursos para a Bahia. Se ele estiver fazendo isso, acho que está correto. Se não estiver fazendo, está incorreto. Essa é minha avaliação.

O POVO – Mas o presidente deveria interromper as férias para ir até lá ou não?

Michel Temer – Ele está exatamente de férias? Não sei dizer se ele está de férias, como é que é isso. Ainda não tenho informações. Sei que ele foi para o litoral.

O POVO – Isso, está de férias no litoral de Santa Catarina. Acha que seria o caso de interromper?

Michel Temer – Assim, presidente não tem férias. Esteja onde ele estiver, tem que estar trabalhando. Espero que esteja de férias, mas em permanente comunicação. Não sei se haveria necessidade de um gesto simbólico, que ele viesse dizer: estou em férias, mas vou interromper as férias. Ou seja, estou em férias, portanto deixei de ser presidente nesses dias. É preciso examinar concretamente. Porque o presidente administra de onde estiver.

O POVO – Como vê a possiblidade de uma chapa entre Lula e Alckmin?

Michel Temer – Eu vejo que há um certo tumulto. Começou de um jeito há poucos dias, pelo menos pelo noticiário que vi ontem, mas parece que está se modificando um pouco o rumo. Eu não sei. Que é bom pro Lula, não tenho a menor dúvida.

O POVO – É bom para o Alckmin?

Michel Temer – Não sei dizer, confesso que não sei o que o levou a isso. É uma avaliação muito pessoal dele, que seria candidato a governador. Mas ainda não tem definição. Embora tenha tido aquele jantar, não há definição dele ou qualquer declaração formal.

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