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Coisas legais para fazer em 2020
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Coisas legais para fazer em 2020

Tipo Crônica

Agora que viramos a página do calendário e por todo lado há pessoas se matriculando em academias ou prometendo terminar aquele curso de jardinagem adiado por 365 dias, talvez tenha chegado a hora de elencar coisas inadiáveis para 2020, ano redondo que convida à retomada de práticas esquecidas no tempo.

Por exemplo, voltar a escrever uns para os outros mensagens que depois serão lidas numa plataforma que permite envio e recebimento de texto, sistema ao qual nossos antepassados deram o nome charmoso de "email". É fácil de usar. Diferentemente do Whatsapp e outros aplicativos de conversação instantânea, não requer atenção imediata e permanente, tal como quase toda a comunicação atual, baseada na ideia de disponibilidade total e indistinção entre público e privado.

Neste novo ano, antes de batucar na tela do celular, pergunte a si mesmo: isto poderia estar num email? Se a resposta for sim, escreva o email. Se for não, escreva da mesma forma. Se for urgente, existe no mercado uma tecnologia disponível que conecta duas ou mais pessoas que precisam estar em contato. Chama-se telefone. Mas ainda prefiro o email. As vantagens são muitas: mais longos, refletidos e, assim como as cartas de antigamente, sempre podem se extraviar ou serem esquecidos, o que em alguns casos é um benefício.

E por falar em atenção, acho que devemos aproveitar 2020 para colocar em atividade uma economia exclusivamente monofocal. Que vem a ser isso? Resumidamente, consiste em deixar de lado essa besteira de que é "cool" desempenhar muitas tarefas ao mesmo tempo, dia e noite, mostrando-se sempre mais eficiente e produtivo à medida que nossas horas de sono diminuem.

Aliás, eis aí uma coisa fora de moda e até cafona que precisamos resgatar urgentemente: dormir. Fechar os olhos, descansar e dormir. Estar offline por ao menos oito horas. As pessoas têm preconceito contra o sono. Melhor dizendo: contra quem dorme. Eu sei o que é isso. Sofro na pele diariamente desde que me entendo por gente.

Sinto a reprovação coletiva me perseguir como uma vendedora de cartões de crédito sempre que entro no supermercado às 11 horas da manhã com a marca do colchão impressa na bochecha, os cabelos desgrenhados e os olhos inchados. É preciso dar um basta nesse estigma social: sim ao sono prolongado e sem preocupações, de preferência um que só me faça acordar em 2022. Não a essa romantização da cultura da insônia e do corpo-máquina.

Finalmente, não posso terminar sem tocar neste assunto espinhoso: a roupa amassada. Gente, é 2020, primeiro ano da segunda década do século XXI. Superamos a ombreira, o pagode dos anos 1990, a tatuagem de tribal, a banheira do Gugu e a Copa de 2014. Mas a roupa amassada continua sendo um tabu. Aderir ao vestuário sem engomar não é apenas ecologicamente correto, é um estilo de vida.

No Ceará, então, é questão de sobrevivência. Afinal, a gente precisa tomar um banho antes de passar o ferro e outro depois, desperdiçando um volume d'água que poderia encher dez açudes ou manter um perímetro irrigado no sertão. Se puder desejar algo a todos neste início de temporada, portanto, é isto: mais camisa amassada, por favor.

Foto do Henrique Araújo

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