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De Celsinho a Friedenreich: o racismo sempre tem espaço no futebol
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

De Celsinho a Friedenreich: o racismo sempre tem espaço no futebol

Tão antigo quanto o futebol no Brasil, o racismo contra atletas mostrou as caras novamente. Celsinho, do Londrina, acusa dirigentes do Brusque de injúria racial em plena disputa na Série B
Celsinho, que em 2013 foi jogador do Fortaleza, acusa dirigentes do Brusque de injúria racial (Foto: Fábio Lima / O POVO)
Foto: Fábio Lima / O POVO Celsinho, que em 2013 foi jogador do Fortaleza, acusa dirigentes do Brusque de injúria racial

Palavras são poder. É na utilização delas que expressamos dores, alegrias, amor, dentre outros sentimentos. Elas são capazes de mudar o dia de uma pessoa de forma positiva, mas também são capazes de arruinar a mente de outra, caso sejam mal utilizadas.

No futebol, o valor delas varia bastante a partir de quem as utiliza. Se um torcedor chama um atleta de perna de pau, por exemplo, aquilo tem menos peso do que se fosse um técnico tratando um jogador da própria equipe assim. Há palavras, entretanto, que machucam, independentemente de onde elas saem. 

“Vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha” é um das combinações de palavras que machucam, mas não somente isso, são criminosas. Foi assim que o meia do Londrina, Celsinho, alega ter sido chamado no último sábado, 28, por um espectador no duelo diante do Brusque-SC, pela Série B do Campeonato Brasileiro. Como o jogo foi realizado de portões fechados, apenas a diretoria do clube mandante podia estar presente no estádio.

Não é comum que atletas sejam xingados com ofensas ao cabelo no futebol brasileiro, mas Celsinho não é o primeiro jogador neste país a ter o cabelo afro e a ser diminuído por utilizar-se da naturalidade dos seus traços e da sua ancestralidade. Aliás, esse é um dos crimes mais antigos e ignorados do futebol. Arthur Friedenreich que o diga. 

A primeira grande estrela do futebol no Brasil teve de alisar o cabelo e se maquiar para estar em campo. Mais de 112 anos depois, ainda parece que é isso que os atletas precisam fazer para serem aceitos no meio do futebol, caso contrário, são caçados por isso, como Celsinho está sendo. O atleta do Londrina, somente nesta Série B de 2021, já foi alvo de racismo pelo cabelo natural em duas ocasiões. Ambas ocorreram em transmissões de rádio e, nas duas, os traços pretos do atleta foram diminuídos e tratados como algo ruim e sujo. 

Falei sobre o poder das palavras porque foram elas as utilizadas para ferir e machucar. Após o crime, Celsinho chegou a ser acusado, por meio de uma nota oficial do Brusque, de "falsa imputação de racismo". Com as palavras, o homem negro no futebol foi ofendido e marginalizado, sem que ninguém fosse incriminado por isso além, claro, do próprio meia. 

Casos como o de Celsinho me fazem questionar o que eu faço num meio como esse do futebol. Não sou bem-vinda por ser mulher, não sou bem-vinda por ser feminista e, mesmo se eu fosse homem, não seria bem vinda por ser preta, mesmo que eu não tenha a pele retinta. Não somos bem-vindos em quase lugar nenhum. 

Diferentemente de nós, o racismo possui um grande espaço no futebol. Sempre possuiu, desde que Charles Miller trouxe a pelota para estas terras. E é exatamente por isso que eu busco meu lugar nesse universo racista, elitista e misógino. Na resistência, ocupando um lugar que eles dizem não ser meu, eu espero que um dia tenham tantas e tantos de mim nesse espaço que seja impossível para aqueles que não nos aceitam continuarem por aqui. 

Foto do Iara Costa

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