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Memorial do Bordado
Foto de Izabel Gurgel
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Jornalista, leitora, professora. Criou e faz curadoria das séries A Cozinha do Tempo e Cidade Portátil, dentre outras atividades.

Memorial do Bordado

Encontros de trabalho. A primeira vez com bordadeiras do Jardim Iracema foi a convite do Criança Feliz, que teve a iniciativa de realizar encontros delas para bordar, conversar. As mães e avós que iam deixar, buscar e por vezes esperavam as crianças terminarem as atividades na casa-sede do projeto, na Gaudioso de Carvalho.

Uma tarde na biblioteca, que é comunitária. Uma alegria ver, com elas, o livro sobre o guarda-roupa da artista mexicana Frida Kahlo. Afirmamos a sofisticação de saberes ali reunidos, com exemplos todos feitos por mãos anônimas no Ceará: rendas e bordados vindos de Canoa Quebrada, Icó, Tauá. Um mapa da abundância. Para aprender a ver no modo fartura. Como bonita floração de caju.

O chamado para bordar deu livro, organizado por Isabel Cristina Cardoso. Feito a mão pela artista Alba Alves, mostra trabalhos e narrativas das bordadeiras. Primeira edição, em 2018, foi castanha assada no flandre. Deu tempo nem esfriar. Rendeu a série sobre as sabedorias do escutar a terra, semear, plantar, criar o mundo: bordados para o Museu do Caju, na Jurema. Deu a exposição "Ponto por ponto, linha por linha, palavra por palavra", sobre ler, bordar e outros modos de desenhar o mundo, no CCBNB que, você sabe, ocupa o que foi o Mercado Central, cujos corredores de rendas e bordados fazem parte do jardim dos nossos olhos. E foi adubo água sol e sombra para o Memorial do Bordado, aberto em 2019, rua Alberto Ferreira, 564 A. Em diferentes condições de uso, o endereço abriga a Casinha de Cultura Patativa do Assaré Ave Feliz e a biblioteca Mundo Jovem, dentre outras coisas.

Sabe aqueles conjuntos de latas de alumínio outrora muito usados em certas cozinhas, espaços historicamente explícitos que, no horizonte embaçado do que existiu como classe média, pode passar dos móveis de fórmica pra mesa e arca colonial antes de se terminar a farofa de miúdos? Cito os conjuntos de latas pra dizer que o Memória do Bordado é dentro da Casinha Patativa, que é dentro do Centro da Juventude. Assim um bordado cujos primeiros pontos ficam sob quilos do ir-e-vir da agulha e da linha. Acho que chama rococó. Posso estar errada. No Memorial, está certinho. Mestra das professoras, Lúcia Ferreira deu aulas e as bordadeiras fizeram, sobre um desenho comum, repetido em tecido igual para cada uma, uma espécie de irrepetível folha de livro com amostras e nomes dos pontos de bordado.

É um corredor miúdo o Memorial, com uma curva à esquerda, cantinho mais largo pouca coisa. Reúne mais de 40 trabalhos. Todos com nome das donas das mãos, quase sempre anônimas no ofício de tecer o mundo. E quatro placas maiores, como guia pra não se perder na vastidão que a imaginação abre quando a gente se vê ante o "Novelo do Tempo", "Memória e Identidade", "Memórias e Canções da Infância" e "Bastidores poéticos", com canções de trabalho.

Foto do Izabel Gurgel

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